Estudo revelado ontem pelo Banco de Portugal revela que existiam, em 2006, 300 mil crianças pobres. O nosso país é também o quarto da Europa com maior percentagem de crianças carenciadas (24%), apenas é ultrapassado pelos países do Leste (Roménia, Lituânia e Polónia). Ministro do Trabalho admitiu que situação pode agravar-se com a actual crise.
Tatiana, de cinco anos, vive numa barraca de tábuas e chapas de zinco, sem água e sem luz no concelho de Santa Cruz, na Ilha da Madeira. Tem medo do escuro dos ratos e das lagartixas que rodeiam a casa. "Quando é que vamos sair daqui?", não pára de perguntar à mãe.
A menina madeirense é uma das 300 mil crianças portuguesas que vivem na pobreza. Um número que faz de Portugal um dos países da União Europeia (UE) com mais crianças pobres (24%), apenas ultrapassado pelos países de leste que recentemente aderiram à UE: Roménia, Lituânia e Polónia, de acordo com dados recolhidos em 2004 e divulgados no ano passado pela Comissão Europeia.
Os dados nacionais remetem ainda para a existência de dois milhões de pobres, segundo uma análise divulgada ontem pelo Banco de Portugal e que teve por base informações do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos a 2005/2006. Estes valores são anteriores à actual crise económica e podem já ter aumentado, reconhece Bruto da Costa, presidente do Conselho Económico e Social.
A opinião é partilhada pelo autor do estudo, Nuno Alves do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, que nas conclusões sublinha: "O aumento da taxa de desemprego" irá contribuir "para aumentar a pobreza em Portugal no futuro próximo".
Também o ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva, reconheceu ontem aos jornalistas que a crise actual "pode agravar as situações de desigualdades sociais" e que este "é um risco maior em virtude de desemprego".
Por isso "a prioridade é combater o desemprego", acrescentou. O ministro disse ainda desconhecer os números do Banco de Portugal e adiantou que trabalha apenas com os europeus que colocam os níveis da pobreza nacional em 18%.
O Presidente da República, Cavaco Silva, alertou para os números do Banco de Portugal, afirmando que o combate ao desemprego terá que ser uma prioridade, sendo necessário olhar para aqueles que estão a ser atingidos de forma particular pela crise".
Para Manuela Silva, presidente Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), o número actual de pobres deve ser maior do que o de 2006. "Os trabalhadores pobres devem ter aumentado devido ao agravamento das condições de trabalho e à precariedade", refere. Uma situação que provoca "maior incidência relativa na população infantil", explica.
Estas crianças pobres estão geralmente integradas em famílias numerosas. E como indica o estudo de Nuno Alves as famílias com mais de seis elementos são as mais deficitárias (42,2%), justificando assim a elevada taxa de crianças carenciadas. Mas, os agregados com apenas uma pessoa também apresentam valores elevados (26,8%).
Esta última realidade ajuda a justificar os níveis de pobreza infantil, segundo Eugénio Fonseca, presidente a da Cáritas. "Nestes casos as crianças são confiadas às mães que, por tradição, ganham menos que os homens e têm de suportar os custos das crianças", diz.
A viver em situação de pobreza estão também os idosos reformados. "A precariedade acentuada nos idosos deve-se ao facto de estes não terem feito descontos e de agora terem uma pensão mínima que corresponde a metade do nível médio do limiar da pobreza", diz Eugénio Fonseca.
São consideradas pobres as pessoas que vivam com menos de 382 euros mensais.
Fonte: Diário de Notícias
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