DIA NACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

É preciso conhecer para incluir

O Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual foi instituído pela Assembleia da República, em 2023, por proposta da petição da Humanitas - Federação Portuguesa para a Deficiência Mental, com mais de 10.200 assinaturas.
Assim, o Parlamento, pela Resolução n.º 54/2023, consagrou o dia 10 de maio como Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual, que este ano foi celebrado pela primeira vez… um pouco por todo o país.
E que melhor forma de realizar mais uma etapa da Volta a Portugal da Solidariedade do que dar estampa às muitas e diversas formas como o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual foi assinalado de norte a sul.
Foram muitas as formas escolhidas pelas instituições que desenvolvem a sua ação na área da deficiência intelectual, sendo que a cidade de Anadia foi a escolhida para as comemorações oficiais, promovidas pela Humanitas, em parceria com a APPACDM local, e que contou com a presença da secretária de Estado da Ação Social e da Inclusão, Clara Marques Mendes.
A sessão decorreu no Museu do Vinho da Bairrada, em Anadia, e para além da governante, contou ainda com a presença de Helena Albuquerque, presidente da Humanitas, Joana Trindade e Silva, presidente da APPACDM Anadia, e Jennifer Pereira, vereadora da Ação Social da Câmara Municipal de Anadia, para além de muitas outras pessoas que lotaram a plateia, entre dirigentes, trabalhadores e utentes de diversas instituições sociais e outros convidados.
A presidente da Humanitas, entidade que promoveu a petição que levou à instituição do Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual, lembrou que a iniciativa teve e tem como grande propósito mostrar que “a deficiência intelectual precisa de ser sentida, precisa de ser conhecida, para ser incluída”, sublinhando a ideia que “é preciso conhecer para incluir”.
“Se existem questões comuns a todas as deficiências, existem particularidades da deficiência intelectual que precisam de ser faladas, discutidas, mostradas sob pena de, se isto não acontecer, estas continuarem a ser esquecidas e, por vezes, voluntariamente ignoradas”, acrescentou ao SOLIDARIEDADE, explicando a necessidade de um dia específico para a deficiência intelectual: “No dia 3 de dezembro celebra-se, todos os anos, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, com eventos em que nos debruçamos sobre temas comuns a todas as pessoas com deficiência, mas, mesmo aqui, verificamos que, até por vezes em eventos oficiais, as pessoas com deficiência intelectual continuam a não ser faladas nem ouvidas”.
E por isso mesmo, Helena Albuquerque reforçou aos presentes a necessidade de um dia como o 10 de maio para tentar derrubar as muitas barreiras que as pessoas com deficiência intelectual enfrentam.
“Na maior parte dos casos, a deficiência intelectual é invisível e, depois, há a impossibilidade, em grande parte dos casos, da representação na primeira pessoa”, afirmou, destacando: “O novo paradigma que hoje vivemos defende a autorrepresentação, a capacidade de decisão do próprio sobre a sua vida. Temos que concretizar este desiderato para todos”.
Por seu turno, a secretária de Estado Clara Marques Mendes afirmou a vontade do Governo em “estar próximo das instituições”, frisando: “Vocês fazem o verdadeiro serviço público e o governo tem a obrigação de estar convosco, pois só assim conseguimos resolver os problemas às pessoas. E, por isso, temos de ter atenção aos vossos anseios”.
A governante reconheceu que “o Estado nem sempre é sensível e não tem a rapidez nas respostas que as instituições precisam, mas contem com o Governo para ser a vossa voz”.
Clara Marques Mendes terminou dizendo que o governo “tem o compromisso de criar a Lei de Bases da deficiência e espero que reflita as preocupações das instituições”.
Para além da sessão institucional, um dos momentos altos da cerimónia foi a inauguração da exposição do concurso de pintura, que a Humanitas lançou a todas as suas associadas e cujo júri selecionou oito obras.
A exposição está patente, até dia 8 de junho, no Museu do Vinho da Bairrada e as oito obras ficarão perpetuadas num mural, a inaugurar a 3 de dezembro, Dia Internacional da Deficiência, no concelho de Anadia.
As obras selecionadas são: «O Castelo», de Carla Martins (APPACDM Coimbra); «O que eu sinto e o que tu vês», de Diogo Silva, Ana Santiago, João Diogo, Marco Lopes, Duarte Oliveira, Sandra Vala e Carolina Santos (APPACDM Marinha Grande); «Terra Mãe», de Licínio Morais (APPACDM Valpaços); «A Não Discriminação e a Igualdade», de Gonçalo Martins (APACI Barcelos); «Juntos voamos», do Grupo de clientes participantes na expressão plástica do Centro Santo Amaro; «Explosão de Cores», de Bruno Ponte, Bruno Vilela, Ricardo Vilela, Abel Ferreira, Reinaldo Ribeiro, Miguel Francisco, Manuel Francisco, José Mendes e Celina Santos (CERCIPOM); «Os de Cima e os de Baixo desejavam Voar», de Maria Santos (APPACDM Anadia); «Fica no meu (a)braço», de Maria Santos e Simone Moreira (APPACDM Anadia).
A mostra conta com as oito obras premiadas e com outras que estiveram a concurso, mas não foram selecionadas pelo júri.
A cerimónia institucional contou ainda com duas preleções, a cargo da docente Sofia Santos, que abordou o tema «Mentes brilhantes e empoderamento: direitos das pessoas com DID na teoria e prática», e Marco Paiva, que partilhou a experiência do grupo teatral Terra Amarela. A parte da tarde, no Museu do Vinho da Bairrada, foi preenchida por dois workshops, um de criação teatral («Como desenhar um território»), por Marco Paiva, e um outro de teatro-dança («Entre o Corpo e a Palavra»), por Inês Coias.

