EUGÉNIO FONSECA

Plataformas Colaborativas

Ao participar em conferências, debates ou outros tipos de reflexão tenho reparado que passou a fazer parte da narrativa de muitos oradores, afirmações como “participações, ações, plataformas colaborativas”. Sempre para substituir as tradicionais sugestões de “trabalho em rede, em parceria, com partenariado”. Pelos contextos em que aparece, a nova terminologia só pode ser uma nova forma de dizer a mesma coisa. Não vejo outra razão. Também faz todo o sentido porque, já estamos habituados, quando as palavras, por muito significado que tenham, sejam desgastadas pelo tempo, pelo seu mau uso, e, por isso, venham a ser substituídas por outras que, por vezes, nem sempre são tão fortes, mas que trazem efeitos práticos diferentes. Neste caso, parece-me até que a expressão “colaborativa” dá mais força ao que se pretende alcançar. Todavia, como a experiência nos vem demonstrando, não basta mudar palavras e/ou designações para se alterarem as práticas. É preciso que estas mudem mesmo. E no que respeita ao trabalho em rede ou em parceria não há norma ou projeto que não o exija, seja qual for a área de intervenção, mas no domínio social é uma exigência sagrada. Porém, tenho a sensação – não estarei muito distante da realidade – que nunca se soube trabalhar bem em parceria. Não só no que respeita ao campo social. Até a administração pública, por muitas estratégias e planos, vive suportada por uma gestão atomizada que se alimenta de uma burocracia muito condimentada. Ministérios, Secretarias de Estado, Direções Gerais, Institutos… não se conseguem articular entre si e os níveis de eficiência e eficácia não são tão rentáveis como poderiam ser, se tal acontecesse. Criaram-se as Comissões Sociais de Freguesias e Inter-Freguesias, as Redes Sociais, todos os projetos exigem o estabelecimento de parcerias, como já referi, mas a cultura predominante não é a da colaboração, mas a do domínio ou da procura de recursos. As generalizações são sempre perniciosas, porque tomam o todo pela parte, e não deixo de reconhecer que há exceções. Elas, contudo, são oásis cujas boas práticas deveriam ser mais disseminadas. Mesmo assim, não sei se seriam suficientes para vencer muitas mentalidades resistentes às mudanças que se impõem.

Podemos abordar esta questão das parcerias numa perspetiva mais técnica. Confesso que me interessa ir por um caminho mais concreto, daquilo que são as vivências já experienciadas por mim próprio, ao longo de vários anos, ou por partilhas que me chegam da parte de técnicos e dirigentes de instituições. Em primeiro lugar, para uma verdadeira parceria tem de existir, em cada um dos pares, uma vontade firme e determinante de colaborar. Para isso, é preciso conhecer bem o que lhes é pedido e aceitá-lo, sabendo que se pode receber alguns proveitos, mas esse não é o desígnio principal. Outro aspeto fundamental é que não há parceiros de primeira nem de segunda. Todos, independentemente do seu estatuto eleitoral, tradicional ou financeiro, estão em paridade, face a qualquer assunto. A discriminação entre pares torna a parceria “um-faz-de-conta”. As decisões devem ser tomadas segundo as regras democráticas, com total transparência, e se as mesmas têm de ser preparadas com antecedência, que sejam com igualdade de oportunidades e com a total rejeição de “jogos de bastidores”. São, muitas vezes, estas “jogatanas” que levam representantes a abandonarem parcerias, ou outras a não apostarem nelas. Importantíssimo é que, regularmente, se faça a avaliação do trabalho realizado e o impacto que tem nas instituições representadas e na finalidade para a qual se constituiu. Não se pode deixar a avaliação para o fim, no caso de se tratar de um projeto, pois há sempre correções de rota a fazer, para alcançar melhores níveis de eficiência e em ordem a uma maior eficácia.

Diz-se que no, nosso país, há um problema estrutural que não facilita a predisposição para o trabalho em rede. A existência de uma predominante cultura intimista que leva cada um, neste caso, cada instituição, a cuidar de si própria. Reconheço, como já ficou indicado, que para muitos o trabalho em parceria exige uma grande mudança de mentalidades. Mas ela tem de acontecer, sob pena da fragilização das instituições, face à pouca rentabilização dos seus meios e à reduzida eficácia das suas ações.

Nenhuma IPSS se pode pensar hoje sem ser uma-com-as-outras. Os desafios que têm pela frente são enormíssimos e só unidas umas às outras e com organizações de áreas da economia social e mesmo de outros vetores da construção do bem comum, poderão encontrar razão para a sua continuidade e sustentabilidade para a sua viabilidade. 

 

Data de introdução: 2023-06-07



















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