A notícia perdeu-se no meio de tantas outras. Uma embarcação, pequena e frágil, mas superlotada, embateu contra os rochedos na costa da ilha australiana de Natal, provocando dezenas de vítimas, entre mortos e feridos. Foi um acidente testemunhado em directo por muita gente, incapaz de salvar todos os que clamavam por socorro na tentativa desesperada de chegar a terra.
Não obstante o peso da tragédia, a notícia não teria motivado um interesse mediático muito particular, se não fora o caso de se tratar de imigrantes que procuravam asilo em terras australianas e que vinham quase todos de muito longe, de países bem distantes como o Afeganistão e o Iraque. É que na ilha de Natal funciona um centro de acolhimento, e aquelas centenas de pessoas procuravam chegar ali, como última etapa do longo caminho que já tinham percorrido para chegarem à “terra da promessa”: a Austrália.
A notícia trouxe-nos à memória uma ilha bem mais próxima de nós e que se tornou conhecida internacionalmente, a partir do momento em que passou a funcionar como último local de passagem para as centenas ou milhares de imigrantes clandestinos, sobretudo africanos, que sulcavam o Mediterrâneo, em busca da Europa dos seus sonhos. Referimo-nos a Lampedusa, uma pequena ilha italiana, de que não se fala tanto hoje, por via da aprovação do Pacto Europeu de Imigração e Asilo, em 2008. Mas quantas histórias trágicas nos vêm à memória, quando se fala de Lampedusa!
Agora, muitos australianos ficaram a saber que no seu país, rico e desenvolvido, há também uma “Lampedusa”: é a ilha de Natal. E tomaram consciência desta realidade, por causa de uma tragédia que atingiu muitas famílias que vinham de longe e que morreram às portas da terra dos seus sonhos.
Foi, certamente, uma viagem cara, demasiado cara para todos aqueles que tinham embarcado no sonho Foi uma viagem feita em condições extremamente difíceis, sobretudo para as crianças que acompanhavam os pais na sua aventura. Pior ainda, além de cara, longa e desumana, foi uma viagem que terminou em tragédia. Triste fim para quem fugia da desgraça!
Tal como sucede no Mediterrâneo com o tráfico de clandestinos para Lampedusa, Itália, também floresce o tráfico de clandestinos para a Austrália, mais precisamente para a ilha de de Natal. A desgraça de muitos sempre garantiu a riqueza de uns tantos.
Por António José da Silva
Data de introdução: 2011-01-16