FUNDAÇÃO ANITA PINA CALADO, TEIXOSO, COVILHÃ

Vasto património tem ajudado à sustentabilidade

Foi como Centro de Assistência Anita Pina Calado que a instituição nasceu em 1952, na freguesia de Teixoso, concelho da Covilhã, quando o Conselheiro Joaquim Ferreira Pina Calado decidiu doar o seu património imóvel, composto por diversos prédios rústicos e urbanos, à Junta de Freguesia local. No entanto, só depois do 25 de Abril de 1974 é que a instituição, que em 1982 se transformou em Fundação Anita Pina Calado, começou a desenvolver de forma permanente a sua acção social junto da população local.
Durante décadas a instituição mais não fez do que distribuir sopa e cobertores aos pobres, sendo que o património, então administrado pela Junta de Freguesia, estava votado ao abandono e dele nenhum rendimento se tirava.
A constituição da instituição foi a forma que o Conselheiro encontrou para perpetuar a memória da filha, Ana Emília Pina Calado, falecida muito nova devido à pneumónica.
“A filha, à morte, pediu que ele deixasse algo para as crianças mais pobres da vila. Ele, para perpetuar a memória da filha, criou a fundação que recebeu o património e que lhe deram o nome de Anita Pina Calado, que era o nome por que ela era tratada”, conta Arménio Saraiva, referindo o ponto de viragem na vida da instituição: “Nesses anos a instituição não estava muito virada para a comunidade, mas em 1976, nesta casa onde agora estamos, que era de António Pina Calado, sobrinho do Conselheiro, deixou em testamento que, se à morte dele não houvesse nenhum infantário na vila, isto revertia a favor do IOS – Instituto de Obras Sociais para que aqui fosse criado um infantário. No entanto, como à morte dele, em 1978, já existia um infantário, e como isso fazia parte do testamento, tudo isto passou para o património da Segurança Social”.
Arménio Saraiva recorda a confusão que durante muito tempo envolveu a instituição, a Junta de Freguesia e todo o vasto património legado.
“A Fundação começou com o património que ele tinha, que eram algumas terras e quintas, algumas que ainda existem e fazem parte do património da Fundação, mas nessa altura quem administrava isso tudo era a Junta de Freguesia, o que era uma grande confusão… O património era da instituição, mas quem geria era a Junta de Freguesia. Após o 25 de Abril, tentei reorganizar e legalizar a instituição e foi quando o património foi registado em nome da Fundação, porque o Ministério da Segurança Social obrigou a que isso acontecesse. Depois foram alterados os estatutos e a instituição foi reconhecida como IPSS”, recorda o presidente da instituição, no cargo desde meados dos anos 70 do século passado.

CENTRO DE DIA NO ARRANQUE

É a partir desta altura que a acção social junto da comunidade de Teixoso e de algumas localidades vizinhas passou a concretizar-se, inicialmente com a criação de um Centro de Dia, uma vez que o desejo de António Pina Calado, o sobrinho do Conselheiro, já não fazia sentido face à existência de um jardim-de-infância na freguesia.
“Como já havia o tal infantário, pedimos à Segurança Social para nos ceder estas instalações para aqui criarmos um Centro de Dia”, relembra Arménio Saraiva, que resume o crescimento da instituição e a diversificação das valências, essencialmente, em torno do apoio à Terceira Idade: “Começámos a desenvolver aqui a instituição e em 1999 arrancámos com as obras de um lar, com algum apoio da Banca, mas especialmente com fundos da instituição. Criámos, então, um lar com 37 camas”.
Na área da infância, a acção da Fundação Anita Pina Calado resume-se actualmente a um ATL.
De resto, a instituição tem actuado mais na área da Terceira Idade, que é a grande necessidade da região, face ao envelhecimento da população e a crescente desertificação do Interior.
“Há muitas pessoas idosas e sozinhas. Esse é um problema que sentimos, há necessidade de camas, mas os lares não foram feitos só para aqueles que podem pagar, os que não podem também têm direito e nós temos tido o cuidado de acolher aqueles que não têm ninguém e que têm reformas de apenas 200 e 300 euros”, sustenta o presidente da instituição, explicando: “A nossa política desde que criámos o Lar tem sido a de necessitarmos de pessoas que podem pagar, e não temos mensalidades superiores a 700 euros, porque temos cá gente a pagar apenas 200 euros, pessoas que não têm ninguém e não podem ser abandonados. Os que podem pagar mais alguma coisa têm que o fazer para aqueles que não podem e é o que temos feito ao longo destes anos. E temo-nos dado bem com isso… As pessoas vivem com alegria na instituição e a Fundação tem grande procura, porque temos sido exigente com a qualidade do serviço. Depois, temos sido muito criteriosos na escolha do pessoal, que gosta de lidar com os idosos, o que é muito importante. É fundamental os idosos sentirem-se bem no Lar e é isso que procuramos proporcionar-lhes”.

