Entre os portugueses João Paulo II vai ficar na história como o "Papa de Fátima", Santuário que visitou por três ocasiões.
A ideia pode parecer excessiva, mas há bons motivos para este título: a intercessão de Nossa Senhora de Fátima na recuperação de um atentado e a beatificação dos Pastorinhos são momentos notáveis destes 25 anos de Pontificado onde João Paulo II manifestou, por diversas vezes, a sua fé e devoção mariana.
Simbolicamente, a bala que lhe atravessou o abdómen no dia 13 de Maio de 1981repousa hoje na imagem da Virgem na Cova da Iria. A mesma imagem que, em 2000, o Papa colocou entre os bispos de todo o mundo, consagrando-lhe o terceiro milénio.
A anterior consagração da Rússia ao coração Imaculado de Maria, gesto repleto de simbolismo religioso e político, liga-se umbilicalmente a toda a mensagem de Fátima.
Em Maio de 1982, no aniversário desse primeiro atentado contra a sua vida, Karol Wojtyla chegava a Fátima para “agradecer à Divina Providência neste lugar que a mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular”. Ignorava então que voltaria a correr perigo na noite de dia 13, desta vez pelo ex-sacerdote integrista Juan Khron, mas João Paulo II escapou ileso, podendo agradecer à Virgem a salvação da sua vida.
Voltaria nove anos depois. A 10 Maio de 1991, João Paulo II celebrou missa no Estádio do Restelo. Viajaria depois para os Açores e Madeira e, inevitavelmente, terminaria o itinerário no Santuário de Fátima.
Em Maio de 2000, regressou para oficializar a beatificação dos pastorinhos. Uma decisão assumida contra os serviços burocráticos do Vaticano, que chegaram a agendar a cerimónia para 9 de Abril na Praça de São Pedro.
A revelação da ligação do atentado de 1981 à terceira parte do segredo de Fátima (uma mensagem anunciada por Nossa Senhora aos Pastorinhos em Julho de 1917 e escrita por Lúcia na década de 40) justifica, em boa parte, a razão desta cumplicidade entre o Papa e o Santuário.
João Paulo II sempre se mostrou seguro de que “uma mão maternal” guiou a trajectória da bala naquela tarde de Maio de 1981. Quando a Irmã Lúcia faleceu, no passado dia 13 de Fevereiro, o Papa mostrou-se muito emocionado ao lembrar “os encontros que tive com ela e os laços de amizade espiritual que se reforçaram com o passar dos anos”.
Data de introdução: 2005-04-09