Especialistas em pneumologia e imunologia defenderam que as crianças que frequentam infantários nas cidades contactam com um mundo mais "artificial" do que o rural, o que acaba por condicionar um correcto desenvolvimento do sistema imunitário.
Para Helena Sá, do Departamento de Imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, os infantários são cada vez mais ambientes que não fomentam a formação de anti-corpos que protegem os seres humanos das doenças.
O tema "Infecções respiratórias nos infantários: imunização adequada?" vai estar em discussão sábado, no Porto, no âmbito do XIII Congresso de Pneumologia do Norte, que começa quinta-feira na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto.
"Limpar muito é correcto, mas elimina microrganismos necessários para o desenvolvimento do sistema imunitário", defendeu a especialista em declarações à agência Lusa.
Na sua opinião, os infantários devem tentar reproduzir um ambiente natural às crianças, proporcionando-lhes o contacto com a terra, por exemplo, para que a estimulação do sistema imunitário decorra de forma harmoniosa.
"Não devemos criar ambientes esterilizados, mas ambientes higiénicos", sustentou. Helena Sá sustentou que se "constata que há uma maior incidência de infecções respiratórias nos infantários à custa do aumento de morbilidade". "O que se pretende é que a maturação do sistema imunitário seja progressiva e estimulada de forma natural", sustentou.
Agostinho Marques, director do Serviço de Pneumologia do Hospital de S. João, Porto, referiu que a preocupação dos médicos não se reporta, por isso, à gravidade da infecção, mas ao condicionamento de um correcto desenvolvimento do sistema imunitário da criança.
Nos infantários, "as crianças são infectadas de uma maneira demasiado massiva, o que não dá ao sistema imunitário tempo para responder na perfeição", afirmou o especialista. Assim sendo, refere, a ideia de que as infecções frequentes que as crianças sofrem nos infantários beneficiam o desenvolvimento de uma imunidade rápida e eficaz é um mito.
O problema coloca-se nas exigências nos novos estilos de vida e da crescente tendência da qualidade de vida urbana para a esterilização. O ponto da situação da gripe das aves e o Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose são, entre outros, temas a abordar no congresso que começa esta quinta-feira no Porto.
15.03.2006
Data de introdução: 2006-03-23