ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

Refugiados: de novo a rota mediterrânica

O ministro alemão do Interior anunciou há dias, em Viena, que vão ser eliminados os controlos fronteiriços com a Áustria, estabelecidos numa altura em que o afluxo de refugiados atingiu números insuportáveis: pelo menos milhão e meio. Segundo aquele membro do executivo germânico, o número de refugiados acolhidos no seu país foi, no passado mês de Março, de “apenas” vinte mil, enquanto, no verão de 2015, se registaram oito mil entradas por dia. Razões mais que suficientes para Tomas de Maizerie, assim se chama o ministro, acreditar que a crise já tocou no fundo.

Naturalmente que os números conhecidos favorecem algum optimismo por parte do ministro e justificam que o seu governo tenha anunciado a intenção de eliminar os controlos fronteiriços com a Áustria. Isso não impede, no entanto, que muitos analistas achem demasiado apressada e optimista esta intenção declarada do governo da senhora Merkel, por entenderem que ela tem sobretudo a ver com a proximidade das eleições legislativas.

Embora tendo de enfrentar alguma resistência, ao longo dos últimos meses, mesmo de parte de dos seus próprios correligionários, a chanceler alemã, conseguiu impor uma política generosa de acolhimento, em contraste com a de grande parte dos responsáveis políticos europeus. No entanto os incidentes que mancharam as festividades da passagem de ano em Colónia e noutras cidades do país, e cuja responsabilidade foi atribuída, de imediato, a grupos de refugiados, contribuiu para atear o fogo da xenofobia e para atacar a política governamental nesta matéria. Foi a partir daí que ganhou outra força um novo partido, cujo nome não deixa dúvidas quanto à sua filosofia e aos seus objectivos: chama-se “Alternância para a Alemanha” ou AfD. E foi por essa altura que os números da popularidade da senhora Merkel baixaram sensivelmente.

Ora acontece que as sondagens mais recentes voltam a ser muito positivas para a chanceler, sinal de que as últimas iniciativas europeias relativas a uma solução para o problema dos refugiados, nomeadamente o acordo com a Turquia, foram bem acolhidas pela opinião pública alemã, pese embora o facto de alguns dos termos desse acordo, nomeadamente os que dizem respeito ao repatriamento, terem merecido fortes críticas de várias organizações humanitárias.

Do ponto de vista meramente político, a crise dos refugiados parece ter conhecido, nos últimos tempos, uma evolução positiva, pelo menos no que respeita a quantos procuram atingir os chamados “paraísos europeus” através da Grécia e da Turquia. Em contrapartida, a primitiva rota mediterrânica dos refugiados, com origem em países africanos, está claramente a ser reactivada. Basta ter em conta as últimas tragédias de que se fizeram eco os Meios de Comunicação Social. Mas essas parece não preocuparem tanto a comunidade internacional.

António José da Silva

 

 

Data de introdução: 2016-05-09



















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