As imagens que vão chegando da fronteira entre a Venezuela e a Colômbia fazem-nos lembrar os dramas que acontecem diariamente noutras regiões do mundo, particularmente em África e no Médio Oriente. São imagens particularmente chocantes porque dizem respeito ao êxodo de milhares de pessoas que, neste caso, fogem de um país que é só um dos maiores produtores de petróleo do mundo e o mais rico em reservas do chamado ouro negro, um país para o qual migravam, até há poucos anos, milhares de pessoas em busca de um vida melhor, como foi o caso de muitos portugueses. Em pouco tempo, a Venezuela passou de um país de imigração para um país de emigração, e de emigração forçada.
Nos últimos tempos, a fuga de venezuelanos para a Colômbia assumiu características de um autêntico êxodo, e este êxodo transformou-se num problema humanitário a que a comunidade internacional não poderia ficar indiferente. E não ficou, como se depreende da posição assumida pela própria ONU, face à degradação do processo social e político que se desenrola naquele país. O governo da Colômbia viu-se confrontado repentinamente com um desafio para o qual não tinha capacidade de reposta total e imediata, mas decidiu aceitá-lo corajosamente, lembrando aos seus concidadãos que ainda não há muito, em tempos bem difíceis para o país, foram os colombianos a precisar do acolhimento e da ajuda dos venezuelanos. Um comportamento exemplar por parte do seu presidente, José Manuel Santos, neste tempo em que o drama dos refugiados motiva cada vez menos reacções de solidariedade.
Como é que um país potencialmente tão rico como a Venezuela chegou aos extremos que nós conhecemos, constitui, já há bastante tempo, matéria de análise política mais ou menos polémica e apaixonada, mas uma conclusão parece inquestionável: a crise que se abateu sobre o povo venezuelano é inseparável do fanatismo populista que contaminou a vida política do país desde que Hugo Chavez, o fundador e mentor da chamada revolução bolivariana chegou ao poder, uma revolução que Nicolas Maduro não tem cessado de aprofundar. Trata-se de um fanatismo ideológico pintado com as cores de um nacionalismo exacerbado que atribui a inimigos externos, principalmente aos Estados Unidos, a responsabilidade por todas as dificuldades - e estas são cada vez maiores - por que passam os venezuelanos. São dificuldades materiais gritantes, mas também dificuldades políticas graves, porque o chamado governo bolivariano já encontrou a estratégia para se perpetuar no poder. As próximas eleições presidenciais vão provar isso mesmo. Entretanto, o êxodo vai continuar…
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