Sede de concelho 19 anos ainda no século XIX, Izeda é hoje apenas freguesia e a única vila do concelho de Bragança. Enquanto o IP4 é um autêntico estaleiro, é por muito sinuosas estradas nacionais e municipais que se percorrem os mais de 40 quilómetros que separam a vila de Bragança, onde a população tem de ir amiúde para tratar de assuntos e da saúde. Por isso, o Centro Social Paroquial de Izeda ganha uma importância extra na região, pois não apenas acolhe, cuida e ajuda os idosos daquela zona do concelho brigantino, como presta auxílio a toda a comunidade da vila… e não só.
Para além das respostas de Lar, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário, a instituição presidida pelo pároco Fernando Fontoura ainda disponibiliza alguns serviços à população como recolha de produtos biológicos e de cardiologia.
Foi há uma década que um grupo de pessoas da vila decidiu criar uma instituição que prestasse algum apoio a uma população cada vez mais idosa, mais sozinha e mais desamparada.
“E chegou com 20 anos de atraso”, assevera Carlos Touça, do grupo fundador, primeiro tesoureiro da instituição e actual elemento da Direcção.
“Como se sabe, isto é uma região com população sobretudo idosa e por isso mesmo, isto veio com um atraso de 20 anos… Uns anos antes já se tinha a noção de que as carências e o envelhecimento da população exigia uma resposta e a equipa, aproveitando a ida para a Junta de Freguesia, começou logo a trabalhar neste projecto em parceria com o pároco da altura”, recorda Carlos Touças, acrescentando: “Inicialmente não se sabia se ia ser Santa Casa da Misericórdia, Lar, ou Centro Social Paroquial, mas pensou-se que era necessário. E repito, veio, no mínimo, com 20 anos de atraso!”.
São quase 60 utentes nas três respostas sociais que a instituição dá – 32 em Lar, 10 em Centro de Dia e 15 no Apoio Domiciliário –, apoiados por uma equipa de 25 funcionários, que inclui ainda os elementos da Empresa de Inserção que o Centro criou em 2009.
Izeda, segundo o Censos de 2011, tem 1006 habitantes, mas o universo de população que habita a área de influência do Centro Social Paroquial abrange cerca de cinco mil pessoas. Uma população cada vez mais envelhecida e só, que tem que passar as agruras de rígidos Invernos e de quem tudo está muito longe. No sentido de alargar a resposta a mais pessoas, os responsáveis pela instituição avançaram para a realização de obras de ampliação do Centro, com o propósito de aumentar a capacidade em Lar.
“Esta é uma instituição recente, mas ficou sempre muito limitada em termos de espaços para poderemos dar um mínimo de qualidade às pessoas, seja no atendimento, seja na recepção e acolhimento”, começa por dizer o padre Fernando Fontoura, prosseguindo: “Porque queremos ter um projecto de qualidade, até porque só assim poderemos sobreviver no futuro, e assim podermos apresentar uma instituição de primeira linha neste sector, o que é sempre um pouco limitado no Interior, mas as que tiverem as melhores condições poderão ser mais procurados. Verificando todas essas lacunas, decidimos fazer um investimento que passa pela ampliação da estrutura para mais 11 clientes, para dar condições mais dignas e até por causa do processo de qualidade que estamos a implementar”.
Sem estar em processo de certificação, a instituição está de per si a instituir métodos e processos e a melhorar as infra-estruturas no sentido de prestar um serviço com melhor qualidade. Sobre o projecto que está em curso de melhoria das instalações, o padre Fontoura, como é conhecido, explica: “Ao nível das obras de ampliação e remodelação do edifício, que apesar de novo tem lacunas várias e uma estrutura muito limitada para os serviços que nos são pedidos, seja do Lar, do Apoio Domiciliário, ou do Centro de Dia, o nosso objectivo passa por realizar estas obras para darmos mais qualidade ao nosso trabalho. Sabemos que o investimento realizado não é colmatado pelo aumento do número de clientes fruto da ampliação, contudo, o nosso objectivo não são os lucros, nem aumentar o nível económico da instituição, mas prestar com mais qualidade esses serviços, mesmo sabendo da limitação financeira que a intervenção nos vai criar no futuro”.
