No último sábado de Novembro, a Comunicação Social deu algum relevo à libertação do Osni Mubarak, que foi presidente egípcio durante trinta anos e que estava a cumprir, desde 2011, uma pena de prisão perpétua. A sua condenação, que se seguiu a uma revolta popular liderada pela Irmandade Muçulmana, foi justificada pela sua responsabilidade, alegadamente directa, na repressão dessa revolta, e nas centenas de mortes que ocorreram nesses dias. A juntar a estas acusações, os juízes de então tiveram ainda em conta alegados crimes de corrupção cometidos por ele e por membros da sua família. O homem que governou o Egipto durante três décadas, e que teve um papel destacado na discussão de várias crises que agitaram o Médio Oriente, esteve mesmo em risco de ser condenado à morte.
Apesar da vaga revolucionária conduzida pelas forças islamitas, Mubarak teve sempre admiradores que se mantiveram fieis à sua antiga liderança e que puderam agora manifestar publicamente os seus sentimentos. Por coincidência, na véspera da proclamação judicial da sua inocência e da dos seus filhos, houve notícia de dois atentados, atribuídos à Irmandade Muçulmana. Esses atentados fizeram diversas vítimas, entre as quais se contavam elementos das forças armadas, o que significa, pelo menos, que a situação social e política do Egipto não vai conhecer, nos próximos tempos, a estabilidade que é necessária à reafirmação do país mais poderoso do Médio Oriente.
Vencidos pelo exército e pelas forças sociais que rejeitam o radicalismo islamita, os militantes da Irmandade Muçulmana vão regressar a uma estratégia de intervenção, mais ou menos clandestina, que não terá apenas contornos sociais, como aconteceu durante os anos de Mubarak, quando chamaram a si uma política de assistência social em que o governo era deficitário. Essa política aumentou exponencialmente a sua influência junto da população egípcia, sobretudo nas classes mais pobres. Acreditamos mesmo que os seus líderes irão juntar à sua política de apoio social uma estratégia de combate, com recurso a atentados que façam vítimas sobretudo entre as forças militares que depuseram o presidente Morsi. Este era um islamita que, apesar de não reivindicar posições fundamentalistas, garantia aos militantes da Irmandade Muçulmana a possibilidade de uma influência cada vez maior na sociedade egípcia.
O general Al Sisi, o comandante das Forças Armadas que acabou por assumir a chefia do Estado, vai enfrentar um desafio muito complicado, e a libertação de Mubarak não vem atenuar as suas dificuldades. Trata-se de uma libertação que, para os fundamentalistas islâmicos,é mais um motivo combater o actual regime.
António José da Silva
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