O capacete de bicicleta reduz em 88 por cento o risco de traumatismo craniano, principal causa de morte de crianças em acidentes, mas só uma minoria o usa, revela um estudo da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.
O estudo "Pedalar com a cabeça", realizado no passado mês de Outubro em vários parques e ciclovias da Grande Lisboa, teve como objectivo avaliar o uso do capacete e as suas condicionantes em crianças dos cinco aos 14 anos, mais vulneráveis a traumatismos cranianos do que os adultos.
"Uma das principais conclusões do estudo foi que um número insatisfatório de crianças usava capacete", disse Sofia Ramiro, uma das autoras do trabalho, defendendo que os pais devem ter um "papel muito activo" no incentivo ao uso deste dispositivo de segurança.
Das 100 crianças envolvidas no estudo, apenas 37 usavam capacete e destas a maioria tinha-o mal colocado ou desrespeitando as condições de segurança, pelo que apenas seis capacetes estavam a ser correctamente utilizados. "Embora as lesões dos tecidos moles e músculo-esquelético sejam mais comuns, os traumatismos cranianos são responsáveis por um maior número de mortos e incapacidades permanentes", sublinha o estudo, adiantando que as lesões mais frequentes são fracturas do crânio (86 por cento) e contusões cerebrais (73 por cento).
Segundo os autores do estudo, "a sinistralidade rodoviária por acidentes de bicicleta, na faixa etária dos cinco aos 14 anos, é um problema de saúde pública emergente em Portugal".
O estudo divulga dados da Direcção-Geral de Viação (DGV) e do Observatório Nacional de Saúde (ONSA) sobre o número de acidentes com crianças em bicicletas em Portugal. Segundo os dados da Direcção-Geral de Viação, 46 crianças morreram e 488 ficaram feridas gravemente em consequência de 3.366 acidentes com bicicleta ocorridos entre 1996 e o primeiro semestre deste ano.
Relativamente ao uso do capacete, verificou-se que de 1996 a 2003, inclusive, nenhuma das vítimas utilizava este dispositivo de segurança.
Em 2004, em 313 acidentes registados, que fizeram uma vítima mortal e 21 feridos graves, apenas uma criança usava capacete, bem como no primeiro semestre deste ano, em que ocorreram 100 acidentes, dos quais resultaram a morte de uma criança e 14 feridos graves, e em que apenas uma vítima usava capacete. Os números da DVG revelam ainda que a grande maioria das vítimas dos acidentes com bicicleta são do sexo masculino.
Os dados do Observatório Nacional de Saúde, mais concretamente do sistema de monitorização e registo ADELIA (Acidentes Domésticos e de Lazer - Informação Adequada), que tem por base uma amostra constituída por hospitais e centros de saúde, registam, no ano passado, 9.407 acidentes com crianças dos cinco aos 14 anos.
Dentro destes, os acidentes de bicicleta resultaram em 364 vítimas, das quais 171 sofreram lesões que envolveram a cabeça (47 por cento), sendo o crânio afectado em 69 casos (19 por cento).
Apesar da percepção generalizada que o capacete confere uma protecção moderada ou mesmo elevada em relação aos traumatismos cranianos, 72 a 75 por cento das pessoas acredita que o risco de ter um acidente com a cabeça "é desprezável", acrescenta o estudo.
Os pais e as crianças inquiridos no estudo apontaram como razão mais frequente para explicar a ausência do capacete o esquecimento.
Para os autores do estudo, deve haver uma sensibilização para incentivar a compra e o uso incondicional do capacete e alertar também para a importância da sua correcta colocação e condições de segurança. "A implementação de programas de sensibilização, que visam educar as crianças, permitem, desde cedo, a interiorização da noção de vulnerabilidade, para que as crianças adeqúem os seus comportamentos consoante o risco a que estão expostas", salienta o estudo.
29.11.2005
Data de introdução: 2005-12-07