Apenas quatro de 20 países europeus incluíram os doentes mentais graves na prioridade de vacinação contra a covid-19, apesar de provas científica de que se trata de um grupo de alto risco, indica um estudo hoje divulgado.
Os autores do estudo, publicado na revista científica Lancet Psychiatry, analisaram os planos de vacinação, incluindo o de Portugal, e contactaram médicos de 20 países e chegaram à conclusão de que apenas a Holanda, a Alemanha, a Dinamarca e o Reino Unido reconheceram a "doença mental grave como uma condição médica de alto risco elegível para vacinação prioritária".
Esta pesquisa foi iniciada por um grupo de trabalho do European College of Neuropsychopharmacology (ECNP), uma sociedade independente com sede na Holanda, e contou com a colaboração de várias instituições de saúde e de investigação que se dedicam a esta área na Europa.
As conclusões da pesquisa indicam que a maioria dos países não faz nenhuma referência à saúde mental nas suas orientações de vacinação, enquanto outros atribuem prioridade de vacinação apenas aos doentes que estão internados em instituições de saúde mental, como é o caso de Portugal, segundo a pesquisa da ECNP.
"A maioria dos pacientes com doença mental grave vive e recebe tratamento na comunidade", não estando institucionalizados, não sendo, por isso, cobertos pelos planos de vacinação contra o vírus SARS-CoV-2, adianta a pesquisa.
Perante isso, os autores do estudo, assim como diversas organizações europeias de saúde mental, apelam às entidades europeias e às autoridades nacionais de saúde para que tomem medidas concertadas para proteger estas pessoas em situação de vulnerabilidade.
"Estudos recentes mostram que, para quem tem um distúrbio psiquiátrico, o risco de infeção aumenta em 65% e pacientes com doenças mentais graves têm entre 1,5 e duas vezes mais probabilidade de morrer", alerta Livia De Picker, do Hospital Psiquiátrico Universitário Duffel, na Bélgica.
Segundo a autora principal do estudo, verifica-se que existe uma grande preocupação com as questões da saúde mental para o período após a pandemia, mas "muitos daqueles que já estão numa situação grave enfrentarão estes problemas mais cedo e provavelmente de forma mais grave".
As conclusões da investigação revelam, assim, "uma visível falta de consideração pelos pacientes de saúde mental", sublinha Gitte Moos Knudsen, presidente do ECNP, ao alertar que, como a covid-19 "não respeita as fronteiras nacionais, são necessárias estratégias a nível europeu para conter o vírus".
Além da ECNP, o estudo envolveu a European Psychiatric Association, a European Federation of Associations of Families of People with Mental Illness, a Global Alliance of Mental Illness Advocacy Networks-Europe e a European Union of Medical Specialists Section of Psychiatry.
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