JOSÉ A. DA SILVA PENEDA

A política no nosso tempo

O mundo em que vivemos é muito diferente do que foi noutras eras. Hoje, o mundo é mais complexo, mais contestado, mais competitivo, mais diversificado e muito mais dinâmico, já que as mudanças se sucedem a um ritmo que nunca foi experimentado anteriormente.
Daqui decorre que a conetividade é um fator novo e muito determinante para a geopolítica. Se em 2005 havia um bilião de utilizadores de Internet, hoje são 4 biliões e o crescimento é exponencial. O mesmo acontece com os sistemas de ligação de todo o tipo. A conetividade tornou-se uma expressão poderosíssima dos poderes políticos, económicos e de ambição global.  

A interconectividade e interdependência entre assuntos nacionais, europeus e globais vão obrigar a uma grande agilidade nos processos de decisão, maior nível de resiliência, capacidade de definir visões estratégicas e capacidade de antecipação a novos problemas e realidades.

O poder no futuro já não vai ser determinado apenas pelos indicadores clássicos, como seja a dimensão da população o PIB, as despesas militares, e não estará apenas nas mãos dos Estados, mas também nos parceiros sociais, nas organizações não governamentais, nos municípios, nos grupos económicos e nos movimentos transnacionais. A conectividade entre todos vai fazer com que os que dominarem os nós das interconexões é que vão ter uma larga parte do poder.  

Mas para dominar esses nós, são precisas instituições fortes. Um país será cada vez mais o que são as suas instituições, mas o certo é que se tem olhado pouco para isso. É nas instituições que se geram as políticas públicas. Sem instituições de qualidade não pode haver políticas de qualidade. Maior competitividade, mais justiça fiscal, menos desigualdades, mais crescimento, melhores serviços públicos, tudo isso, depende largamente das instituições que tivermos e da sua capacidade de se ligarem com outras. 

Tenho para mim que são as instituições e a forma como trabalham um dos fatores mais decisivos para que sejam alcançados equilíbrios sustentáveis nas sociedades e é sabido que, quanto mais equilibradas forem as sociedades, melhor preparadas estarão para enfrentar os desafios do futuro.

Perante este quadro, a política deveria ser enformada de forma predominante por uma componente racional. Se as decisões em política têm como finalidade melhorar as condições de vida dos cidadãos, torna-se necessário definir prioridades, alocar recursos, gerir interesses e tensões e capacidade de prever problemas e de antecipar medidas. Ora tudo isto envolve fundamentalmente uma componente racional. Mesmo quando se definem estratégias, saber para onde se quer ir e como lá chegar, obriga a mobilizar tudo o que é fundamentalmente racional.

Mas nem tudo o que se faz em política é racional. A componente emocional também conta. Por exemplo, as campanhas eleitorais são momentos em que se tenta apelar às emoções e sentimentos dos eleitores. Nestes momentos por vezes a emoção supera a razão.

O problema como bem identifica Poiares Maduro é que, na política e nos tempos que vivemos a componente emocional tem-se sobreposto á componente racional. Por exemplo, os movimentos populistas assentam na mobilização do medo e da insegurança devido à imigração e desse modo criam emoções muito fortes com expressões eleitorais cada vez mais significativas.

Os populismos não questionam os resultados, mas alimentam-se das expectativas que criam e, na Europa, têm sabido encontrar terreno fértil.

Desde o fenómeno da imigração, às transformações tecnológicas, a uma perceção de injustiça que tem a ver com uma ideia sobre o agravamento das desigualdades ou falta de expectativas para o futuro, tudo isto é facilmente associado a sentimentos como o medo, a angústia e a insegurança.

Aqui chegados, o grande problema é saber se a Europa tem capacidade política para atuar de forma conjunta e coordenada de modo a contornar dificuldades e desafios e aproveitar oportunidades que, isoladamente, cada Estado Membro não pode ultrapassar, nem vencer. 

E essa capacidade tem de ser demonstrada através da apresentação de uma agenda em que fique muito claro que as áreas ambientais, da economia digital, da imigração, da capacidade de regulação, das alterações climáticas, da justiça fiscal, das desigualdades, do peso negocial nas relações internacionais serão abordadas à escala europeia. Uma agenda que demonstre as vantagens que advém para os cidadãos da abordagem europeia proposta para cada um dos temas.

Não é a democracia que está em questão, mas o modo como é praticada.  

 

Data de introdução: 2020-02-06



















editorial

VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE, AFETOS E RELAÇÕES DE INTIMIDADE (O caso das pessoas com deficiência apoiadas pelas IPSS)

Como todas as outras, a pessoa com deficiência deve poder aceder, querendo, a uma expressão e vivência da sexualidade que contribua para a sua saúde física e psicológica e para o seu sentido de realização pessoal. A CNIS...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Que as IPSS celebrem a sério o Natal
Já as avenidas e ruas das nossas cidades, vilas e aldeias se adornaram com lâmpadas de várias cores que desenham figuras alusivas à época natalícia, tornando as...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Adolf Ratzka, a poliomielite e a vida independente
Os mais novos não conhecerão, e por isso não temerão, a poliomelite, mas os da minha geração conhecem-na. Tivemos vizinhos, conhecidos e amigos que viveram toda a...