ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

Europa: que futuro?

Muito se disse e se escreveu já sobre as últimas eleições para o Parlamento Europeu e os comentários não variam muito, a não ser os que pecam por demasiada partidarite. A verdade é que, em alguns países como Portugal, os analistas preocuparam-se sobretudo com os efeitos desses resultados na política interna do país, mas o que se pode dizer com segurança é que eles vieram abalar profundamente a construção do chamado projecto europeu. A Europa saiu muito mais fragilizada destas eleições, e este é, certamente, o seu efeito mais preocupante e mais grave.

Os cidadãos da União foram às urnas numa conjuntura claramente negativa para o aprofundamento da construção da Europa. A maior parte desses cidadãos está a sofrer ainda as consequências da terrível crise financeira e económica que, desde 2008, os vem sujeitando a sacrifícios insuportáveis para muitos, e poucos acreditam que o futuro próximo possa ser melhor. Ir a eleições numa altura destas era pois enfrentar um julgamento propício a duras penas, e foi o que aconteceu à maioria dos seus governantes e aos partidos que os apoiavam. Em alguns casos, esse castigo foi ainda mais pesado do que seria expectável.

Mas a fragilidade da Europa de que falamos não tem apenas razões de carácter financeiro e económico. Nos últimos tempos, essa fraqueza vinha-se acentuando claramente ao nível político, sobretudo perante a afirmação da Rússia. O que aconteceu na Ucrânia e na Síria veio confirmar a tese de que a União está longe de ter um peso correspondente às expectativas geradas aquando da sua criação. De ressalvar que esta imagem de fraqueza não diz respeito somente à Europa. É verdade que os Estados Unidos já superaram os efeitos da crise de 2008, mas também é certo que a Casa Branca perdeu grande parte da sua credibilidade no mundo com a evolução dos acontecimentos nesses dois países.

Voltando ao dia 25 de Maio, não será muito arriscado afirmar que os resultados da consulta desse dia vieram enfraquecer ainda mais a imagem da Europa. O crescimento dos partidos eurocépticos ou extremistas significa um golpe profundo no seu prestígio. A dificuldade em encontrar um novo presidente para a Comissão será mais um exemplo da sua impossibilidade de convencer o mundo de que é uma força política suficientemente estável e forte, para se impor. É verdade que a União Europeia ainda não deixou de ser um mito para muita gente, mas também é certo que há cada vez mais europeus a pretender abandonar esse projecto. Os chamados pais da Europa devem revolver-se no túmulo.

A.J.Silva

 

Data de introdução: 2014-06-04



















editorial

Comunicar é tornar comum

A partilha de informação remonta à origem latina de comunicar, que também apela à participação, sendo a comunicação um processo de tornar comum algo entre as pessoas, a troca de experiências e de...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Agora, que os eleitos só pensem no bem comum
Sou um político resiliente, sem nunca ter sentido a necessidade de me envolver na política ativa. Quero dizer que, há mais de cinquenta anos, fiz a opção de viver a minha...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

A caracterização racial é racismo estrutural
Três amigos chegaram ao aeroporto de Lisboa, vindos de um voo intercontinental, com a quantidade de bagagem de umas férias relativamente longas. Duas das pessoas no grupo eram caucasianas, uma...