A vontade de servir a comunidade onde tinham sido identificadas algumas carências a nível social, especialmente a nível da Terceira Idade, levou os responsáveis pelo Centro Social de Cultura e Desporto de Aveiro (CSCDA 513) da Casa de Pessoal da Segurança Social e da Saúde decidissem criar uma Fundação que estende-se a acção social que a instituição já vinha desenvolvendo.
Foi em 2009 que o CSCDA 513 deu lugar à Fundação da Casa de Pessoal da Segurança Social e da Saúde do Distrito de Aveiro (FCPSSSDA), uma IPSS de cariz social, actualmente implantada em Aradas.
“O CSCDA 513 já tinha algum trabalho social de base, como o Serviço de Apoio Domiciliário para idosos, trabalho com crianças em CATL e também uma creche”, começa por referir Ana Correia, directora de serviços da instituição, relembrando: “Surgiu a ideia e o desafio de poder alargar o seu âmbito de actuação e a sua acção a nível social, já não para incidir unicamente no público-alvo, até aí os associados da Casa de Pessoal, mas sim junto da comunidade. Então, com o programa PARES, de alargamento da rede dos equipamentos sociais do anterior Governo, o CSCDA 513 resolveu avançar com uma candidatura para a construção de um Centro Social Integrado. O projecto foi aprovado, o desafio foi avaliado em rede e foi considerado como muito necessário para Aveiro”.
Nascia, assim, a Fundação com a extinção do CSCDA 513, um processo de passagem de testemunho que ainda está a ser ultimado, como explica a responsável da instituição: “Ainda não está concluído, pois não é um processo simples. O CSCDA deu lugar à Fundação e ficou só como CCD 513, onde é desenvolvida toda a actividade própria para os sócios da Casa de Pessoal da Segurança Social e da Saúde do Distrito de Aveiro, com várias actividades desportivas, recreativas e culturais e ainda ao nível da saúde. Com a criação da Fundação, tudo o que é acção social, com cariz sócio-comunitário, passou para a Fundação”.
Esta separação teve como grande propósito alargar o apoio que já prestava aos associados à população em geral.
“Até aí o CSCDA 513 tinha três respostas sociais viradas para a infância e a terceira idade, mas a Fundação alargou essa resposta com um Centro de Dia, um Lar Residencial para idosos, um Serviço de Apoio Domiciliário mais abrangente, com capacidade para mais 28 pessoas, além das 40 que já apoiava, e ainda mais uma creche”, revela Ana Correia.
A FCPSSSDA, no presente e a nível da terceira idade, acolhe 60 pessoas em Estrutura Residencial para Idosos, uma dezena em Centro de Dia e 40 utentes em Serviço de Apoio Domiciliário, sendo que tem capacidade para mais 28. Porém, a falta de Acordo de Cooperação não permite que a instituição dinamize o serviço para mais este número. A nível de Infância, a instituição rcebe 71 crianças em duas creches.
Relativamente às respostas dadas pela instituição, a directora de serviços lamenta o facto de não poder servir mais 28 pessoas em Apoio Domiciliário, mas reconhece que a valência Centro de Dia está pouco dinamizada devido a um desconhecimento das suas potencialidades por parte da população.
“O nosso Centro de Dia não é uma resposta convencional, é atípica, no sentido em que presta um serviço que vai ao encontro das necessidades dos idosos e das suas famílias, das necessidades, dos interesses e das expectativas”, sustenta a responsável, especificando: “Temos várias modalidades de acolhimento, pois temos o idoso que pode e que vem até aqui, almoça e permanece integrado nas actividades e na vida diária da instituição e depois regressa a meio da tarde a sua casa, mas temos também uma resposta voltada para aqueles que moram sozinhos e não têm ninguém em casa à sua espera e que só lá vão dormir”.
