A Birmânia, ou Myanmar como é hoje oficialmente conhecida, só não teve o destaque devido nos noticiários internacionais das últimas semanas, por causa da carnificina que teve lugar em Paris a 13 de Novembro. E, no entanto, esse destaque seria totalmente justificado, por causa dos resultados das recentes eleições legislativas realizadas naquele país.
Estes não constituíram propriamente uma surpresa, já que, em 1990, a Aliança Nacional para a Democracia vencera o sufrágio com mais de 59% dos votos e 81% dos mandatos. Só que, e ao contrário do que aconteceu nessa altura, desta vez, os militares que governam o país com mão de ferro desde 1962, tornaram pública a sua intenção aceitar a vontade do povo expressa nas urnas. Foi outra vitória em toda a linha da Aliança Nacional para a Democracia e, sobretudo, para a sua líder, a famosa Aung San Suu Kii, que foi Prémio Nobel da Paz em 1991.
Em 1962, as chefias militares birmanesas depuseram o presidente U Nu, um homem que tinha sido eleito democraticamente, e impuseram ao povo birmanês um regime ditatorial que apenas os monges budistas iam contestando nas ruas, mas sem grande êxito. Até que chegou ao país, para ver a sua mãe que estava doente, uma mulher birmanesa que vinha de Inglaterra, e que era filha de Aung San, um líder que o povo considerava como “pai da pátria” por ter sido o grande herói da luta pela independência travada contra Inglaterra. Desde então, tudo começou a mudar. O movimento pela democratização do país foi ganhando força à volta desta mulher aparentemente frágil, mas dotada de grande carisma e de uma enorme capacidade de resistência, manifestada sobretudo durante os quinze anos da prisão domiciliária a que fora condenada.
Libertada em 2010, manteve-se fiel ao seu grande objectivo de lutar pela democratização do país através de meios pacíficos, arrancando pequenas concessões à oligarquia militar que, apesar disso, nunca desistiu de controlar o poder político, mas que foi ganhando cada vez mais consciência do seu isolamento internacional. Face a este isolamento internacional e à vitória de Suu Kii, os generais não tiveram outro remédio que não fosse o de aceitar os resultados eleitorais e as suas consequências.
Tendo em conta a sua superfície e a sua população, mais de 670.000 quilómetros quadrados e mais de cinquenta milhões de habitantes, a Birmânia vai entrar pois num novo ciclo da sua história recente, com a certeza de que, graças a uma mulher, vai ter agora condições para se tornar um país cada vez mais forte e mais respeitado no mundo.
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