Nasceu Associação de Solidariedade Social de Oliveira de Frades, em 1987, mas ainda antes de iniciar actividade, em 1989, alterou a denominação para ASSOL – Associação de Solidariedade Social de Lafões, envolvendo assim os concelhos de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul.
Trabalhar a promoção das pessoas com deficiência destes três concelhos é o objectivo primeiro da instituição e, desde início, a aposta foi em metodologias inovadoras e que não fazem muita tradição no panorama nacional.
“A inclusão social ainda é entendida como algo que damos às pessoas e não como um direito que essas pessoas têm. E muitas das nossas organizações não acreditam nisto e optam por criar serviços para as retirar da sociedade em vez de criarem serviços para elas estarem na comunidade”, sustenta o director-executivo Mário Pereira, explicando: “A ASSOL não assenta tanto em equipamentos físicos, mas mais em ideias e em parcerias”.
E porque Oliveira de Frades não tinha, nem tem, uma população que justificasse “um projecto autónomo nesta área e desta dimensão”, a instituição decidiu abranger aqueles três concelhos, estendendo ainda alguma da sua acção aos vizinhos de Castro Daire e de Tondela, onde desenvolve alguns projectos específicos em núcleos da instituição.
DO BERÇO À VELHICE
O arranque de actividade deu-se em 1989 com a Formação Profissional, que hoje toca um universo de 100 formandos. Seguiu-se, em 1991, o “grande orgulho” dos responsáveis da ASSOL, o Projecto Integrado, que abrange um total de 250 crianças e todas as escolas dos três concelhos abrangidos. E ainda o primeiro CAO, em Oliveira de Frades, denominado Alexandre Correia. Um ano depois, abria o primeiro centro em S. Pedro do Sul, e, em 1995, nascia o Lar de Apoio José Pedro, que hoje acolhe oito utentes.
”O Lar funciona numa aldeia e inicialmente era para funcionar apenas de segunda a sexta, mas a falta de rectaguarda familiar obriga a que funcione todos os dias”, explica Mário Pereira.
Em 1997, a ASSOL cria a primeira rede de Famílias de Acolhimento, hoje “ainda são oito”, algo que a instituição gostaria de ver mais apoiado em alternativa aos lares residenciais: “Não posso querer que uma família fique com uma pessoa com deficiência profunda por 200 ou 300 euros, mas depois dou mil para ela ir para um lar!”.
Dois anos volvidos é criado o primeiro Fórum Sócio-Ocupacional, actualmente com 45 utentes, que é uma resposta que se destina a pessoas com doença psiquiátrica crónica incapacitante, isto é, pessoas com esquizofrenias e que ficaram incapacitadas”, explana o director-geral, que acrescenta: “Fomos desafiados para criar esta resposta que, no fundo, é um Centro de Dia para pessoas com doença psiquiátrica crónica”.
Em 2002 foi criado um novo centro em S. Pedro do Sul e em 2007 iniciou-se a resposta de Intervenção precoce, actualmente com quatro utentes.
Hoje, em CAO, a ASSOL tem 88 utentes, 18 dos quais fora dos acordos de cooperação, faz ainda o acompanhamento pós-colocação (laboral) a 34 pessoas com deficiência, com um universo de cerca de seis dezenas de funcionários e técnicos.
“A ASSOL tem nestes três concelhos uma rede de apoio que vai desde a intervenção precoce, portanto desde os 0, até aos 60 e tal anos. E, neste momento, utilizamos todos os programas de apoio que há”, revela Mário Pereira, que sobre o Projecto Integrado, a grande bandeira da instituição e das metodologias que defende, refere: “Fruto desse apoio à integração escolar das crianças com deficiência, na nossa região, não há ninguém com menos de 30 anos que não tenha tido colegas com deficiência na escola. E mesmo a montante, quando contactamos as empresas por causa de integrar uma pessoa com deficiência a resposta nunca é um não. As pessoas ganharam uma habituação que hoje é um ganho enorme para as pessoas com deficiência, que podem andar à vontade e não têm problemas”.
PROJECTO INTEGRADO
Este ganho do projecto lançado em 1991, leva Mário Pereira a defender as metodologias adoptadas há mais de duas décadas, apesar de ciente das críticas que as mesmas provocam.
“Este é um processo muito contestado, há muitas organizações que não acreditam nisto, mas nós acreditamos e notamos que acabou por ocorrer uma transformação que é muito fruto disso. Muitas pessoas alegam que a integração das pessoas com deficiência prejudica os outros, mas a avaliação que, neste momento, podemos fazer é que na nossa região não há nenhum abandono escolar. As escolas, aprendendo a dar atenção às crianças com deficiência, aprenderam a dar atenção aos outros. Isso, hoje, é um ganho absolutamente notável das escolas da região”, argumenta, concluindo: “Este é um dos projectos em que temos mais orgulho, porque em toda a região as crianças, independentemente da deficiência que tiverem, vão à escola”.
A Escola Inclusiva era um projecto da tutela, mas, Mário Pereira mostra-se céptico: “Neste momento não sei, foi um objectivo, mas agora não sei. As políticas do Ministério da Educação apontam para um retrocesso. A integração escolar é uma área ainda delicada”.
Porém, na ASSOL o objectivo da “promoção da inclusão social das pessoas com deficiência”, passa pela “inclusão escolar que é um dos caminhos mais importantes para conseguir isso”. Aos críticos, Mário Pereira deixa ainda mais um dado: “Um deficiente profundo não vai aprender mais para a escola, mas vai ganhar em socialização”.