SUSTENTABILIDADE MODERADA
Com o País a viver dias difíceis, as IPSS são cada vez mais solicitadas pela população, mas os seus recursos são escassos, o que muitas vezes coloca em causa a sua sustentabilidade.
Orçadas em 700 mil euros, a obras exigem que a instituição recorresse ao crédito bancário.
“Fizemos um empréstimo de 500 mil euros, mas vamos necessitar de mais, porque como em qualquer obra surgem sempre outras situações… Depois temos que adquirir o equipamento que não estava contemplado no orçamento original”, argumenta o padre Fontoura, que o SOLIDARIEDADE encontrou de mangas arregaças a dar instruções aos operários.
O Centro avançou para as obras com um projecto aprovado no PRODER no valor de 86 mil euros, mas os responsáveis creem que mais de 600 mil euros terão que ser suportados pela instituição.
Vivendo exclusivamente das comparticipações da Segurança Social e dos utentes, a instituição fica um pouco limitada, mas mesmo assim o presidente assegura a sustentabilidade da mesma.
“Há débitos, mas a nível da gestão corrente do ano não temos resultados negativos e vão dando para uma sustentabilidade moderada sem intervenções de fundo. Temos as contas equilibradas, não temos um défice de tesouraria e isso também nos permitiu avançar para o empréstimo bancário. Agora, se quisermos prestar um serviço com todas as exigências que a Segurança Social, por vezes, nos faz já não será assim tão fácil… Dou-lhe o exemplo, das exigências na questão do número de técnicos e colaboradores que é despropositado”, lamenta o padre Fontoura, acrescentando: “Em relação à sustentabilidade, gostava de frisar que nunca se vê propostas claras para a sustentabilidade destas instituições. Seria bom algumas destas instituições poderem também gerar algumas receitas em prestação de serviços, mas, muitas vezes, a Segurança Social impede-nos de o fazer por causa dos protocolos que temos. Outra situação para alcançar melhor a sustentabilidade era a legislação permitir às IPSS produzir energia e ter o retorno dessa energia. E isso não passa de uma questão legislativa…”.
No entanto, o presidente do Centro Social Paroquial de Izeda está convencido que o futuro passa pelas obras que a instituição está a realizar: “É esse aumento de utentes que nos vai ajudar a comparticipar as obras. Foi sempre nessa perspectiva, de que o investimento e o empréstimo bancário fosse liquidado em 10 anos. Obviamente, se tivermos outras ajudas que ajudem a baixar o nível de investimento tanto melhor”.
PÓLO AGLUTINADOR
As crescentes necessidades da comunidade servida pela instituição relevam ainda mais a importância da instituição.
“Basta ver que a instituição gera mais de 20 postos de trabalho e que são quase 50 pessoas que giram em torno disto”, atira de pronto Carlos Touça, que aprofunda a sua perspectiva sobre a questão: “Depois há o apoio na saúde, na formação, até porque a sede de concelho está a mais de 40 quilómetros e agora ainda se vai fazendo, mas no Inverno, com as geadas e os nevões, é muito complicado para estas populações. Estão-nos a tirar tudo e isto é um pólo aglutinador, mas se isto não existisse era o caos ainda maior do que já é”.
Por isso mesmo, é vontade dos responsáveis pela instituição aprofundar algumas das valências, mas nem sempre é fácil.
“O Serviço de Apoio Domiciliário é algo que estamos a tentar trabalhar, mas também temos a dificuldade de as pessoas aceitarem a ajuda. Para além de muitas dessas pessoas não quererem sair das suas casas para irem para um lar, há ainda uma mentalidade muito enraizada nas pessoas em aceitarem e serem ajudadas”, comenta o pároco, revelando: “Esse é um projecto que queremos incrementar, prestando, logo que houver condições, todos os serviços e mais alguns para dignificar a vida das pessoas. Aqui na instituição, o nosso projecto de futuro, e por isso estamos a efectuar estas obras, é poder trabalhar a nível do desenvolvimento e actividades das pessoas”.
