III FESTA DA SOLIDARIEDADE, VISEU

Festa das instituições mostra trabalho solidário ao país

A terceira edição da Festa da Solidariedade que a cidade de Viseu acolheu a 19 de Setembro significou a afirmação de uma iniciativa que pretende dar visibilidade ao mundo da solidariedade. Inserida no recinto da Feira de S. Mateus, a Festa contou com a presença de uma centena de instituições e mais de duas mil pessoas vindas de todo o país, entre utentes, funcionários e amigos que quiseram juntar-se à iniciativa.
A animação em palco estava marcada para as 10:30 horas da manhã, mas já antes se via a azáfama de quem montava barraquinhas e tendinhas para expor o trabalho de um todo bem maior que aquele que se viu. O colorido dos cartazes, do artesanato, dos trabalhos de miúdos e graúdos foi dando dimensão e preenchendo a vista para quem chegava e se ia acomodando perto do palco ou nas sombras que encontrava. No palco começaram os primeiros acordes de um público que neste dia também foi artista e que mostrou aos colegas das outras instituições o trabalho desenvolvido.

Foram cerca de quatro dezenas de actuações que se inscreveram e no recinto estiveram em exposição mais de trinta stands. Os mais velhos, entre um ou outro pé de dança, descansavam de quando em quando, porque “as pernas já não deixam bailar”, como disse Maria da Piedade Frias, de 71 anos. Com vontade de estar ali, a utente do Centro Paroquial de Lamosa, em Viseu, acha “bom organizarem estas coisas”, porque “é um convívio, as pessoas falam umas com as outras e vêem coisas que nunca viram”, refere. Já Clarisse Silva, que veio de S. João da Madeira, gostou mesmo foi do passeio, mas também “daquelas meninas do Porto que estiveram a cantar há pouco”. Manuel Pinto que a acompanhou não sabe responder à pergunta sobre qual a actuação que gostou mais, no entanto garante que está tudo “muito agradável, incluindo o lugar da festa”.

Do lado dos responsáveis técnicos é unânime a importância de um evento como este para “dar visibilidade” e “uma cara a quem são os actores desta solidariedade”, como refere Carla Correia, psicóloga na Casa do Povo da Abraveses, em Viseu. Paula Martins, directora técnica no Centro Paroquial de Nelas também considera a iniciativa “muito boa” e diz que os idosos do Centro mostraram “muito interesse” em participar. No entanto, a responsável alerta para o facto faltarem condições ao recinto. “Por exemplo não há cadeiras, não há almoço, são certas condições que deveriam ser asseguradas pela organização”, refere.

Mas o momento alto da iniciativa, à semelhança dos anos anteriores, aconteceu com a chegada da Chama da Solidariedade ao recinto, o símbolo dos valores solidários que a CNIS quer mostrar ao país. Desde Braga, passando por Chaves, Vila Real e Lamego, a Chama passou de mão em até à entrada triunfante no recinto da festa. João Carlos Dias, coordenador da iniciativa recusa-se a fazer comparações com anos anteriores, mas garante que a simbologia está bem viva. “Não dá para comparar com outros anos, porque fazemos percursos diferentes, percorremos zonas diferentes com maior ou menor dimensão de instituições. Este ano, optámos por um modelo ligeiramente diferente do ano anterior e em vez de andar de instituição em instituição, fizemos um esforço para que elas se juntassem e conseguíssemos aglomerados de pessoas maiores”, explica. Apesar do sucesso, o dirigente da CNIS diz que ainda existem vários aspectos a melhorar como a escolha da data. “A comunidade escolar, por exemplo, ficou de fora, uma vez que a Chama ocorre na primeira semana de aulas e seria importante envolvê-la, não só pelo número de pessoas que atingimos, mas pelo tipo de pessoas que atingimos, porque a essas podemos deixar uma mensagem de futuro”, refere. Paulo Pinto, motard, acompanhou a Chama e garante que é com “emoção” que o grupo participa, pois encontram “grande significado”. Lurdes Lourenço, funcionária da delegação de Viseu da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental, cujos utentes acompanharam a Chama na chegada à festa fala num “momento marcante para toda a gente”. “Os nossos utentes estão muito contentes por participarem, nota-se isso muito bem”, diz.

Vieira da Silva, Ministro do Trabalho e da Solidariedade, que desde o primeiro ano tem marcado presença, voltou a subir ao palco ao lado do presidente da CNIS, Lino Maia. O dirigente solidário salientou a acção de milhares de instituições espalhadas por todo o país e do papel que têm tido numa altura de crise social e económica. “Encerraram empresas, aumentou o desemprego, foram atingidas muitas famílias e muitas pessoas. Não encerrou nenhuma IPSS. Nenhum utente foi despedido por falta de pagamento da sua comparticipação. Nenhum trabalhador de IPSS viu encerrado o seu posto de trabalho por efeito da crise”. O líder da CNIS não deixou passar em branco as eleições legislativas que se avizinhavam e disse que agora “todas as forças políticas já colocam a acção das IPSS no centro dos seus programas para as eleições”. “Elas agora sabem que as Instituições de Solidariedade têm passado e têm presente e que sem elas não há futuro”, acrescentou. Aproveitando também a presença do presidente da Câmara Municipal de Viseu e simultaneamente presidente da Associação Portuguesa de Municípios Portugueses, Fernando Ruas, Lino Maia sublinhou a independência das IPSS em relação às autarquias. “As autarquias são Estado. As IPSS não são Estado, mas estão no Estado. Mais do que de transferências de competências há que assumir e servir competências, por parte das IPSS e por parte das Autarquias”. Às instituições, o presidente da CNIS lembrou que 2010 será o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, deixando o desafio de elaborarem programas de actividade que incluam pequenas iniciativas alusivas ao tema.

O Ministro do Trabalho e da Solidariedade deixou uma mensagem de agradecimento pelo trabalho que as instituições têm desenvolvido ao longo de décadas. Vieira da Silva diz que o Estado “deve cada vez mais continuar a ser um parceiro firme e seguro destas instituições”. O titular da pasta referiu que visitou mais de 200 equipamentos em todos os distritos de Portugal continental e garante que o sector social português tem “cada vez mais força e é hoje um parceiro insubstituível do Estado”.

No final, ficou o anúncio do local de realização da Festa da Solidariedade para o próximo ano. Castelo Branco foi a cidade escolhida e para manter o “farol” da solidariedade acesa, João Carlos Dias já pensa numa mobilização especial para o transporte da Chama. “Vamos fazer um percurso que irá, provavelmente, de Viseu à Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco. Gostava que passássemos pela serra, mas para isso vamos que ter uma mobilização muito especial, o que, dependendo da data, poderemos envolver clubes de montanhismo e quem sabe uma escalada vertical com a Chama”, avança.

Texto e fotos: Milene Câmara

 

Data de introdução: 2009-10-09



















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