CYBERBULLYING

Especialista defende regras para uso de telefone e Internet

O cyberbullying, acto de violência intencional e repetido através da Internet ou telemóvel, é um fenómeno em crescendo usado por gozo ou para humilhar que afecta principalmente as raparigas em situações em que dificilmente os agressores são punidos. As conclusões são do director do serviço de Pedopsiquiatria do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), Justino Gonçalves, que fez uma recolha de estudos sobre o cyberbullying. "O cyberbullying é um problema de comportamento, não é uma doença. Este conceito nasce a partir de bullying. É uma situação que pode acontecer na escola, no trabalho, em que intencionalmente alguém quer prejudicar ou molestar outra pessoa, quer seja física ou psicologicamente", explicou o especialista.
Justino Gonçalves referiu que encontrou "apenas sete artigos" sobre o tema numa base de dados internacional de artigos científicos e salientou que esta não é uma definição aceite por toda a comunidade científica.

Da análise dos estudos, o responsável concluiu que o cyberbullying envolve o uso de meios electrónicos para ameaçar ou molestar de forma a "humilhar, provocar medo e desamparo" na vítima (cybervictims), usando o correio electrónico, salas de conversação on-line, telemóveis.
Em regra os agressores (cyberbullie) "são anónimos e dificilmente punidos". A violência pode ser praticada através do envio de mensagens cruéis e ameaçadoras, criação de páginas na Internet com conteúdos que ridicularizam a vítima, colocação de fotografias ou filmes on-line, invadir correio electrónico alheio e partilhar o seu conteúdo. "Aqui os agressores estão escondidos atrás de um ecrã e por isso não há impacto emocional. Para além de as consequências poderem ser mais graves, podem também ser exponenciais em termos de vítimas, porque a mesma mensagem pode ser mandada para milhares de pessoas", salientou.
Já no bullying, segundo o especialista, a intimidação é feita presencialmente e pode haver reacção, que leva ao fim da agressão, quando o agressor vê as consequências graves do seu ato. "Aqui não há consciência do mau estar que estão a provocar. Há um risco maior de suicídio devido às práticas de cyberbullying comparado com o próprio bullying", sublinhou. No primeiro caso a "premeditação" é maior e, de acordo com o especialista, o facto de muitas vezes ser praticado em casa, no computador doméstico e não na escola faz com que não haja supervisão. "Os pais em regra são excluídos. Não fazem ideia do que os filhos estão no quarto a fazer", referiu.

Justino Gonçalves referiu que as vítimas tendencialmente são raparigas e mais velhas do que o jovem que faz a agressão. Os ciberbullies "não têm regras e limites", possuem uma "maior agressividade" em geral e possuem uma maior incidência de problemas psicológicos, sociais, comportamentais e no seu meio ambiente.Um fenómeno "frequente" no cyberbullying é, segundo o médico, vítimas tornarem-se também agressoras por "retaliação".
O director do serviço de Pedopsiquiatria do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), é favorável à definição de regras claras sobre o uso de telefones e computadores nas escolas para prevenir a ocorrência de cyberbullying, um acto de violência intencional e repetido. Justino Gonçalves afirma que a prevenção deste fenómeno, que usa as tecnologias de informação e comunicação (TIC), passa pelo envolvimento de "todos, como uma medida de saúde pública".

Este conceito, que nasce a partir do bullying, é, segundo o médico, uma situação que pode acontecer na escola, no trabalho, em que intencionalmente alguém quer prejudicar ou molestar outra pessoa, quer seja física ou psicologicamente. Por isso mesmo, considera que é preciso envolver as instituições, professores, pais, estudantes, profissionais de saúde, polícia e a comunidade em geral.
Para Justino Gonçalves, é necessário ainda impor "regras claras sobre o uso de telefone e computadores e sobre as consequências do seu inadequado uso", ou seja, uma definição "clara de que o cyberbullying pode ser sancionado com perda de acesso a computadores, suspensão ou expulsão".
O responsável defende que pais e filhos devem assinar na escola o regulamento do uso de TIC ou um termo do uso aceitável da Internet e propõe que, por exemplo, o tempo de utilização da Internet deve ser limitado, que se ensine às crianças que nunca devem aceitar encontrar-se com alguém que conheceram on-line ou restringir os acessos.

É preciso também, frisou, mudar o sistema de crenças acerca do bullying como sendo algo aceitável. "É importante alertar que o bullying não é normal, que não é normal nós divertirmo-nos à custa do sofrimento alheio", frisou. Justino Gonçalves considerou que a utilização dos termos em inglês também devia ter substituído pelas designações portuguesas "maus tratos" ou "agressões", para chegar a todas as camadas populacionais.
O responsável referiu ainda que o caso "Leandro" de Mirandela serviu para chamar a atenção das pessoas para este problema, embora pelo lado mais "perverso e mórbido", embora as autoridades não tenham concluído que se tratou de um caso de bullying.
O importante, para o médico, é que nas escolas, centros de saúde ou na comunidade se detectem estas crianças mais vulneráveis e se faça prevenção.
O serviço de Pedopsiquiatria do CHTMAD recebe "os casos mais graves" relacionados com crianças de todo o distrito de Vila Real e concelho do Douro sul, numa média anual de 20 casos.

 

Data de introdução: 2010-05-06



















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