ESTIMULAÇÃO COGNITIVA
No ano que se assinala na Europa o Envelhecimento Activo, o lema da instituição é, precisamente, «Pela formação, reabilitação e envelhecimento activo». E apesar de a formação não ser um dos vectores de actividade do Centro, os outros dois são para ser desenvolvidos o melhor possível.
No entanto, Mariza Lopes, directora técnica da instituição, afirma ter-se deparado com barreiras quase intransponíveis
no sentido de promover um envelhecimento activo, uma reabilitação adequada e, especialmente, uma prevenção daquilo que é um flagelo entre a população mais idosa do Interior, as doenças neuro-degenerativas.
“É, de facto, muito difícil, porque há um grande diferencial entre as necessidades que detectamos e as que são sentidas pelo próprio idoso. Eles por vezes acham-se ainda com todas as suas capacidades, mas nem sempre é assim. A nível de Serviço de Apoio Domiciliário é um objectivo futuro, para além do alargamento a mais clientes, melhorá-lo, não ter apenas os serviços tipificados. Por exemplo, agora já introduzimos serviços inovadores. A dietista, o enfermeiro e a fisioterapeuta fazem visitas mensais, já com o intuito de sensibilizar a população idosa para as suas problemáticas e para fazermos prevenção, evitando que as situações cheguem a pontos em que a prevenção já não seja possível, mas apenas a cura ou a manutenção da problemática. O problema é que a mentalidade e a formação dos idosos ainda não está virada para conceitos de prevenção e há sempre uma certa desconfiança”.
É nesse sentido que o Centro Social Paroquial de Izeda está apostado em continuar a inovar nas respostas aos idosos da região.
“A nível de Lar e Centro de Dia também queremos implementar um projecto de estimulação cognitiva aberto à comunidade, principalmente pelo elevado número de demências, até porque está previsto estatisticamente que continuem a aumentar as doenças neuro-degenerativas”, sustenta o padre Fontoura.
Este é, segundo a director técnica da instituição, um problema crescente e que exige novas soluções.
“Aqui temos mais a realidade de o idoso já entrar com essas patologias e não de surgirem após a entrada no Lar. As pessoas e as famílias não se apercebem e não estão sensibilizadas para esses problemas e quando aqui chegam a prevenção já não faz sentido, pelo que só podemos utilizar terapias de reabilitação ou manutenção”, sustenta Mariza Lopes, que faz um alerta: “As políticas têm que mudar seriamente. Antigamente punham-se os idosos em asilos, depois isto foi evoluindo e melhorando a nível de serviço técnico e especializado… Agora, devido ao aumento da esperança média de vida e ao crescimento do número deste tipo de patologias que são muito específicas de trabalhar e que
requerem recursos humanos para serem bem trabalhadas, exige-se novas soluções… E para que se alcancem resultados positivos e benéficos têm que ser trabalhados por técnicos especializados e em grupos pequenos. Ora, isto exige um quadro técnico brutal e que é insustentável para uma instituição. Penso que a nível de Governo e até das próprias famílias há que mudar um pouco a sua visão em relação a este assunto, mas isso tem custos”.
Para a Mariza Lopes está fora de questão colocar um técnico a trabalhar 30 pessoas dementes, pois estas doenças requerem uma avaliação muito precisa.
“Nós vamos fazê-lo, mas não tão especificamente… Vamos criar um plano, de acordo com a fase e a avaliação da pessoa, para ter, por exemplo, reabilitação cognitiva três vezes por semana, duas ou, nos casos mais graves, cinco e apenas uma hora por dia, pois mais do que isso não resulta”, revela a técnica sobre as intenções do Centro, continuando: “E a nível do Apoio Domiciliário é gastar algum tempo, mas que será um ganho futuro, na formação dos idosos em casa e das famílias, para estarem sensíveis a determinados sintomas”.
Soluções à medida das possibilidades, mas muito necessárias numa região em que os idosos são cada vez mais os únicos que a habitam.
Pedro Vasco Oliveira (texto e foto)
Data de introdução: 2012-05-13