Ana Correia sublinha o facto de a Fundação disponibilizar “tudo o que são cuidados básicos de saúde, de animação ou de actividades sócio-culturais”, mas deixa um lamento: “Este é um Centro de Dia que queremos, cada vez mais, divulgar, porque, neste momento só temos 10 utentes, mas temos capacidade para 60. Esta é uma resposta que ainda está a ser muito pouco explorada pelas pessoas e penso que por desconhecimento. O nosso Centro de Dia presta uma série de serviços ao nível dos cuidados básicos de saúde, mas também se preocupa com outros factores, como o bem-estar e o envelhecimento o mais activo possível e com qualidade de vida”.
O concelho de Aveiro é o território preferencial da acção da Fundação, mas “abrange o distrito, porque há pessoas que vêm de diversos pontos do distrito e até do País”.
E nos critérios de admissão, “o factor geográfico também está contemplado, é que a proximidade conta imenso para se poder dar uma boa e mais célere resposta às pessoas”, argumenta Ana Correia, que exemplifica: “Ter um idoso em SAD que não seja do centro de Aveiro é difícil de apoiar, ou mesmo em Centro de Dia, por causa dos transportes. Em resposta de lar podemos e temos outra margem de abrangência para o distrito”.
Ainda em relação aos critérios de admissão, a responsável desmistifica uma ideia feita: “Existe muito a
ideia errada de que a Fundação foi criada para servir os trabalhadores da Segurança Social e da Saúde de Aveiro… De todo! A Fundação foi criada por iniciativa destes, de facto, mas porque tiveram necessidade de separar águas, ou seja, o que é recreativo, cultural e saúde do que é acção social. A única particularidade que pode existir no âmbito da admissão é, em caso de igualdade de critérios, no momento da escolha darmos prioridade ao associado, pelo serviço prestado à causa e à instituição onde trabalhou, No entanto, tudo isto está inscrito nos estatutos da Fundação”.
Lançada a primeira pedra em Setembro de 2009, o Centro Social Integrado foi inaugurado em Maio de 2011. De então até hoje, a instituição tem-se dedicado a colocar o equipamento a funcionar devidamente e aos ajustamentos necessários para um serviço de qualidade.
“Até ao momento tivemos prioridades que foram imensamente trabalhosas, desafios grandes a que tivemos que dar primazia nas diversas acções que foram programadas. A primeira foi o planeamento e planificação e a preparação da abertura deste equipamento, porque quando viemos para o equipamento tivemos que o colocar a funcionar e o primeiro ano foi basicamente a este nível. O segundo ano foi de aperfeiçoamento. Estamos com dois anos de funcionamento e os objectivos, agora sim, são os de abranger, com outra abertura e com outro olhar, os problemas da comunidade na qual nos inserimos”.
Apesar disto, Ana Correia mostra-se satisfeita com a actividade da instituição, que tem incidido especialmente na freguesia em que estão sediados e que fica às portas de Aveiro.
“Aqui na freguesia de Aradas, onde está o equipamento, temos respondido nas áreas que nos competem. Tentamos complementar ao máximo e da forma como sabemos melhor dar resposta aos problemas das famílias, que são principalmente ao nível de rectaguarda. Do apoio e do acolhimento das crianças, enquanto os pais estão ausentes de casa no trabalho, tal como colmatamos necessidades da terceira idade quando os familiares não podem assegurar os cuidados básicos do idoso”.
APOSTA NO FAS3
Dando seguimento ao plano traçado de, primeiro, tratar de colocar o equipamento em funcionamento e, depois, fazer os ajustamentos necessários, a instituição, preparando o futuro, decidiu apostar no FAS3.
“Temos como metas traçadas para esta Formação-Acção Solidária que possamos ter recursos humanos com mais formação e qualificação e mais envolvidos e empenhados nesta causa que é de todos, que é
servir cada cliente da melhor forma, porque se pode fazer sempre mais e melhor. Ou seja, consciencializar as pessoas que elas são, cada vez mais, parte integrante deste puzzle. Cada um de nós é uma peça deste puzzle e quando uma peça falha pode pôr tudo em causa… Portanto, cada elemento que trabalha nesta casa é peça fulcral deste projecto comum, que serve o bem comum e é de utilidade pública. E nós temos o peso, e isto é um peso muito grande, de conduzir da melhor forma que soubermos. E se não sabemos, porque ninguém sabe tudo, estamos cá para aprender e o FAS3 vai ajudar bastante, desde os corpos dirigentes aos colaboradores, que têm o dever de participar na gestão… E a nossa tem sido sempre uma gestão participada e partilhada”.
