Ainda não há muito, já era legítimo falar da ameaça de um regresso à chamada “guerra fria”. Agora, pode dizer-se que esse regresso já aconteceu. Na verdade as relações entre a Rússia e o Ocidente deterioram-se de tal ordem que há muitos motivos para afirmar que esta deve ser a crise mais grave que os Estados Unidos e a Europa terão enfrentado com Moscovo, desde o fim do império soviético.
Este clima de guerra fria não tem origem numa qualquer confrontação ideológica, como aconteceu ao longo da segunda metade do século vinte, já que a Rússia de Vladimir Putin se converteu plenamente ao capitalismo, o sistema económico que Lenine e Estaline tinham jurado eliminar. Do que se trata agora é de uma guerra pela afirmação do poder no mundo, um poder que o actual presidente russo não admite possa ser posto em causa pelos líderes ocidentais. Foi aliás o culto desta imagem de poder que lhe garantiu uma vitória incontestada nas últimas eleições
Numa entrevista ainda recente, Vladimir Putin confessou ter mandado abater um avião que transportava mais de uma centena de passageiros, por alegadamente ter sido informado pelos seus serviços secretos de que entre esses passageiros se encontrava um terrorista disposto a cometer um atentado em Sochi, a cidade onde se realizariam os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014. Só que por se tratar de um falso alarme, não houve necessidade de recorrer a uma medida tão extrema. Esta novidade foi dada pelo próprio Putin no decurso de uma entrevista enquadrada na sua campanha eleitoral para as últimas eleições presidenciais. O presidente, candidato a um novo mandato, decidiu tornar público esse facto ainda desconhecido, para que os russos tivessem mais uma prova da sua determinação e da sua coragem em tomar decisões difíceis.
O problema que deu origem a este recente capítulo de uma nova guerra fria teve origem na tentativa de envenenamento de um antigo agente duplo de Moscovo e de uma sua filha. Só que esta tentativa de envenenamento teve lugar em solo britânico, e o governo de Londres, com apoio total dos Estados Unidos e de praticamente toda a União Europeia, reagiu duramente com a expulsão de umas dezenas de elementos do corpo diplomático russo, cujo governo respondeu, à boa moda de Putin, com medidas semelhantes ou ainda mais gravosas e ameaçadoras.
Face a este agravamento da situação, a comunidade internacional tem motivos suficientes para preocupações muito sérias.
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