ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

O Egipto e a absolvição de Mubarak

No último sábado de Novembro, a Comunicação Social deu algum relevo à libertação do Osni Mubarak, que foi presidente egípcio durante trinta anos e que estava a cumprir, desde 2011, uma pena de prisão perpétua. A sua condenação, que se seguiu a uma revolta popular liderada pela Irmandade Muçulmana, foi justificada pela sua responsabilidade, alegadamente directa, na repressão dessa revolta, e nas centenas de mortes que ocorreram nesses dias. A juntar a estas acusações, os juízes de então tiveram ainda em conta alegados crimes de corrupção cometidos por ele e por membros da sua família. O homem que governou o Egipto durante três décadas, e que teve um papel destacado na discussão de várias crises que agitaram o Médio Oriente, esteve mesmo em risco de ser condenado à morte.

Apesar da vaga revolucionária conduzida pelas forças islamitas, Mubarak teve sempre admiradores que se mantiveram fieis à sua antiga liderança e que puderam agora manifestar publicamente os seus sentimentos. Por coincidência, na véspera da proclamação judicial da sua inocência e da dos seus filhos, houve notícia de dois atentados, atribuídos à Irmandade Muçulmana. Esses atentados fizeram diversas vítimas, entre as quais se contavam elementos das forças armadas, o que significa, pelo menos, que a situação social e política do Egipto não vai conhecer, nos próximos tempos, a estabilidade que é necessária à reafirmação do país mais poderoso do Médio Oriente.

Vencidos pelo exército e pelas forças sociais que rejeitam o radicalismo islamita, os militantes da Irmandade Muçulmana vão regressar a uma estratégia de intervenção, mais ou menos clandestina, que não terá apenas contornos sociais, como aconteceu durante os anos de Mubarak, quando chamaram a si uma política de assistência social em que o governo era deficitário. Essa política aumentou exponencialmente a sua influência junto da população egípcia, sobretudo nas classes mais pobres. Acreditamos mesmo que os seus líderes irão juntar à sua política de apoio social uma estratégia de combate, com recurso a atentados que façam vítimas sobretudo entre as forças militares que depuseram o presidente Morsi. Este era um islamita que, apesar de não reivindicar posições fundamentalistas, garantia aos militantes da Irmandade Muçulmana a possibilidade de uma influência cada vez maior na sociedade egípcia.

O general Al Sisi, o comandante das Forças Armadas que acabou por assumir a chefia do Estado, vai enfrentar um desafio muito complicado, e a libertação de Mubarak não vem atenuar as suas dificuldades. Trata-se de uma libertação que, para os fundamentalistas islâmicos,é mais um motivo combater o actual regime.

António José da Silva

 

Data de introdução: 2014-12-05



















editorial

VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE, AFETOS E RELAÇÕES DE INTIMIDADE (O caso das pessoas com deficiência apoiadas pelas IPSS)

Como todas as outras, a pessoa com deficiência deve poder aceder, querendo, a uma expressão e vivência da sexualidade que contribua para a sua saúde física e psicológica e para o seu sentido de realização pessoal. A CNIS...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Que as IPSS celebrem a sério o Natal
Já as avenidas e ruas das nossas cidades, vilas e aldeias se adornaram com lâmpadas de várias cores que desenham figuras alusivas à época natalícia, tornando as...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Adolf Ratzka, a poliomielite e a vida independente
Os mais novos não conhecerão, e por isso não temerão, a poliomelite, mas os da minha geração conhecem-na. Tivemos vizinhos, conhecidos e amigos que viveram toda a...