Para Ana Correia, integrar o FAS3 vai ser uma mais-valia para a instituição, que tem apenas quatro anos de existência.
“A ajuda de entidades que são isentas e externas é muito importante, porque têm um olhar que nós não temos, porque estamos muito envolvidos internamente com as questões, os problemas e o dia-a-dia. É algo que sozinhos não conseguimos alcançar com essa eficácia, pelo que acreditamos imenso no FAS3”.
Para além de mais, esta é uma formação que toca a dimensão da sustentabilidade, o que a responsável considera também muito importante, face aos tempos que o País atravessa.
“É muito importante, em especial face à conjuntura económico-social que estamos a viver e que abrange o indivíduo a todos os níveis. Temos verificado e sentido isso mesmo na pele, com a desistência de utentes, na infância, porque os pais ficaram desempregados, e, na terceira idade, com o abandono de alguns idosos que permaneciam na instituição… Neste momento, a instituição vive apenas de acordos de cooperação e das comparticipações das famílias, mas queremos arranjar respostas inovadoras que também nos permitam arranjar novas receitas e ajudem a sermos sustentáveis e o FAS3 vai ser fundamental nisso. Penso que nos vai ajudar bastante”.
E isto é tão mais importante, porque a vida da FCPSSSDA não tem sido um mar de rosas, bem pelo contrário, pois a instituição navegou mesmo em mares bastante agitados.
“Entretanto, fomos contemplados com uma linha de crédito, no valor de 500 mil euros, que nos vai ajudar bastante. Foi uma lufada de ar fresco, porque tivemos mais de um ano com um sufoco imenso, a não conseguir pagar aos fornecedores”, revela Ana Correia, que deixa um enorme elogio aos fornecedores da instituição: “A linha de crédito foi uma bóia de salvação, porque vai ajudar-nos bastante na questão dos pagamentos em atraso aos fornecedores, que merecem um louvor pela ajuda que nos deram. Durante um ano forma os nossos financiadores, não houve um único banco que nos quisesse emprestar dinheiro,
nesse período só devíamos dinheiro… E foram os fornecedores que souberam esperar, sabe-se lá como. A linha de crédito e o Fundo de Socorro Social, que também nos foi atribuído, foram uma grande ajuda para encontrar um equilíbrio. Agora estamos num desafogo um pouco mais visível, mas não dá para distrações e isso só nos obriga a uma melhor e muito rigorosa gestão. Sempre tivemos um grande controlo sobre as contas, mas é necessário manter um grande controlo interno, financeiro e orçamental”.
Relativamente a novos projectos, para além do FAS3, a Fundação está a apostar nas energias renováveis, com a implementação de painéis fotovoltaicos, e um outro de voluntariado.
Neste capítulo, Ana Correia é muito pragmática: “A Bolsa de Voluntariado que criámos no ano passado surgiu de uma forma informal e ainda não tem muita gente, mas este é um processo lento e que também queremos que assim seja, porque tem que ser muito cuidado e trabalhado”.
E para que não haja dúvidas, nem receios, a directora de serviços esclarece: “É um voluntariado organizado com formação, com a definição das funções e com limites muito bem delineados, porque eles prestam um serviço como qualquer colaborador. No entanto, não vêm ocupar postos de trabalho, nem exercer tarefas que são feitas pelos nossos funcionários. Neste momento, temos muito poucas pessoas, mas isto é para crescer lentamente, porque também não queremos fazer as coisas de forma precipitada e desorganizada. O voluntariado é muito nobre e tem que ser muito bem gerido”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
Data de introdução: 2013-09-17