A Amnistia Internacional publicou, há dias, números significativos acerca do estado actual do mundo, no que concerne ao respeito pelos chamados direitos humanos. Esse relatório pode não ser absolutamente fidedigno relativamente todas as situações que foram investigadas por aquela organização. Aliás, a publicação dos resultados dessa investigação provoca sempre reacções negativas por parte de alguns países e organizações internacionais. No entanto, as conclusões a que este relatório chegou não foram postas em causa, pelo menos de um ponto de vista geral. Ora, dessas conclusões emerge um retrato do mundo que, mais do que sombrio, poderia mesmo dizer-se negro.
Entre os problemas que enchem repetidamente as páginas dos relatórios da Amnistia Internacional de cada ano, encontramos sempre alguns que são recorrentes, como é o caso da prática da tortura, oficial ou não, e ainda o da falta de liberdade religiosa e política. O relatório de 2015 acrescenta particularmente um outro: o das reacções à crise dos refugiados. Pela sua dimensão, pelas suas consequências, e ainda por via dessas reacções, este problema mereceu aos responsáveis daquela organização um interesse muito particular. Infelizmente, esse interesse traduziu-se na constatação de que essa grande tragédia a que vimos assistindo ao longo dos últimos meses, se fez acompanhar, em muitos casos, de alguns atentados aos direitos humanos.
Importa registar, no entanto, que a crise dos refugiados não despoletou no mundo apenas reacções negativas e condenáveis, como a indiferença, o egoísmo, ou o racismo. Bem pelo contrário, a tragédia que atingiu centenas de milhares homens, mulheres e crianças que, em circunstâncias absolutamente dramáticas, tiveram de abandonar a casa onde viviam, para fugirem à fome ou à guerra e começar uma vida nova numa terra estranha, fez brotar no coração de muita gente sentimentos de uma solidariedade extraordinária que se traduziu em gestos que nos fizeram acreditar ainda mais no ser humano. Assumindo o dever da denúncia, este relatório da Amnistia Internacional insiste pois no lado sombrio da situação, mas não apaga de todo a outra face do mundo: a da luta pela Fraternidade, pela Paz, pela Justiça e pela Solidariedade.
Trata-se, no entanto, de uma face que não tem a visibilidade da primeira. O ano de 2015 ficou marcado não só por imagens profundamente negativas, mas também por gestos fantásticos de altruísmo e dedicação que não nos deixam perder a esperança no futuro.
António José da Silva
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