E esta postura da ASSOL reflecte-se em tudo o resto, fruto de uma vasta rede de parcerias no tecido empresarial e em toda a comunidade.
“Em todas as actividades que fazemos o trabalho é voltado para a comunidade e para isso temos uma rede de parcerias muito alargada. Neste momento, são mais de 240 parceiros na comunidade que colaboram connosco e que suportam essa colaboração. Os nossos utentes andam todos por aí espalhados por todas essas parcerias. E a ASSOL fez e faz isso por uma questão de convicção. Nunca foi um caminho fácil, não é um caminho fácil agora, mas reconhecemos também que a comunidade olha para estas pessoas com «saudável indiferença». Hoje, as pessoas não estranham a presença das pessoas com deficiência e isso é um ganho importante para essas pessoas e para os seus familiares”.
ESTABELECER LIGAÇÕES
Todo este trabalho prende-se com os lemas da ASSOL, que são o «conectar pessoas» e o «dar mundos maiores».
“O nosso trabalho é criar apoios para as pessoas com deficiência poderem aceder às coisas comuns. Costumamos dizer que, mais do que um sítio que tem muitos serviços, nós somos uma plataforma logística, em que apoiamos as pessoas para a elas acederem. Isso faz com que o nosso trabalho na prática seja o de ligar as pessoas com o mundo. Alargar o mundo às pessoas, proporcionando que, em vez de ficarem num CAO, possam cumprir sonhos. Esta socialização é a rede de segurança das pessoas com deficiência. O nosso objectivo é, efectivamente, alargar-lhes o mundo e ligar as pessoas com esse mundo”, explica Mário Pereira.
E há ainda uma terceira premissa que guia a acção na ASSOL, que passa por «lidar com os sonhos» de cada um.
“Isso tem que ver com as metodologias que fomos adoptando. No Planeamento Centrado na Pessoa partimos dos desejos e sonhos das pessoas, da sua visão do futuro. Tradicionalmente planeia-se a partir do passado e das capacidades presentes… Mas, desde 2003, começámos sistematicamente a tentar ajudar as pessoas a realizarem a visão que elas próprias criam para o seu futuro. Não nos interessa tanto o que a pessoa já fez ou do que é capaz, mas sim os seus desejos ou sonhos. O que fazemos é criar apoios para a pessoa possa ir construindo essa sua ideia de futuro e do que gostava de fazer”, sustenta Mário Pereira, advertindo: “Uma coisa é apoiar a pessoa, outra é impor-se à pessoa, e este é muitas vezes o problema do técnico. A tendência é para que os técnicos imponham a sua vontade, mas aqui defendemos que cada um é que sabe o que é melhor para si. Pode não saber ler, não ter lido os mesmos livros que nós, mas dele, ele é que sabe. E a nós compete-nos ajudá-lo a realizar isso. Os sonhos funcionam como a estrela polar, a gente não a agarra, mas sabemos que ela está lá, é uma guia”.
Para além do Planeamento Centrado na Pessoa, outra metodologia adoptada na ASSOL é a Pedagogia da Interdependência, conhecida por «Gentle Teaching» (ensino gentil), cujo mentor foi John McGee.
Nesse âmbito, a instituição já traduziu e publicou algumas das obras de John McGee.
“Este ensino assenta essencialmente na igualdade entre as pessoas e em que todas as pessoas têm o mesmo valor, seja a pessoa com um grau elevado de deficiência ou o técnico mais inteligente. Isto baseia-se muito em tentar levar as pessoas a fazer o que é preciso sem nunca lhe dar ordens, o que faz baixar muito a intensidade dos ambientes. Isto é uma corrente que ajuda a criar um bom ambiente entre as pessoas”, esclarece Mário Pereira, autor de muitas das traduções.
As actividades de CAO versam essencialmente a encadernação, a feitura de sabonetes e velas e trabalhos de serralharia. Estes produtos são todos para venda ou utilização na instituição, para além de que há outras actividades que têm como destino empresas exterior à ASSOL.
QUALIDADE = EXCELÊNCIA
Com o mês de Maio chegou também à ASSOL a certificação de qualidade de nível Excellence, do EQUASS, o que, para o presidente da instituição, Carlos Rodrigues não é mais do que a confirmação da qualidade do trabalho que ali se desenvolve.
“Para além de ser uma marca, porque a ASSOL é uma marca, ela fica tanto mais valorizada quanto mais for reconhecida. E o facto de termos sido certificados com o grau de Excelência pelo EQUASS vem dizer que a ASSOL é altamente credível para cuidar das pessoas que tem a seu cargo. As pessoas sabem que esta é uma casa com qualidade. A certificação não é para nós, mas para as pessoas que são apoiadas. Pelo facto de sermos uma instituição certificada, portanto, altamente credível, as pessoas que gostam de ser solidárias com quem é solidário ficam muito mais vocacionadas para nos ajudar”.
E como se sabe, toda a ajuda é necessária nas instituições sociais. No caso da ASSOL, em termos de saúde financeira, Carlos Rodrigues é peremptório: “Nem febre tem”.
“A instituição está numa situação estável, mas também fazemos por isso, pois trabalhamos com objectivos económicos. Os responsáveis directos são altamente cuidadosos e funcionamos num mecanismo de contenção de despesas já há alguns anos e de não quebrar os financiamentos, que vamos conseguindo das diversas entidades. Depois, aproveitamos todos os programas que surgem, fazendo candidaturas as esses apoios. Não nadamos em dinheiro, mas aos nossos utentes nada é negado. Temos estabilidade financeira para todos vivermos com dignidade”, esclarece o presidente da instituição.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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