Já se sabia que a morte de Bin Laden, ocorrida a 1 de Maio de 2011, não significava a morte da Al Qaeda. A sua liderança era realmente importante para o movimento, no que dizia respeito às grandes linhas da estratégia e à definição das prioridades. Mas, para os seus seguidores, Bin Laden era sobretudo um símbolo e uma espécie de garantia de unidade e de vitória na guerra santa contra o poder do mal, disseminado através do mundo pelos Estados Unidos e seus aliados.
Apesar desta importância e do peso de Bin Laden na Al Qaeda, não se pode dizer que esta organização cultivasse um modelo centralista, totalmente dominado pela sua figura e dela completamente dependente. Na altura do desaparecimento do seu líder incontestado, a Al Qaeda já tinha múltiplas ramificações, com mais ou menos autonomia, sobretudo em África, e mais particularmente no Magrebe. Em 2006, o grupo salafista argelino, que se intitulava a si próprio de “Pregação e Combate”, decidiu integrar-se na Al Qaeda, colocando-se sob o seu comando táctico e estratégico com o nome de Al Qaeda do Magrebe, AQMI, uma mudança de nome que coincidiu com um aumento significativo das operações levados a cabo em Marrocos e na Argélia.
Vem isto a propósito do atentado contra um centro comercial da cidade Nairobi, no Quénia, o Westgate, planeado e executado há dias por um grupo terrorista de origem somali, o Al Shabab, e cuja ligação à Al Qaeda é assumida pelos seus líderes. O atentado fez mais de setenta mortos, mas os terroristas garantem que mataram mais de uma centena de reféns
Desde há muitos anos que a Somália sofre os efeitos de uma violência endémica que desagregou por completo as frágeis estruturas de um país que nunca mereceu verdadeiramente o nome de estado. Primeiro, foram as guerras de carácter étnico e, a partir de 2006, uma guerra civil despoletada pelos chamados “tribunais islâmicos”, um movimento armado cujo objectivo era a criação de um estado dominado pela charia. A comunidade internacional acabou por intervir militarmente, desta vez através da OUA, e a Somália escapou por pouco à islamização pretendida pelo referidos “tribunais”. O Quénia participou e ainda participa nessa intervenção, e dezenas de pessoas inocentes pagaram agora, às mãos do Shabab, o preço dessa participação.
O problema é que, mesmo tendo perdido alguns operacionais no atentado, este braço da Al Qaeda em Africa já afirmou que não vai parar…
António José da Silva
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