PADRE FRANCISCO CALDEIRA, PRESIDENTE DA UIPSS MADEIRA

Trabalhamos para dar voz e qualificar as instituições

A União das IPSS da Madeira congrega 40 instituições solidárias, o que representa cerca de 80% das instituições do arquipélago, sendo que das quatro Misericórdias existentes na Ilha só uma não é filiada. O padre Francisco Caldeira, presidente da estrutura intermédia da CNIS, em entrevista ao SOLIDARIEDADE, aponta a qualificação dos dirigentes e dos recursos humanos das instituições como um dos grandes propósitos da acção da UIPSS Madeira. Por outro lado, a União tem feito um grande esforço para ser a voz do Sector Solidário na Madeira, em especial junto das entidades governativas regionais e da própria Segurança Social. O 1º Congresso das IPSS e Misericórdias da Madeira surgiu precisamente no sentido de provocar a reflexão sobre o Sector Solidário no arquipélago e unir ainda mais as instituições para que possam ter uma voz mais forte e unida junto do Estado.

SOLIDARIEDADE - Qual tem sido o grande trabalho da UIPSS da Madeira?
Padre Francisco Caldeira
– Estou na União desde o seu início, desde a Comissão Instaladora que remonta a 1997, e o primeiro trabalho foi de estruturação da própria organização, desde a concepção e elaboração dos estatutos à constituição da União como associação civil. Depois, com o advento da CNIS, houve uma reestruturação jurídica e de funcionamento e, ao longo deste tempo, temos efectuado dois trabalhos fundamentais aqui na Madeira: estabelecer uma cooperação activa com as entidades governamentais; e qualificação e formação dos dirigentes e dos funcionários das instituições. Resumidamente, é este o grande trabalho que temos realizado.

E que projectos tem a União em marcha ou em mente para o futuro?
Há um trabalho de sapa que estamos a fazer e que é o de estabelecer diálogo com as entidades governamentais, a fim de que estas tomem as instituições no seu todo e não parcelarmente. Ou seja, uma voz que represente todas as instituições. Muitas vezes o Estado quer atomizar, quer dialogar com cada instituição, e o nosso trabalho, neste momento, é, por um lado, o de qualificar a própria União, para que ela seja uma voz representativa de todas as instituições no diálogo com as entidades governamentais; e o outro projecto é o da formação, que é o nosso grande trabalho e que é de grande apoio às instituições. Este tem sido um dos nossos grandes trabalhos, apoiar à qualificação das nossas instituições. Temos um projecto que está a implementar-se e que passa pelo nosso próprio diálogo com as instituições. E isto também tem que ver com a qualificação, ou seja, fazer com que os corpos dirigentes possam assumir as rédeas da instituição, levar os próprios corpos directivos a qualificar-se para estarem aptos a dar respostas actuais às problemáticas actuais. Um dos problemas que temos detectado é a cristalização no tempo das instituições e das respostas que dão… As instituições que param no tempo, depois ficam obsoletas. E na prática acabam por, não só decrescer no seu âmbito e no seu fôlego, mas também por morrer. Portanto, vemos instituições que viveram à sombra de um certo estatuto, ou de um apoio do Estado, que se pensava que era incondicional e eterno, e agora têm passado por seríssimos problemas com todas as alterações que se têm verificado. O Congresso que realizámos também se insere neste projecto, ou seja, queremos criar esta mentalidade e esta atitude de os próprios dirigentes das instituições terem uma acção mais interventiva e actualizada e terem esta capacitação de prospecção das problemáticas, mas também de prognóstico e de uma actuação em coordenação com a realidade.

Quais são as principais problemáticas sociais da Madeira?
Temos problemáticas a nível das instituições e outras a nível social… Ora bem, uma, e que, creio, é comum a todo o País, é a do desemprego, que é grave. Desemprego, sobretudo em determinadas áreas, como da construção civil, da juventude e de alguns serviços… O turismo, ultimamente, tem servido um pouco de almofada, mas não tem sido suficiente para resolver este problema do desemprego. Temos ainda a problemática do envelhecimento da população e das pessoas sós. Penso que em algumas outras regiões do País talvez haja também esta problemática dos idosos que têm filhos emigrados e que ficam sós. E aqui na Madeira isto é agravado pelo facto de a emigração acontecer essencialmente para a África do Sul e Venezuela, ou Austrália, países muito distantes, o que faz com que o isolamento dos familiares seja ainda maior. Outra questão relacionada ainda com a demografia é a da baixa, cada vez maior, da taxa de natalidade. Isto coloca problemas concretos às instituições pelas respostas que dão. Temos instituições que, até há pouco tempo, não tinham capacidade de resposta em jardim-de-infância face às solicitações e, de repente, acontece o contrário, as respostas são maiores do que a procura… Este é um problema grave e ainda há um outro problema, que está interligado com este último, que é o da duplicação de equipamentos e respostas. Por vezes, na mesma localidade duplicam-se equipamentos, quando noutros locais não existem… Há uma deficiente distribuição de alguns equipamentos na área da terceira idade e da infância pelo território. Há uma outra problemática, e que é global, que é a da família, que cada vez é mais desestruturada e que tem problemas desde a formação à inserção social das pessoas.

Em que medida a insularidade influencia o desempenho das instituições solidárias na Madeira?
A insularidade tem vantagens e desvantagens… Com os meios de comunicação mais fáceis, desde a internet às viagens aéreas, a insularidade esbate-se um pouco. Essas problemáticas do isolamento já não se sentem tanto. Mas temos problemas específicos na Madeira, porque uma ilha é sempre uma ilha… Tem vantagens, porque ainda há um certo espírito de família e isso nota-se nas comunidades, porque apesar da desestruturação familiar, a família ainda tem sido uma rectaguarda de apoio. Por exemplo, hoje vive-se numa sociedade que tem falta de referências morais, no entanto, aqui na Madeira ainda há referências sócio-religiosas, que têm mantido uma certa coesão social. Uma desvantagem é, de facto, o contacto, porque temos que fazer e organizar tudo aqui, por exemplo, em termos de formação. Apesar de tudo, ainda há dificuldades de deslocação e, depois, isso torna tudo mais caro, com a agravante de ser uma terra turística… Uma pessoa que recebe a mesma pensão de reforma que no Continente, aqui tem gastos maiores. Não reflecti muito sobre esta questão, mas acho que a insularidade tem vindo a esbater-se… Por outro lado, para nós dirigentes, que gostamos de estar presentes nas reuniões da CNIS e de saber o que se passa no resto do País, há um encargo acrescido, porque o mar ainda é uma barreira…

Acha que a UIPSS tem sido uma mais-valia para o sector solidário no arquipélago?
Sem dúvida e a diversos níveis… Primeiro, na consciencialização de que as instituições são pólos activos e dinamizadores da sociabilidade e da integração social, que as instituições têm que procurar meios de sustentabilidade, que necessitam de se qualificar, de dar sempre um salto em frente. Outro aspecto em que acho que a União tem sido importante, e temos vindo a ver que há uma procura de filiação das instituições, é que a União tem sido um pólo dinamizador da qualificação dos corpos dirigentes e dos funcionários das IPSS. Este é o nosso grande trabalho. Relativamente aos Acordos de Cooperação, eles seguem os trâmites nacionais, excepto na área da Educação, que está afecta à Direcção Regional… De resto, seguimos todas as linhas orientadoras que são seguidas a nível nacional no que respeita à Segurança Social.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2014-03-12



















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