1 - Este ano, mais uma vez, no dia 25 de Abril, juntei-me às dezenas de milhar de pessoas que, nas ruas centrais da cidade do Porto, de cravo vermelho na mão ou na lapela, cumpriam a peregrinação civil em homenagem à liberdade que há 51 anos nos foi devolvida pelos militares do Movimento das Forças Armadas, numa Revolução pacífica de que o povo nas ruas logo se apropriou, pondo termo à mais longa ditadura então existente na Europa.
Faz bem à alma este ritual em que anualmente se replica aquele “frisson” que em nós suscita a memória desse já distante 25 de Abril de 1974, “o dia inicial, inteiro e limpo”, que nos provoca o “brilhozinho nos olhos” de que fala a canção de Sérgio Godinho.
A manifestação teve, como sempre, início no Largo Soares dos Reis, junto à antiga sede da PIDE na cidade do Porto, no mesmo local onde, antes do 25 de Abril, a Oposição comemorava as datas simbólicas da resistência republicana ao Antigo Regime, designadamente o 31 de Janeiro e o 5 de Outubro – e onde assisti à libertação dos presos políticos, no dia 26 de Abril de 1974; e teve o seu termo, como habitual, na Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade, verdadeiro centro cívico da Mui Nobre e Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto, à sombra de D. Pedro IV, o Rei liberal.
O cortejo de manifestantes foi porventura mais numeroso do que o já muito participado cortejo do ano passado, em que se comemorava a data redonda: os 50 anos do 25 de Abril.
A maioria eram jovens, correspondendo a uma alteração da composição etária que já vinha de anos anteriores, verificando-se uma cada vez maior e mais ruidosa e alegre participação juvenil, num processo de lenta substituição da geração que ainda guarda memória pessoal dos ominosos tempos da ditadura – mas que vai desaparecendo no preço a pagar pelo decurso do tempo.
(Como exemplo dessa participação e entusiasmo juvenil, temos a minha neta, com 6 anos, que já preparou sozinha um cartaz de homenagem à liberdade e que o exibiu na manifestação.)
Outra alteração da composição dos manifestantes relativamente aos anos anteriores traduziu-se na mais extensiva participação formal dos Partidos, com representações, ao que me lembro, do PS, do PCP (por si e por diversas organizações do respectivo universo), do BE, do Livre, do PAN e do VOLT, porventura por apelo ao momento pré-eleitoral que se vive no nosso país.
Mas os movimentos com coreografias mais animadas e mais numerosas eram as de colectivos populares de base e – sejamos justos! – a JCP.
2 – O 25 de Abril tem sempre o efeito de nos reconciliar com o país, com as suas fraquezas e defeitos, com os cravos a varrerem por um dia os desalentos que tanto ensombram o nosso dia-a-dia colectivo e nos trazem em regra zangados com Portugal.
Mas não foi preciso esperar mais de 2 dias após os festejos para sermos de novo confrontados com o nosso atávico atraso e com os males do costume.
Com efeito, no dia 28 de Abril, Portugal apagou-se.
Foi-se-nos a energia, a luz e, em muitos sítios, também a água.
Cá por casa, andámos à procura de velas e lanternas em lojas de conveniência; e até um rádio de pilhas, para saber alguma coisa do que se passava.
Entre as 11,30 e as 22 horas do dia 28 de Abril, ficámos sem poder levantar dinheiro nos bancos, sem poder fazer compras nos supermercados, por ruptura de “stocks”, muitos retidos no interior dos elevadores…
Para agravar os receios que tal ruptura com o quotidiano necessariamente provocava, ficámos também sem saber o que se passava, de tão insólito e intrusivo, qual a causa, por quanto tempo perduraria a catástrofe.
Não havendo energia, não havia igualmente televisão – essa nossa forma de integração no mundo que nos rodeia.
Por seu lado, o Governo manteve o silêncio durante largas horas, fugindo ao dever de informar os cidadãos sobre o quadro de emergência e assim falhando aos deveres do mandato que lhe fora conferido nas eleições recentes, omitindo uma palavra de serenidade e as instruções para lidar com a súbita contingência.
Claro que o facto de estarmos em pré-campanha para novas eleições legislativas tornou o Governo mais prudente na comunicação de factos negativos, ou perturbadores.
Os eleitores tenderão a assacar responsabilidades pelo colapso a quem manda – e quem manda é o Governo de turno.
O Governo falhou, nesse aspecto.
E também falhou noutro, mas aqui acompanhado por anteriores Governos, provenientes do mesmo ou de outros espectros partidários.
Pelo que li, não se pode deixar de dar razão ao PCP e ao Bloco de Esquerda, quando criticam a desistência da soberania energética de Portugal, traduzida na venda da REN e da EDP à China, promovida pelo Governo da troika, com a concordância dos sucessivos Governos entre 2011 e 2025; e também com a integração da rede eléctrica nacional na rede ibérica e europeia, tornando-a mais sensível a ocorrências como a do apagão de 28 de Abril, ao que tudo indica provocada por uma quebra ou sobrecarga súbitas de tensão ocorrida em Espanha.
3 – No dia 26 de Abril, decorreu o debate televisivo entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, no âmbito da pré-campanha das eleições para a Assembleia da República.
A fazer fé em todas as sondagens, um dos dois será o próximo Primeiro-Ministro, pelo que os temas que escolheram para a sua prestação constituirão certamente a agenda que será a base do programa do próximo Governo.
Foi o debate mais visto – por cerca de 2.7 milhões de telespectadores.
O Secretário Geral do PS, Pedro Nuno Santos, introduziu no decurso do debate o tema do injusto estatuto remuneratório dos trabalhadores das IPSS, nomeadamente dos cuidadores em lares ou unidades de cuidados continuados, comprometendo-se, se for eleito, a reverter essa injustiça.
Se for eleito, cá estaremos para lembrar a promessa; como faremos com Luís Montenegro, se for ele o ungido pelo povo, a reivindicar a prometida Lei das Finanças Sociais – que está por cumprir.
Seja para votar em qualquer deles, ou em qualquer dos outros candidatos, celebrar Abril é votar no dia 18 de Maio.
“Às urnas, cidadãos!”
Henrique Rodrigues – Presidente do Centro Social de Ermesinde
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