Morreu não há muito, em pleno tribunal onde iria ser julgado pela segunda vez, aquele que foi presidente egípcio entre 2012 e 2014, altura em foi deposto por um golpe militar Chamava-se Mohamed Morsi e foi o primeiro chefe de estado daquele país eleito democraticamente ou, pelo menos, eleito em condições tidas como verdadeiramente democráticas. Morsi foi um activista que chegou à presidência do seu país com o apoio da chamada Irmandade Muçulmana, uma organização religiosa e social tida por muitos como fundamentalista. Este rótulo trouxe-lhe muitos adeptos, mas acarretou-lhe também uma forte oposição interna, além de uma grande desconfiança externa.
Apesar da sua vontade der ser aceite como presidente de todos os egípcios, tornou-se evidente que a eleição de Morsi veio dividir perigosamente o país e pôr ainda em causa as suas relações externas. O mais grave, porém, foi que a estrutura militar, que no período da “primavera árabe” tinha abandonado à sua sorte o então presidente Mubarak deu sinais claros de querer abandonar também o novo chefe de estado, abrindo caminho à ascensão política do comandante das forças armadas, o general al-Sissi, que se promoveu, entretanto, a marechal e, mais tarde, se proclamou vencedor de umas eleições em que terá obtido mais de 90% dos votos… O país entrava assim numa nova era política, mas a esperança na chegada próxima de uma primavera democrática acabou por dar lugar à realidade de um inverno sem fim à vista, como aconteceu noutros países do norte de África do Médio Oriente.
Mubarak, que governou o Egipto durante trinta anos, foi um presidente cujo peso na política externa não foi acompanhado por um prestígio igual a nível interno, devido às múltiplas acusações de que foi alvo e que se prendiam sobretudo com a corrupção, acabando por ser afastado ingloriamente depois de múltiplas manifestações populares que ficaram para a história recente do Egipto e que se traduziram no triunfo eleitoral de Mohamed Morsi.
É certo que este foi eleito democraticamente e fez promessas de democratização que pareciam sinceras, mas em que os militares não acreditaram, convencidos com estavam de que a sua ligação à Irmandade Muçulmana acabaria por arrastar o Egipto para a esfera do fundamentalismo religioso e político Na perspectiva dos militares, e não só, este fundamentalismo afastaria irremediavelmente o país não só do grupo dos seus amigos ocidentais, mas também de alguns dos países árabes, seus vizinhos e aliados. O estranho desaparecimento de Mohamed Morsi pode ter provocado, e certamente provocou, algum alívio entre os militares que detêm o poder, mas tornaram ainda mias difícil, senão mesmo impossível, a chegada de qualquer primavera política àquele país. Ao Egipto, e não só.
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