O número de novos pedidos de ajuda que chegam às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), Misericórdias ou Cáritas continua a aumentar e a pobreza deixou de ser só entre os mais idosos: afecta também mais novos e empregados. Os responsáveis da Cáritas, Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS) e União das Misericórdias concordam que não é possível quantificar os novos pedidos de ajuda que continuam a chegar, mas têm a certeza que são cada vez mais. "O que sabemos é que continuam a aumentar os novos pedidos e há Cáritas que já estão com impossibilidade de atender em tempo útil a todos os casos que vão sendo registados", adiantou o presidente da instituição pertencente à Conferência Episcopal para a dinamização da acção social da igreja, Eugénio Fonseca.
Já o presidente da União das Misericórdias garante que os números quadruplicaram nos últimos dois anos. “À União das Misericórdias chegam por dia quatro a cinco pedidos de pessoas empregadas: ou estão com salários em atraso ou há um membro da família desempregado e não conseguem fazer face às despesas do agregado familiar", revelou Manuel Lemos.
O presidente da CNIS, por seu lado, adiantou ter existirem duas situações distintas entre as IPSS que fazem parte da confederação. Por um lado, explicou o padre Lino Maia, há as instituições que por via de acordos firmados com a Segurança Social têm um número fixo de utentes e não podem dar mais apoio do que aquele que vêm a dar e "aí o que tem acontecido é a diminuição da comparticipação das famílias e pedidos insistentes para que se revejam as comparticipações". Por outro lado, há as instituições que prestam apoios mais pontuais, que não têm número de utentes acordado e "aí tem de facto havido muito mais pedidos".
Eugénio Fonseca revelou que prova de que cada vez mais pessoas precisam de ajuda está no grande fluxo de pedidos durante o mês de Agosto, o que não era normal de acontecer, já que neste mês de verão havia alguma facilidade em encontrar trabalho. "A razão de fundo é o desemprego, mas estão a aparecer pessoas que já estiveram nos atendimentos da Cáritas, passaram a beneficiar de algum subsídio do Estado, nomeadamente Rendimento Social de Inserção [RSI], e agora face aos cortes resultantes das medidas de austeridade, e nomeadamente à reformulação das regras do RSI, deixaram de ter direito a essa medida ou viram reduzidos os montantes", explicou o presidente da Cáritas. Consequentemente, adiantou, há cada vez mais "solicitações para bens específicos, como medicamentos ou rendas de casa".
Manuel Lemos acrescentou que a novidade está no facto de haver cada vez mais pedidos que vêm de pessoas empregadas. "Estamos a falar de pobreza com emprego, o que em termos absolutos não é uma novidade, mas é uma novidade em termos de expressão".
"O retrato da pobreza alterou-se porque agora temos bastante gente em idade activa, que se viu no desemprego ou com familiares no desemprego, com dívidas acumuladas e sem capacidade para as pagar. Vemos muita gente assim a ser atirada para a pobreza, que estava um bocado localizada nos mais idosos", apontou Lino Maia.
Se o desemprego é uma causa directa, Manuel Lemos também responsabiliza "algumas políticas públicas cegas", enquanto Eugénio Fonseca lembra que "está provado que se não fossem as transferências sociais, os abonos de família, o RSI, o complemento solidário para idosos, haveria cerca de 43 por cento da população em risco de pobreza".
Data de introdução: 2011-09-05