OPINIÃO

Revolução estranha

A previsão de que o presidente egípcio abandonaria o poder até à passada sexta feira acabou por não se realizar. Apesar das manifestações internas e das pressões externas para que se demitisse, Hosni Mubarak, não corria o risco de ser deposto. E a verdade é que as manifestações de rua, nomeadamente as que vinham tendo lugar na praça famosa de Tahrir começaram já a dar os primeiros sinais de abrandamento.

Na altura em que escrevemos este texto, não se pode dizer ainda que a chamada revolução dos jasmins tenha murchado definitivamente, mas a verdade é que é o movimento não tem hoje força que já teve, mesmo admitindo que nunca foi claro o rumo que este poderia vir a levar.

Independentemente do que vier a acontecer no futuro, há sérios motivos para dar a este movimento revolucionário um lugar importante na história daquele país e na história do mundo contemporâneo. Primeiro, porque não se tratou de um golpe de Estado, realizado ou influenciado por militares. Depois, porque não foi organizado por grupos de militantes civis e altamente politizados, espécie de uma qualquer vanguarda revolucionária. Finalmente, porque não teve líderes. E uma revolução sem líderes é suficientemente estranha para merecer uma referência histórica muito particular.

Não ter líderes poderia significar o triunfo do caos, e foi isso que se temeu nas primeiras horas da revolução. Com o exército limitado a uma presença simbólica e as forças da ordem a abandonarem as ruas, a evolução dos acontecimentos ficou entregue exclusivamente ao povo e aos seus instintos. Tudo parecia possível de acontecer, embora a hipótese mais perigosa fosse, de certeza, uma qualquer viragem islamita no sistema político. Não era certamente uma viragem fácil, tendo em conta a influência que a cultura ocidental mantém no Egipto, mas convém não esquecer o que aconteceu no Irão nos finais de 1970. Aliás, não foi sem motivo que o“guia da Revolução” saudou com entusiasmo os acontecimentos do Egipto que classificou como revolução islâmica.

António José Silva

 

Data de introdução: 2011-02-10



















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