Tem apenas sete anos, é portador de trissonomia 21 e é hiperactivo. Manuel ganhou desde o primeiro dia o estatuto de mascote do grupo que participa nas "Férias para mães de pessoas com deficiência", que o Santuário de Fátima organiza.
De cabelo loiro brilhante e uns olhos azuis, Manel pouco fala mas garante quem esteve com ele uma semana que "é inteligentíssimo". "Ele percebe tudo e exprime-se à maneira dele, e se não o entendemos logo ele vai comunicando com gestos e sons até percebermos o que quer" explica Diolinda Ferreira, 61 anos, que por estar desempregada tem aproveitado o tempo para estar como voluntária em diversas actividades.
Chamada de "avô" pelos mais novos e por uns quantos mais velhos, Diolinda acompanhou cada passo dado por Manuel. "Mas como ele se mexe muito e eu tenho medo de o perder de vista, todos os outros voluntários vão dando uma ajuda", explica, adiantando que durante a semana de actividades, o pequenote "chamou pela mãe duas ou três vezes" e "nunca teve dificuldade em adormecer".
Wilson, 13 anos, Sofia, 14 e Gina, 15 anos, são outras crianças deficientes, entre os 10 participantes, que estiveram ao longo de uma semana no Centro de Espiritualidade de Francisco e Jacinta Marto, localizada em Fátima. Um espaço da Comunidade Silenciosa dos Operários da Cruz que está vocacionada para o trabalho com pessoas deficientes e doentes.
E foi o trabalho desenvolvido por esta instituição que levou o Santuário a lançar o desafio. "A ideia era proporcionar às mães que têm filhos deficientes uma semana de férias" explicou ao JN o padre Antunes, responsável pelo Movimento da Mensagem de Fátima.
"Queremos que os deficientes passem aqui uma semana, participando em várias actividades, para que as mães que tomam conta deles o ano inteiro, possam ter uns dias de descanso", frisou.
A iniciativa começou em 2006 e apenas por uma semana, destinada a deficientes entre os 7 e os 30 anos. "Agora já vamos com três turnos. Afluência tem sido cada vez maior e há cada vez mais pedidos" revela o responsável, admitindo que este ano recusou bastantes solicitações, pelo que em 2010 "o santuário poderá realizar um quarto turno".
Destinada inicialmente apenas aos deficientes, esta iniciativa cedo se alargou às progenitoras. "Há mães que optam por ficar com os filhos durante esta semana e têm actividades próprias" revela o sacerdote admitindo que "em alguns casos há dificuldade em deixar os filhos".
E a pensar nestas mães, a Comunidade elaborou algumas actividades especificas. "É importante que as mães desenvolvam esta caminhada com os filhos" explicou a irmã Patrícia Rolando adiantando que "há momentos em que os filhos estão separados das mães".
Neste primeiro turno, que ontem terminou apenas duas mães quiseram acompanhar os filhos. Fernanda Loureiro, 50 anos, é mãe de Eduardo, 17 anos, e participa pela primeira vez na iniciativa.
"Já percebi que aqui tomam bem conta deles, por isso para o ano talvez o Eduardo venha sozinho", disse Fernanda garantindo que o filho, portador da doença "Poliseus" "não é um entrave" na sua família.
Eduardo, que se desloca numa cadeira de rodas e que necessita de ajuda constante para tudo, frequenta durante o dia um centro de actividades ocupacionais em Aguiar da Beira, onde a família reside.
Fernanda, que tem mais uma filha adoptiva, de 10 anos, achou esta iniciativa do santuário "muito enriquecedora e positiva". "Aqui durante uma semana, esquecemos a vida lá fora e os problemas", assegura.
Outra mãe que participou neste primeiro turno, tem dois filhos deficientes, um deles movimenta-se de cadeira de rodas. Residem em Vale de Cambra. E elogiam a iniciativa.
Fonte: Jornal de Notícias
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