A política é um terreno extremamente propício, talvez o mais propício, aos sonhos e às desilusões. A História está cheia de exemplos de como os povos embarcam eufóricos em sonhos e despertam amargurados em desilusões, sendo certo que quanto mais apetecíveis são os sonhos, mais difíceis de suportar são as desilusões.
Vem isto a propósito dos problemas sociais e políticos por que, desde há dias, está passar o Paraguai, país situado no centro da América do Sul, independente desde 1811, com 450.000 quilómetros quadrados de superfície e aproximadamente sete milhões de habitantes.
Desde a sua independência, a história do Paraguai é um desfilar de sonhos desfeitos por confrontos internos e externos mais ou menos sangrentos, intercalados apenas por um longo período de tempo, correspondente aos anos da ditadura de Alfredo Strosesner que governou o país com mão de ferro entre 1954 e 1989. O fim do seu regime ditatorial trouxe alguma esperança ao povo do Paraguai, e só dizemos alguma, porque o país continuou a ser governado pelo partido que tinha sido a base de sustentação daquele ditador, o Partido Colorado. Até que, em 2008, as eleições presidenciais foram ganhas por Fernando Lugo. Era a vitória de um homem que prometia uma verdadeira viragem na história política do Paraguai. E a grande maioria do o povo acreditou piamente nessa viragem.
Na América Latina, onde a chamada Teologia da Libertação conheceu a sua expressão mais visível, a notícia do triunfo de Lugo não foi surpreendente de todo, mas tratou-se, mesmo assim, de uma estreia. Casos de padres envolvidos militantemente na luta política, quase sempre ao lado da esquerda, foram e são muitos. Mas um bispo que deixa as sua funções e vence uma eleição presidencial à frente de uma coligação de esquerda foi um acontecimento histórico.
O chamado “bispo dos pobres” assumiu o poder político num ambiente de euforia, de tipo mais ou menos messiânico, o que constitui sempre um desafio perigoso. Sobretudo quando se trata de liderar uma coligação e, pior ainda, quando se tem de enfrentar acusações graves de carácter pessoal, no que toca a alegadas responsabilidades parentais. A imputação de culpas na morte de alguns polícias e agricultores, num caso muito mediatizado, foi o pretexto final para que o senado da República votasse, por larga maioria, a sua demissão. A imagem do presidente, ex-bispo dos pobres, ficou irremediavelmente manchada. Mais uma desilusão…
José da Silva
Data de introdução: 2012-07-09