Um professor de psicologia da Universidade do Porto defende que o sentimento de insegurança e medo "aumentou nos últimos anos" em Portugal por culpa da mediatização da criminalidade e de "políticas musculadas" do poder político, sobretudo o autárquico. Luís Fernandes, professor associado da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, apresentou estas ideias em Évora durante o congresso internacional "Psicologia da (In)Justiça".
Luís Fernandes considera que algumas comunidades, nomeadamente as de bairros problemáticos como os de S. João de Deus (Porto) e Cova da Moura (Almada), são "estigmatizadas" pela comunicação social, o que leva a que sejam olhadas como "as novas classes perigosas". O professor argumenta que "o olhar da comunicação social sobre algumas comunidades é estigmatizante, porque são faladas, enquanto todo, como uma ameaça, e existe, entre os habitantes, um trauma residencial. Este tema cristalizou, desde os anos 90, no imaginário colectivo, principalmente das grandes cidades".
Perante este problema, o poder político tem tido "uma dupla atitude", tendente à "manipulação", considerou o docente: "Quando se é oposição, critica-se que o Governo não faz nada e que assistimos a uma escalada de violência, quando se chega ao poder, já não se diz nada e o silêncio impera".
Luís Fernandes diz que o poder político, nomeadamente o autárquico, tem respondido a este fenómeno com políticas "meramente musculadas e paliativas", apostando num "limpar das ruas para tirar do horizonte figuras incomodativas".
Data de introdução: 2005-04-29