CNIS CELEBROU 44 ANOS A 15 DE JANEIRO E REUNIU VÁRIAS DEZENAS DE DIRIGENTES

A (difícil) sustentabilidade financeira das IPSS dominou encontro e debate

A CNIS - Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade assinalou, no passado dia 15 de janeiro, o seu 44º aniversário com um encontro que esgotou a lotação do Auditório Carvalho Guerra, na Universidade Católica, no Porto, em torno da temática «Dirigentes das IPSS. Desafios, Direitos e Deveres».
Dezenas de dirigentes anuíram ao convite para celebrar os 44 anos da maior confederação do Sector Social Solidário, com mais de 3.000 IPSS associadas.
Foi precisamente por aí que o presidente da CNIS iniciou a sua abordagem, fazendo a devida contextualização histórica, lembrando “o dinamismo que depressa congregou muita gente” e que, em 15 de janeiro de 1981, culminou com a criação da, então, União das Instituições Privadas de Solidariedade Social (UIPSS).
“Não era previsível em 1981 que em 2025 tivéssemos tantas IPSS agregadas nesta estrutura”, sublinhou o padre Lino Maia.
Antes, o presidente da Mesa da Assembleia Geral da CNIS, José Carlos Batalha, já havia prestado “homenagem aos dirigentes que já partiram” e deixado “uma palavra de saudação para todos os construtores da solidariedade”.
“Os dirigentes, os profissionais e os voluntários são as vozes e os instrumentos dos que mais necessitam, defensores do princípio fundamental do primado da pessoa humana”, sublinhou José Carlos Batalha, rematando: “Estamos em todo o lado e estamos para toda a gente. Um Sector Social Solidário coeso e forte tem de ser uma realidade”.
Mais à frente, o padre Lino Maia reforçou esta ideia, defendendo que “a missão das IPSS é nobre e essa grande missão é a proteção social aos mais vulneráveis”, sublinhando: “Se não fossem as instituições haveria mais pobreza, mais sofrimento e, pelo trabalho das instituições, há menos gente a ficar para trás”.
E se os utentes das IPSS são o foco da missão, o presidente da CNIS não esqueceu os trabalhadores, que considerou “são parte da solução”.
“Apesar da remuneração insuficiente, os trabalhadores continuam empenhados”, afirmou, dirigindo-se, de seguida, aos dirigentes, “muitas vezes maltratados, mas é por causa do seu trabalho e da sua dedicação que as instituições continuam a sua ação na proteção social, saúde e educação”.
De seguida, o padre Lino Maia abordou algumas temáticas candentes no dia a dia das instituições.
A primeira foi a sustentabilidade, com o líder da CNIS a lembrar que “sempre que se fala em sustentabilidade, pensa-se em questões financeiras, mas há outra, muito importante, que é a dos valores que estão na matriz das IPSS: Particulares, porque brotam da sociedade; Autonomia, nem sempre respeitada; Defesa da dignidade de todas as pessoas; Personalização, porque as pessoas não são números; Proximidade, porque somos instituições de aldeias; Voluntariado; Envolvimento, porque as instituições não podem ficar-se pelos que batem à porta, é preciso procurar quem precisa”.
O presidente da CNIS destacou que “privilegiar os mais vulneráveis e os mais carenciados deve continuar a caracterizar as instituições”, mas deixou um alerta: “No entanto, corremos um risco, não somos empresas sociais, porque se fôssemos toda esta filosofia era diferente”.
Referindo-se à sustentabilidade financeira, o padre Lino Maia frisou a importância da gestão nas instituições.
“Ainda assim, não podemos abdicar dos dirigentes, que não têm de ser gestores. Os dirigentes têm outras missões no seio da instituição. Agora, um bom gestor pode poupar muito”, sustentou, avançando dados sobre a situação do sector: “Neste momento, 50% das IPSS têm resultados negativos, sistematicamente e sempre as mesmas e muitas vezes bem geridas! Isto é preocupante. A comparticipação pública não tem acompanhado as necessidades. Atualmente, está nos 38%”.
Sobre a situação à data do Dia da CNIS, em que ainda decorriam negociações com o governo, o líder da Confederação dizia-se “moderadamente confiante” quanto à cooperação com o Estado.
“Estamos em negociações. Já estive muito confiante, já estive moderadamente otimista e, agora, estou moderadamente confiante”, afirmou, acrescentando: “No início de fevereiro devemos ter a assinatura do Compromisso de Cooperação e há o compromisso de, em fevereiro, com retroativos a janeiro, haver uma atualização significativa”.
A terminar, o padre Lino Maia a “tentações que continuam por aí” que colocam em perigo o Sector Social Solidário: “Não somos empresas sociais, o Estado coopera com as instituições, mas está aberta uma janela para cooperar também com o sector privado, o que já acontece com a Creche e, à socapa, a ERPI”.
Seguiu-se um período de microfone aberto com muitos dirigentes a aproveitarem para exprimir, essencialmente, as suas preocupações e dificuldades que diariamente obstaculizam o seu trabalho à frente das instituições. Uma espécie de tribuna pública na qual foram levantadas diversas questões, com destaque para as inúmeras queixas sobre como os dirigentes de instituições sociais são “maltratados”, cabendo-lhes toda a responsabilidade e não tendo nenhum reconhecimento.
Das muitas intervenções, destaque para as diversas que pediram “uma forma mais incisiva” de a CNIS se apresentar ao governo.
O encontro terminou com a leitura das Conclusões pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral da CNIS [ver Editorial Fevreiro 2025].

 

Data de introdução: 2025-02-06



















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