Perante um cenário de vazio «de qualquer apoio às crianças na vila de Fermentelos, cujos pais tinham como fonte de rendimento o trabalho de ambos e porque algumas famílias carenciadas tinham dificuldade em garantir as necessidades fundamentais dos seus descendentes, em 1980, um grupo de pessoas, na sua maioria mulheres, deitou mãos à obra e, de uma forma muito rudimentar, deu o primeiro passo para construir aquela que é hoje a Associação Fermentelense de Assistência (AFA), com o estatuto de IPSS», lê-se na resenha histórica da instituição do concelho de Águeda, publicada no sítio da mesma na Internet.
Como tantas instituições de solidariedade por este País, a AFA nasceu da vontade dos cidadãos em responder a uma necessidade da sua comunidade.
Surgia, assim, a AFA como resposta na área da infância, ainda numas instalações provisórias. Passados uns anos, com a mudança para o local onde agora se erguem as renovadas instalações da instituição, as respostas alargam-se e, em 1988, surge a primeira valência para a Terceira Idade, o Centro de Dia, e em 1993 surgiam as respostas de lar residencial e de Serviço de Apoio Domiciliário (SAD).
“Esta é uma instituição que tem vindo a crescer ao longo dos anos e, neste momento, ao nível da infância, somos das poucas instituições da região com lista de espera, especialmente em creche, e o nosso ATL continua cheio”, sustenta Carlos Lemos, presidente da AFA, revelando que o mesmo se passa com as respostas para idosos: “Na área da terceira idade, tanto o lar, como o Centro de Dia estão igualmente cheios. No que toca ao Apoio Domiciliário já estamos acima da capacidade”.
Volvidas duas décadas sobre a criação do Lar, a instituição passou por um processo de remodelação das instalações com o propósito de se adequar às normas da Segurança Social e de melhorar as respostas sociais.
“Estivemos a corrigir todas as situações para cumprirmos com a legislação em vigor para podermos tirar a licença de habitabilidade exigida pela Segurança Social. Foram obras profundas, pois esta é uma casa antiga, que teve que ser toda remodelada, para além da instalação do sistema de segurança contra incêndios”, conta o líder da instituição, que renovou mandato em Março.
Quanto à intervenção física na AFA, Carlos Lemos revela que foi feita com “dinheiros da instituição e algum apoio da população”. A Câmara Municipal de Águeda deu também um contributo importante, contando ainda a IPSS com o “apoio de algumas empresas, por exemplo no caso dos alumínios”.
O presidente da instituição releva “a ajuda da comunidade, o capital próprio e a autarquia de Águeda” que tornaram possível o melhoramento dos equipamentos.
Actualmente, a AFA, na área da infância, acolhe 50 crianças em creche, 45 em pré-escolar e outros tantos em ATL. Refira-se, que esta resposta, que continua a ser muito procurada em Fermentelos, vai ocupar o antigo edifício da Escola Primária, cedido pela Câmara Municipal de Águeda e que fica junto às instalações da instituição.
Em termos de terceira idade, o Centro de Dia recebe 20 utentes, o Lar Residencial 36 e o SAD auxilia 34 idosos. Para servir toda esta população, a instituição conta com um corpo de 58 funcionários.
Sendo um elemento essencial na coesão social de Fermentelos, aliás é a única IPSS na localidade, a AFA tem dado passos seguros no sentido de assegurar um futuro saudável para a instituição e, dessa forma, melhorar os serviços que presta.
Nesse sentido, as apostas da Direcção liderada por Carlos Lemos foram no sentido de obter a certificação de qualidade e ainda integrar o FAS3, com vista a garantir a sustentabilidade da instituição.
Em Junho recebeu a certificação de qualidade, mas o processo teve alguns percalços. “A primeira tentativa aconteceu há dois anos, mas foi um processo falhado, por vários motivos, mas com esta nova empresa, que tem dinâmica e que conseguiu transmiti-la à instituição, as coisas correram bem. Foi um processo que correu muito bem, as pessoas ficaram motivadas e é, sem dúvida, uma mais-valia para a instituição”, defende Carlos Lemos, que recorda algumas virtudes do processo: “A certificação de qualidade requer uma série de procedimentos que nos dão garantias de que os serviços são mais bem prestados e que há uma melhor organização burocrática. A certificação é, sem dúvida, uma mais-valia”.
Relativamente ao Formação-Acção Solidária 3, são os tempos difíceis que se vivem e a comunidade circunscrita que serve que levantam algumas reservas ao dirigente.
“A sustentabilidade é uma constante preocupação desta Direcção e o FAS3 está interligado com a certificação de qualidade. Ou seja, a sustentabilidade é, hoje em dia, a maior preocupação”, assevera Carlos Lemos, que especifica: “Quando as receitas são menores e os donativos são menores, temos que criar estratégias para que as coisas sigam o seu normal funcionamento e, na fase de obras, ainda precisámos mais dessas estratégias. É algo que pode vir a chamar a nossa atenção para alguns pormenores, o que para nós é igualmente uma mais-valia”.
Carlos Lemos foi reconduzido na presidência da AFA, mas nem tudo foram rosas. Há dois mandatos na Direcção (um como tesoureiro e outro como presidente), o dirigente não poderia, pelos estatutos, recandidatar-se. Contudo, a ausência de listas candidatas e um abaixo-assinado dos associados reconduziram Carlos Lemos na liderança da instituição.
“Como estive dois mandatos na Direcção, estava impedido de me recandidatar, mas como foi marcado o acto eleitoral e não surgiram listas candidatas…”, recorda, continuando: “Na Assembleia Geral houve um abaixo-assinado dos sócios a pedir que continuássemos na Direcção mais um mandato de dois anos, para concluir estes três projectos que pusemos em marcha”.
Carlos Lemos, presidente jovem como não é muito habitual ver-se nas IPSS, sente-se triste com a falta de candidatos, soltando um lamento: “Cada vez se nota mais que as pessoas estão afastadas destas responsabilidades. A falta de voluntários que queiram pegar na instituição não é bom e não é bom para qualquer instituição”.
Desde que está na presidência da AFA uma das preocupações de Carlos Lemos é a chamar a comunidade à instituição e levar a instituição à comunidade. E ao que parece já o conseguiu com elevados benefícios para a instituição.
“Houve sempre a preocupação de ligar a instituição à freguesia e à população, que estavam completamente afastados. Isso é algo que conseguimos, pois agora há um grande envolvimento entre a comunidade e a instituição”, sustenta, revelando: “Nos jantares de aniversário tínhamos uma média de 150 pessoas, mas no último já estiveram cerca de 400 pessoas, o que é uma vitória para a instituição, pois conseguimos nesse jantar a verba necessária para instalar um elevador nas nossas instalações”.
E como seria Fermentelos sem a AFA?
“Como costumo de dizer, esta é a casa mais importante de Fermentelos. Primeiro pelo número de pessoas que emprega, em que 90% são da terra, e depois por toda a assistência que dá ao grande número de utentes que temos. Isto demonstra a grande força da instituição e a sua importância na terra”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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