VOLTA A PORTUGAL

Para além das iniciativas em Anadia, um pouco por todo o país as instituições assinalaram o dia, cumprindo o seu principal desígnio que é dar visibilidade à pessoa com deficiência intelectual.
No Porto, a APPACDM da cidade quis “dar visibilidade aos cidadãos que enfrentam diariamente barreiras e dificuldades que os impedem de estar incluídos e de participar na comunidade, exercendo os seus direitos e deveres” e, nesse sentido, um grupo de utentes da instituição reuniu-se em frente ao edifício dos Paços do Concelho “para, simbolicamente, dar voz às pessoas com deficiência intelectual, no primeiro Dia Nacional que lhes é dedicado”.
“Somos todos responsáveis pela construção de uma sociedade inclusiva, com acesso à comunicação, à educação, ao emprego, à habitação e à saúde. Dia 10 de maio é um dia que vai sublinhar o empoderamento e autodeterminação da pessoa com deficiência intelectual, deixando, na História, a sua marca de vida”, considera a instituição.
Também no Ribatejo os utentes da APPACDM Santarém saíram à rua e, no Jardim da Liberdade, realizaram diversas atividades lúdicas, terapêuticas e desportivas, envolvendo a comunidade e as famílias.
Por outro lado, numa dinâmica de long table, a APPACDM Santarém promoveu uma mesa redonda sobre a temática de «SER!»: “Ser uma pessoa com deficiência intelectual; Ser Pai, Mãe, Irmã, Psicóloga, Professor, Terapeuta, Técnico de Apoio ao Emprego, Autarca… da Pessoa com Deficiência Intelectual!”.
Também a APPACDM Lisboa promoveu iniciativas fora de portas, em concreto um flash mob e um debate.
Na Praça do Município, em Lisboa, com direito à presença entre o público do edil Carlos Moedas, houve um animado flash mob com a participação da vereadora dos Direitos Sociais, Sofia Athayde, entre outros convidados. Seguiu-se a atuação do Grupo Pé de Dança, formado por utentes da APPACDM Lisboa, coreografados por Telmo Santos.
Ao final da tarde, já na Margem Sul, a data foi assinalada com mais uma edição da FNAC Talks, no Fórum Almada, com um debate sobre a temática da Deficiência Intelectual.
“O direito ao respeito, à expressão da vontade, a ter um emprego, a gerir o seu dinheiro, a fazer ouvir a sua voz”, foi por onde seguiu o debate, que teve como oradores convidados o presidente do Instituto Nacional para a Reabilitação, Rodrigo Ramos, a diretora técnica da Quinta dos Inglesinhos (APPACDM Lisboa) e Ana Silvestre.
De novo a norte, na cidade da Maia a forma como a APPACDM Maia – Espaço Aberto à Diferença assinalou a data foi através de um convívio no Parque de Avioso.
Entre os muitos objetivos da ação da instituição maiata na promoção deste convívio em espaço público, destaque para o de “sensibilizar e corresponsabilizar a sociedade e o Estado, nas suas várias formas, no papel que lhes cabe na resolução dos problemas do cidadão com deficiência intelectual e respetiva família” e ainda o de “defender e promover os interesses e satisfação das necessidades do cidadão com deficiência intelectual nas instituições, no trabalho, no lar e na sociedade”.
Bem perto da Maia, em Vila Nova de Gaia a data foi assinalada com a colocação de 10 mupis na cidade, que podem ser vistos até meados de junho na Avenida da República e na Rua Marquês Sá Bandeira. A iniciativa é da APPACDM Vila Nova de Gaia que assim dá visibilidade aos seus utentes e respetivos sonhos.
“Pretende-se com esta campanha dar voz aos nossos utentes, que muitas vezes, enfrentam diversas barreiras na sociedade. Juntos vamos construir uma sociedade mais inclusiva e lutar pelos direitos e autodeterminação da pessoa com deficiência intelectual”, sustenta a instituição gaiense.
Também a APPACDM Coimbra escolheu esta forma para dar visibilidade à deficiência intelectual, polvilhando a cidade do Mondego com mupis com imagens de utentes, tendo por mensagem os seus sonhos e desejos.
Por outro lado, os formandos dos polos de Montemor-o-Velho e Tocha foram ao Centro de Emprego da Figueira da Foz entregar lembranças simbólicas, representativas dos cursos ministrados na APPACDM Coimbra.
Esta foi a forma de agradecimento por “terem sempre as portas abertas para o trabalho em parceria na promoção do emprego das pessoas com deficiência intelectual”, revela a instituição.
