Um grupo de cidadãs está a lançar as bases para a criação de uma Casa Jardim inteiramente dedicada à Maternidade em Lisboa. E já fizeram uma proposta para levar ao orçamento participativo 2011 da Câmara de Lisboa. “Deixem-nos ser mães”, apelam.
Cátia Maciel e Ana Telhado foram mães há poucos meses e não passou muito tempo até se aperceberem que em Lisboa não abundam espaços para conviverem com os seus bebés. ?Vivemos num contexto citadino e coisas simples como ir a um jardim com o bebé tornam-se difíceis?, aponta, ao JN, Ana Telhado, 29 anos, explicando que praticamente todos os espaços verdes da cidade estão invadidos por fezes de cães ou por mirones intrusos que lançam olhares incómodos se acaso detectam uma mãe a amamentar o filho.
Lembraram-se, então, de elaborar uma proposta para o Orçamento Participativo de 2011 (ver caixa ao lado) para a criação de uma Casa inteiramente dedicada à maternidade. Tudo se resume assim: apelam à cedência de um espaço para a sociedade civil que seja fácil acesso por transportes públicos e onde se possa criar uma casa/jardim com espaço para amamentar, brincar, conviver, descansar e partilhar num ambiente informal, tranquilo e seguro e que, à semelhança do que acontece em várias cidades do mundo, recebe, informa e apoia pais, filhos, grávidas e bebés.
?A ideia é criar uma espécie de comunidade de mães, um espaço onde as mães possam encontrar-se e onde se entre-ajudem e se apoiem com orientação?, afirma Ana Telhado. A seu lado, Cátia Maciel, 33 anos, confessa: ?às vezes saio à rua e volto para casa em lágrimas e com a sensação que eu e o meu filho não somos bem-vindos?. A jovem mãe queixa-se, também, da falta de espaços públicos apropriados, sublinhando que ?num dia em que haja frio, chuva ou demasiado calor ficamos confinadas aos nossos apartamentos? e revelando que certo dia de chuva, na baixa lisboeta ?encontrei na alcatifa da Fnac o único sitio onde o bebé pudesse gatinhar?.
Recorrer a creches ou jardim infantis são soluções pouco apelativas. “Nós não queremos pôr os nossos filhos em depósitos de crianças”, afirma Cátia Maciel. “O bebé até aos 3 anos precisa da presença constante da mãe e não queremos deixá-los “abandonados” em infantários como se fossemos uma mãe em part-time”, acrescenta Ana Telhado, referindo que “nós queremos maternidade a tempo inteiro e que os bebés sintam segurança para a vida toda”.
?Se as mães se vêem gregas para lidar com um bebé como é que podem acreditar que uma educadora infantil é capaz de lidar com 10 ou 15? É absolutamente anti-natural?, comenta, por seu turno, a psicanalista Maria de Lurdes Pelicano, de 58 anos. ?Se os nossos bebés tiverem afecto e maior contacto com as mães, que é isso que a Casa das Mães se propõe, essas crianças terão muito mais saúde?, remata a psicanalista.
A Casa das Mães pretende ser ”uma porta aberta” onde se possa entrar “sem restrições” e ficar para “descansar, amamentar, brincar em segurança e com tranquilidade” e onde as mães possam “esclarecer dúvidas e obter informações sobre a gravidez, nascimento, parto e cuidados à primeira infância, sejam eles de carácter técnico-fisiológico ou psicológico”.
O plano é reunir no mesmo espaço profissionais de saúde, terapeutas, “doulas” de acompanhamento ao parto e pós parto, consultoras de lactação, psicanalistas e psicólogos. Cátia Maciel refere que existem “muitos profissionais que estão disponíveis para ajudar mães e bebés mas não têm espaço físico para o fazer” e lembra que à autarquia pede-se apenas “a cedência de um espaço” e que “ depois a sociedade civil organizada pode encontrar os meios para pôr a casa a funcionar, entre um jardim, uma cozinha, uma biblioteca ou uma sala com brinquedos.
A partir de 1 de Outubro, qualquer pessoa pode votar na proposta, bastando ir ao site da Câmara Municipal de Lisboa. Até lá, informações ou colaborações podem ser pedidas e enviadas através do seguinte blog: http://casadasmaes.blogspot.com.
Fonte: Jornal de Notícias
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