PRÉ-ESCOLAR

Impor o fim da sesta é uma "tortura" comum nos infantários

Impor uma idade-limite para a criança abandonar a sesta no jardim-de-infância é habitual em Portugal, mas pediatras e especialistas avisam que pode representar uma "tortura" e ser indicador de má qualidade de uma instituição.

Há crianças de três anos que deixam de fazer este descanso após o almoço por decisão das instituições. "Um bom jardim-de-infância tem a obrigação de ter duas salas: uma para as crianças de qualquer idade que precisem de dormir a sesta e outra onde ficarão a brincar as restantes", defende o pediatra Mário Cordeiro.

O especialista lembra que dormir a sesta é uma necessidade fisiológica e que "não deixar dormir uma criança que precisa é quase tortura". "Não é por impedir de dormir a sesta que dormem melhor à noite", recorda.

Um infantário da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) iniciou este ano a experiência de não deitar meninos de três anos: tinham dificuldades a adormecer porque vinham com os ritmos trocados de férias e por estar calor, justifica a instituição, acrescentando que a fez com acordo dos pais.

Mas há pelo menos uma mãe que contestou esta "experiência", que foi traumática para ela e para a filha. "Ia buscar a minha filha e ela adormece imediatamente nos meus braços no autocarro a caminho de casa. Está em casa praticamente todo o tempo a dormir. Penso que a minha filha julga que só vive na escola. Acho isto de uma grande violência", lamenta Vera.

Mário Cordeiro frisa precisamente a quantidade de relatos de pais que se queixam de distúrbios nos filhos a quem é imposto o abandono da sesta: "As crianças ficam com birras, cansadas e tristes, ao fim da tarde, que é a hora em que deviam estar disponíveis para estar com os pais, brincar em casa e serem cuidadas."

A Santa Casa acabou já por abandonar a experiência esta semana, até porque não se enquadra nas práticas pedagógicas dos seus estabelecimentos.

A investigadora do Departamento de Pedagogia da Universidade de Évora Assunção Folque recorda que os jardins-de-infância da rede pública "não têm em geral condições físicas e organizacionais para oferecer a possibilidade" de sesta. "Mas isto deve-se ao facto de em tempos estas instituições terem apenas contemplado o tempo curricular e não o de apoio à família (mais de cinco horas de atendimento)", justifica.

Assunção Folque diz que a sesta deve ser uma possibilidade "a la carte" e não uma imposição ou proibição: "Há crianças que não querem ir para o jardim-de-infância porque as obrigam a dormir e crianças que adormecem durante as actividades da tarde sem que lhes seja dada oportunidade de descansar."

Fonte: Diário de Notícias

 

Data de introdução: 2010-09-20



















editorial

Comunicar é tornar comum

A partilha de informação remonta à origem latina de comunicar, que também apela à participação, sendo a comunicação um processo de tornar comum algo entre as pessoas, a troca de experiências e de...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Agora, que os eleitos só pensem no bem comum
Sou um político resiliente, sem nunca ter sentido a necessidade de me envolver na política ativa. Quero dizer que, há mais de cinquenta anos, fiz a opção de viver a minha...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

A caracterização racial é racismo estrutural
Três amigos chegaram ao aeroporto de Lisboa, vindos de um voo intercontinental, com a quantidade de bagagem de umas férias relativamente longas. Duas das pessoas no grupo eram caucasianas, uma...