MELHORAR O BEM-ESTAR

Nesse sentido, a Fundação está a proceder a obras profundas de remodelação do edifício que cresceu nas traseiras da antiga casa de habitação de António Pina Calado, e onde funcionam todas as valências dedicadas aos idosos.
“Há cerca de três meses iniciámos uma obra de ampliação das zonas de convívio e da sala de jantar e a criação de uma enfermaria no Lar, que importa em cerca de 500 mil euros e é totalmente financiada pela instituição”, revela Arménio Saraiva, sublinhando que o momento da intervenção se prender directamente com “a necessidade de melhorar o bem-estar dos utentes”.
A decisão de não ampliar a capacidade do lar, mas sim melhorar a infra-estrutura prende-se com uma visão de futuro que a actual Direcção tem e pretende evitar: “Não nos interessava ampliar o Lar, ou seja, criar mais camas, porque penso que na nossa região daqui a meia-dúzia de anos haverá camas a mais”.
Habitualmente, ouve-se falar destas situações relativamente a equipamentos dedicados à infância, principalmente devido à forte quebra da taxa de natalidade. No entanto, Arménio Saraiva retrata a situação da região para justificar a opção da instituição e de alguma forma o pensamento que expôs.
“Digo isto porque até há pouco tínhamos uma lista de espera grande e constante. É certo que temos as vagas do Lar sempre todas preenchidas, mas já tivemos lista de espera com 20, 30 e 40 pessoas e hoje não a temos”, argumenta, explicando: “Criaram-se muitos lares aqui na região, houve muita construção de lares, tanto de IPSS como de privados, e penso que haverá uma altura em que isso vai ser de mais para as necessidades”.
Ainda na perspectiva de melhorar o bem-estar dos utentes do Lar e dos frequentadores do Centro de Dia, a Direcção tem ainda mais um projecto de construção na área do edifício-sede: “Para já queremos concretizar o projecto em curso, mas depois, se financeiramente pudermos, queremos realizar a ampliação de uma zona do lar, onde queremos fazer uma capela”.
Actualmente, a Fundação acolhe 40 idosos em Centro de Dia e 50 em Lar Residencial, apoia 25 utentes no Apoio Domiciliário e ocupa 30 crianças em ATL, que funciona na casa onde a instituição iniciou actividade nos idos anos de 1950 e onde está ainda instalada a Loja Social, através da qual apoia cerca de 96 famílias, com distribuição de bens alimentares, roupas e outros artigos para o lar. Para além disto, a instituição criou uma Cantina Social, no âmbito do Programa de Emergência Social, em que serve 20 refeições por dia.

