No âmbito da XVIII Festa da Solidariedade, a CNIS promoveu, no Clube UNESCO, em Beja, uma mesa-redonda subordinada ao tema «Multidimensionalidade do envelhecimento: das necessidades das pessoas mais velhas à configuração das respostas sociais».
Sendo o distrito de Beja um território crescentemente desertificado e envelhecido, o objetivo da iniciativa da CNIS passou por dinamizar a reflexão sobre as necessidades atuais e futuras das pessoas mais velhas, considerando as suas capacidades, multiplicidade das suas vivências, bem como a forma como a sociedade se organiza e mobiliza para lhes responder.
“As pessoas mais velhas são pessoas, não são clones”, começou por dizer o presidente da CNIS, na sessão de encerramento do evento, acrescentando: “Cada pessoa tem as suas deceções, afeções, feitos e sonhos. É muito importante vermos que cada pessoa é uma pessoa e, por vezes, nas ERPI, se as pessoas não forem respeitadas na sua individualidade, podem sentir-se sós”.
Na presença da secretária de Estado da Ação Social e Inclusão, o padre Lino Maia sublinhou: “O que queremos dos vários serviços do Estado é mais respeito pelas instituições, que têm o conhecimento, porque, muitas vezes, o que vem ditado de cima não é o melhor para as pessoas”.
Clara Marques Mendes respondeu de pronto, lembrando que, “por vezes há divergências, mas fruto de um grande diálogo, chegamos a consensos”.
“Vou divergir porque há um ano e meio há uma nova forma de relacionamento com as instituições”, referiu a governante, acrescentando, dirigindo-se aos representantes das instituições presentes: “O Estado aprende convosco, porque vocês é que sabem o que se passa no terreno e, por isso, é que não há diploma que não seja discutido com o Sector Social Solidário”.
Sobre a temática abordada ao longo da tarde, a secretária de Estado frisou que “a única solução não pode ser a institucionalização”, lembrando o recente projeto do SAD+Saúde.
“Temos de dar respostas para as necessidades atuais e as respostas têm de adaptar-se. Temos de ter respostas inovadoras para que as pessoas fiquem em casa se assim o quiserem”, afirmou, deixando um desafio: “Devemos promover o voluntariado sénior para também combater os problemas de saúde mental e para termos idosos mais ativos e felizes, promovendo, igualmente, a intergeracionalidade”.
Na mesa-redonda, sob moderação de Filomena Bordalo, assessora da Direção da CNIS, estiveram António Leuschner, médico psiquiatra e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia, Helena Recto, consultora no Sector Social e Solidário, Maria João Quintela, vogal da Direção da CNIS e presidente da Associação Portuguesa de Psicogerontologia, e ainda Fernando Romba, primeiro secretário do Conselho Intermunicipal da CIMBAL – Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo.
Na sessão de abertura, Maria João Ganhão, vereadora da autarquia de Beja, já deixara o mote: “Envelhecer tem de ser um processo com dignidade”.
António Leuschner fixou a primeira grande ideia: “Usemos a designação mais velhos, em vez de idosos”.
“As respostas que as pessoas precisam não podem ser formatadas. É preciso ouvir as pessoas”, defendeu o médico, lembrando: “As pessoas não começam a envelhecer aos 65 anos, envelhecer é o traço que fica da passagem do tempo. A idade não é uma doença. Há 100 anos, a esperança média de vida era de 40 anos e agora está nos 80 anos”.
Por outro lado, “Portugal é o quarto país mais envelhecido da Europa, mas em qualidade de vida, somos muito maus”, destacou, alertando: “É preciso alterar esta situação. Dar mais vida aos anos é essencial”.
O modelo da mesa-redonda escolhido foi a seleção de algumas questões colocadas pelas instituições no ato de inscrição e que foram depois colocadas aos intervenientes.
Maria João Quintela começou por dizer que “a idade não chega para definir do que as pessoas precisam”, porque “a circunstância da pessoa e o seu percurso de vida são um mudo de diversidade”.
“A idade é uma arma e um parâmetro”, asseverou a presidente da Associação Portuguesa de Psicogerontologia, que lembrou: “Não há duas pessoas com 70 anos iguais”.
A também médica referiu ainda que “as pessoas não se importam de viver em coletividade, mas não querem viver coletivamente”, sublinhando que para um envelhecimento ativo são necessárias “saúde, participação e segurança” e que “é preciso que o conceito de cuidador não substitua o conceito de família”.
Já a consultora Helena Recto considerou que “a visão panorâmica é fundamental, mas, perante a realidade, não se pode falar de presente e de futuro na mesma ideia”, porque “diariamente os desafios são enormes e, por vezes, face à exigência, há estrangulamentos quando se quer falar de futuro”.
Por outro lado, Helena Recto frisou que “só é possível inovar nos atuais utentes se se lhes der uma resposta individualizada e isso só se consegue com a equipa que cuida deles, que é quem ouve, lava, levanta e fala com as pessoas”.
E porque considera importante “levar as pessoas a encontrar as suas antigas atividades, a consultora deixou uma sugestão: “Podemos continuar a chamar-lhe Plano de Desenvolvimento Individual, mas porque não Plano de Função Individual, dando um sentido de responsabilidade ao utente”.
Outra ideia lançada por Helena Recto foi a da “prescrição cultural para os mais velhos, que é muito significativa, porque ajuda as pessoas a sair da instituição e a ‘regressar’ à comunidade, a ver e a ser visto”.
A propósito de algo que Maria João Quintela já referira – “O valor dos mais velhos portugueses tem de ser tido em conta” –, a consultora deixou a questão: “Quanto custa o saber dos mais velhos?”.
Já Fernando Romba reafirmou o compromisso das autarquias do Baixo Alentejo com a causa dos mais velhos, destacando que “os municípios, em parceria com as IPSS e as forças de segurança, tentam mitigar os problemas dos mais velhos”, afirmando que “a CIMBAL tenta juntar as pontas soltas”.
Foram muitas as ideias abordadas, debatidas e que colocam outras questões que ao longo do tempo as IPSS vão enfrentar na sua missão de cuidar dos mais velhos, ou como lhes preferiu chamar Clara Marques Mendes, os “jovens há mais tempo”.
P.V.O. (texto e fotos)
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