O partido socialista francês sofreu uma derrota pesada nas recentes eleições municipais. Saudado vivamente por toda a esquerda europeia, aquando do seu triunfo sobre Sarkozi, Holande foi, durante algum tempo, o símbolo e a esperança de todos os europeus cuja bandeira era a rejeição das políticas de austeridade e dos seus grande mentores, particularmente a Alemanha e a sua chanceler Angela Merkel.
No entanto, alguns meses depois de tomar posse, já se percebia que o governo dava sinais de não poder concretizar as suas promessas eleitorais, sobretudo nas vertentes financeira, social e económica. Holande não o disse, mas acabou por meter os seus ideais na gaveta. O mal estar foi crescendo e a esquerda em geral, e o partido socialista em particular, foram perdendo para a direita e para a extrema direita as suas bases tradicionais de apoio. Foi um movimento social e político que teve a expressão mais clara no resultado dessas eleições.
Reconhecendo a extensão da derrota, Holande tratou rapidamente de nomear um novo primeiro ministro, a quem entregou a tarefa de formar um executivo diferente. Chamou-lhe de combate, embora o mais correcto fosse chamar-lhe de emergência. Para essa função, escolheu Manuel Vals, um francês de origem catalã, que integrava o anterior governo, e que era o mais popular de todos os seus membros.
Vals tinha sido um ministro polémico, quer no conteúdo das suas decisões, quer no seu seu estilo de comunicar e governar, mas o facto é que uma grande parte dos franceses, à esquerda e à direita, revia-se nessas decisões e gostava do seu estilo. Por isso mesmo, e apesar da discordância de muitos dos seus apoiantes, Holande fê-lo seu primeiro ministro.
À primeira vista, tratava-se de mais uma cedência à direita, pelo menos até se conhecer a formação completa do executivo. Nesta formação merece destaque a escolha dum novo ministro da Economia, suficientemente conhecido pela sua oposição ao neoliberalismo, à globalização e à austeridade, uma escolha difícil de perceber face aos compromissos neoliberais já assumidos por Holande. Mas para descanso do presidente, Armand Montbourg não tem a seu cargo as Finanças do país nem vai representar a França nas reuniões da UE sobre esta matéria. Seja como for, o primeiro desafio de Holande será o de conviver e sobreviver às tensões que a composição do seu novo governo vai gerar.
António José da Silva
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