Em Novembro de 2006, escrevemos num jornal do Porto um texto breve a que demos precisamente este título: multiculturalismo e integração. O artigo referia-se de modo especial à Inglaterra e à situação provocada pela avalanche de imigrantes muçulmanos - cerca de dois milhões - que, num espaço de tempo relativamente curto, se fixaram o Reino Unido.
A propósito, recordávamos nesse texto que, vinte anos antes, o governo britânico tinha iniciado uma política que motivara a admiração e o apoio de quantos se preocupavam com os problemas da imigração. O governo de Londres não só se tinha aberto a uma generosa política de acolhimento, como tinha feito do multiculturalismo o grande princípio dessa política. Nesse contexto favorável, não só cresceu galopantemente o número de imigrantes muçulmanos, como também estes puderam conservar e aprofundar a sua identidade cultural.
Só que as relações e os laços que estes imigrantes criavam eram orientados, quase exclusivamente, para os seus irmãos de cultura e não para as comunidades autóctones em que se acolhiam e de que aproveitavam apenas as condições económicas. Politicamente deixavam de ser estrangeiros, mas permaneciam voluntariamente estranhos, criando assim verdadeiros guetos culturais.
O texto que então escrevemos terminava assim: “ é sempre difícil harmonizar, a contento de todos, o dever da integração e o direito à diferença. Mas, depois do entusiasmo pelo multiculturalismo, os responsáveis políticos do Reino Unido começam a sentir a necessidade de privilegiar a integração”.
Lembrámo-nos deste comentário, a propósito de questões sociais e políticas levantadas, nos últimos tempos, em alguns países europeus, pelo fenómeno da imigração. A Comunicação Social deu grande relevo à “expulsão”de grupos de ciganos oriundos da Roménia, uma decisão tomada pelo governo de Paris e que provocou um debate intenso, dentro e fora da França. Mais ainda, os resultados de algumas eleições europeias recentes favoreceram partidos claramente xenófobos. Por último, foi a própria senhora Merkel a admitir o fracasso da generosa política alemã de acolhimento de imigrantes, referindo-se particularmente à enorme comunidade turca que habita no seu país.
Que a integração deve ser o grande princípio a presidir à política de acolhimento, a começar logo pela aprendizagem obrigatória da língua, defendeu a chanceler. Na sua opinião, o direito à diferença não é incompatível com o dever da integração.
Foi neste cenário que surgiu, há dias, a notícia de que um africano, emigrado do Gana, tinha vencido as eleições autárquicas para a presidência da câmara de uma pequena cidade da Eslovénia. Um sinal de que o caminho da aceitação e da prática do multiculturalismo, embora difícil, pode chegar a bom porto? Oxalá!
Por António José da Silva
Data de introdução: 2010-11-09