Nos últimos dias, os Meios de Comunicação Social fizeram do Irão o grande tema da actualidade internacional. Primeiro, foi toda a expectativa criada à volta do resultado final das conversações de Genebra sobre o famoso dossier nuclear. Depois, foi o debate que se seguiu a esse resultado.
É importante lembrar que essas conversações só foram possíveis graças à recente eleição do novo presidente da República, o ayatolla Rohani, o que não quer dizer que o diálogo da comunidade internacional com Mahmud Ahmadinejad fosse de todo impossível. Mas a verdade é que as condições impostas pelo anterior presidente haviam tornado esse diálogo praticamente inviável ou, pelo menos, inútil. O que significa que, afinal, um alto membro do clero iraniano acaba por se revelar menos radical e inflexível do que um leigo na condução de um governo teocrático.
O que estava em jogo neste diálogo era saber quem cederia mais nos seus princípios. O grupo dos chamados seis representantes da ONU queria ter a certeza de que o processo nuclear que está a ser desenvolvido pelo Irão não atingirá o nível que lhe permita construir uma bomba atómica, o que depende da sua capacidade de obter um mínimo de enriquecimento de urânio, pelo menos na ordem dos 20%. Foi este limite de 20% que esteve na mesa dos negociadores desde que o processo começou, e que os delegados do governo de Teerão fizeram sempre questão de classificar como linha vermelha para as suas suas cedências. E era para alcançar esse objectivo, os 20% de enriquecimento de urânio, que estavam a construir o reactor de Arak, embora afirmando sempre que este não tinha objectivo militares.
Aparentemente, os iranianos acabaram por ceder neste ponto essencial, mas garantem à sua opinião pública que não perderam a capacidade de produzir energia nuclear. Por outro lado, conseguiram dos negociadores internacionais uma série de importantes contrapartidas de natureza financeira, a começar pelo fim do boicote à comercialização do seu petróleo, que vem constituindo, desde há muito, a base da sua política económica e o sustentáculo da sua política social. Embora seja sempre possível furar as limitações impostas por esse boicote, a verdade é que a falta do dinheiro que o Irão vinha perdendo com as sanções ameaçava tornar-se insustentável para o regime.
No Irão, ou em qualquer outro país, é sempre muito difícil resistir indefinidamente às pressões e aos boicotes internacionais, mesmo quando se invoca junto do povo o argumento do patriotismo. E, por isso, o regime cedeu. Muito? Pouco? O suficiente? Trata-se de um debate sem conclusão à vista.
António José da Silva
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