GESTÃO RIGOROSA

Algo que salta à vista observando o número de utentes e os que estão cobertos pelos Acordos de Cooperação com a Segurança Social é o grande desfasamento na maioria das valências. Se no Centro de Dia todos os utentes estão abrangidos, já nas demais respostas sociais as diferenças são substanciais: em SAD apenas 15 abrangidos pelo Acordo de Cooperação; no Lar Residencial apenas 35; e no ATL somente 15 crianças.
Mesmo assim, a saúde financeira da instituição é estável. Isto apesar de a comunidade que serve ter uma população de parcos recursos.
“São pessoas com rendimentos baixos, com rendimentos médio-baixos, de uma população que vivia essencialmente da agricultura e da indústria têxtil. Hoje também já há lares privados, com outras condições e mais luxuosos, mas com mensalidades de 1500, 1200 euros que as pessoas que aqui estão não têm condição financeira para suportar”, explica Arménio Saraiva.
Mesmo assim, a Fundação Anita Pina Calado não tem sentido de forma drástica a crise que o País atravessa, porque como explica o director de serviços António Rodrigues, a instituição preparou-se para os tempos difíceis.
“Também estávamos preparados para esta situação, porque já há bastante tempo que temos abordado esta situação, expectantes que, mais tarde ou mais cedo, algo como isto podia acontecer. E temos tido alguma contenção nos gastos”, argumenta, ao que o presidente acrescenta: “Sentimos um bocadinho a crise, mas as pessoas têm que se esforçar para que as coisas corram pelo melhor, tanto quem administra, como os funcionários. Se todos colaborarem em conjunto as coisas ultrapassam-se com menos problemas. Temos sentido alguma crise, mas não temos tido graves problemas financeiros”.
Esta situação tem sido facilitada pela exploração do vasto património da Fundação.
“Temos ao longo destes últimos 10 anos desenvolvido esta parte agrícola e os investimentos que temos feito têm sido consoante aquilo que vamos realizando e podemos investir”, começa por referir Arménio Saraiva, explicando: “As propriedades estavam todas abandonadas e começámos por recuperar algumas quintas. Há uma que já está recuperada e em funcionamento, onde fazemos diversas culturas agrícolas e onde construímos um pavilhão de apoio. No capítulo das fruto-hortícolas a instituição já é quase autónoma. Este ano começámos a produzir alguma cereja, maçã e ainda alguma castanha”.
No aproveitamento do património, a Fundação tem outro projecto em marcha, em que a vertente agro-pecuária se associa a uma vertente turística: “Estamos já a recuperar outra quinta onde vamos apostar no turismo rural. Havia casas de granito abandonadas e em ruína. Já recuperámos uma dessas casas e estamos a vedar toda a propriedade. Aí vamos plantar castanheiros e desenvolver alguma actividade pecuária, para também nessa área nos tornarmos autónomos. Vamos apostar na criação de porcos, aves e ovelhas”.
Tem sido uma preocupação dos responsáveis pela Fundação, ao longo dos últimos anos, a diversificação das fontes de receita, “para que a instituição não venha a ter problemas mais tarde em termos de financiamento”, refere o presidente, que adianta que esta aposta na produção pecuária e fruto-hortícola não se cinge ao abastecimento da instituição.
“Começámos agora um projecto agrícola com a plantação de cerca de duas mil cerejeiras, para que a comercialização da cereja seja mais um meio de financiamento da instituição. Estamos mesmo em consonância com outras instituições do distrito que também têm produção agrícola para criarmos uma espécie de banco alimentar, no qual as produtoras de determinados produtos levam para lá os seus excedentes e as outras instituições podem ali abastecer-se. Não sei se isto avançará, mas seria importante porque poderia haver um intercâmbio de produtos o que era bastante bom para as IPSS da região”.
No auxílio à população, a instituição ainda cede algumas das propriedades em regime de comodato, tendo ainda disponibilizado alguns terrenos para famílias que as desejem cultivar, numa espécie de horta social.
“São terrenos que estamos a emprestar para as pessoas cultivarem e já o fazemos há muito tempo”, afirma Arménio Saraiva.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2014-01-21



















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