Esta ação também foi replicada na cidade sede de distrito, com entrega de biscoitos confecionados pelos formandos da instituição aos técnicos do Instituto de Emprego e Formação Profissional de Coimbra.
Já na Guarda, ADM Estrela – Associação Social e Desenvolvimento, através do CACI de Vale de Estrela, inaugurou uma exposição de fotografia, a que os utentes deram rosto. A mostra, intitulada «Des’Complicar, só assim faz sentido», esteve patente durante uma semana na Escola Secundária Afonso de Albuquerque.
Com os utentes de CACI como principais protagonistas, os cartazes expostos têm “imagens, mensagens, pensamentos e reflexões de modo a sensibilizar a população estudantil para a deficiência intelectual, pois todos têm sonhos e desejos, tendo como foco primordial uma comunidade mais inclusiva e solidária”, defende a instituição.
Em Braga, a APPACDM local aproveitou o bom tempo que se fez sentir no passado dia 10 de maio e levou utentes e colaboradores a fazer uma caminhada pelas ruas da cidade dos Arcebispos, que mais não foi do que um convívio em movimento.
No distrito de Beja, os utentes da APPACDM Moura andaram pela cidade a interagir com a comunidade e a distribuir autocolantes alusivos à data.
“Esta data é dedicada a promover e consciencializar a inclusão e os direitos das pessoas com deficiência intelectual em todo o pais. Posto isto, decidimos fazer uns autocolantes e distribuir pela população de Moura, na Feira de Maio”, revelou a instituição alentejana, acrescentando: “Fomos muito bem recebidos pela comunidade neste nosso passeio”.
Também a APPACDM Setúbal assinalou a data, com os seus utentes a mostrarem num ambiente descontraído pinturas feitas pelos próprios. A instituição setubalense defende “a pertinência da reflexão sobre as questões específicas desta população e o compromisso com a satisfação das suas necessidades, sonhos e ambições. Entendemos que este deve ser um desígnio de toda a sociedade e o seu envolvimento é fundamental para o cumprimento dos nossos principais projetos”, sustentam os responsáveis pela instituição, lembrando a construção do Centro Miguel Simas.
Para lembrar a todos que “as pessoas com deficiência intelectual também são portugueses de pleno direito, com capacidades, sonhos e ambições”, a APPACDM Trofa partilhou, através de fotografias através das quais os utentes partilham os seus sonhos.
Por seu turno, a APPACDM Viseu abriu as portas à comunidade e convidou os visitantes a participar em ateliês experimentais demonstrativos das várias atividades que os utentes desenvolvem no seu dia a dia na instituição.
“Foi um dia cheio de interação e partilha que queremos repetir”, partilhou a instituição, que nesse mesmo dia entregou a chave aos novos moradores da Residência de Emancipação da APPACDM Viseu, um projeto piloto, inovador e precursor a nível nacional.
Por fim, em Évora, a APPACDM local conseguiu iluminar o Teatro Garcia de Resende com a cor amarela, a escolhida para representar a deficiência intelectual.

10 DE MAIO, PORQUÊ?

O dia 10 de maio foi escolhido para assinalar o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual por ser a data em que se comemora o nascimento, em 1906, de Dwight Mackintosh, na Califórnia, Estados Unidos da América.
Aos 16 anos de idade foi lhe diagnosticado atraso mental e foi institucionalizado num hospital psiquiátrico durante 56 anos. No entanto, devido ao seu gosto pelas artes plásticas, frequentou um centro de arte para artistas com deficiência e tornou-se num dos pintores mais conhecidos dos Estados Unidos. Aliás, Dwight Mackintosh tornou-se num dos pintores mais famosos do século XX, cujas reproduções de quadros, ainda hoje, se encontram à venda por todo o mundo, a preços elevados.
Com a criação do Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual, no dia 10 de maio, a Humanitas quer, através da vida deste artista, “valorizar e representar a pessoa com deficiência intelectual, no seu todo, as suas capacidades e o seu pleno direito de exigir o respeito e a atenção de todos nós de forma a que possa ser incluído em todos os lugares como ser único e especial que é”.

 

Data de introdução: 2024-06-05



















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