OPINIÃO

Síria: a Primavera ainda não chegou

A Síria tem resistido, pelo menos até agora, aos ventos da chamada primavera árabe. Ao longo dos últimos seis meses, e apesar de seriamente abalado, o regime de Bashir al Assad conseguiu superar a força, aparentemente avassaladora, de um movimento que mudou o rosto de vários países irmãos, como a Tunísia, o Egipto ou o Iémen.

No conjunto do mundo árabe, e no contexto do Médio Oriente, a Síria é, do ponto de vista político, um país estranho. O povo é maioritariamente muçulmano, mas o regime político é laico. O fundamentalismo religioso que condicionou, e ainda condiciona, a praxis política da maioria dos países muçulmanos não ganhou raízes na Síria, mas isso não tem impedido que o governo da Damasco seja, já há muito, um aliado fiel de todos os movimentos e ou governos radicais da sua área geográfica.

O regime sírio é claramente de natureza autocrática, para não dizer ditatorial, mas não tem aquilo a que poderíamos chamar uma ideologia, a não ser a que se fundamenta na conservação e utilização do poder, entregue praticamente a um clã familiar e a um reduzido grupo de fiéis em que dominam, sobretudo, os militares.

De qualquer modo, ao longo dos anos, o povo foi aguentando este regime, sem grandes manifestações de uma oposição declarada, tanto mais que esta seria praticamente inviável. A situação económica nunca foi demasiado difícil, e a prática religiosa nunca foi proibida, mesmo a das minorias, incluindo as cristãs. Para unir e motivar o povo, o regime sírio sempre utilizou problemas externos, sobretudo aqueles que tinham alguma relação com a Palestina e, mais proximamente, com o Líbano.

O comportamento da Damasco face a Israel traduziu-se, logicamente, num posicionamento anti-americano e levou o regime a uma aproximação com Moscovo, aproximação que se manteve para além da queda do império soviético.

Isso mesmo ficou plenamente demonstrado no veto com que a Rússia ameaçou os restantes membros do Conselho de Segurança da ONU, se estes levassem por diante o seu propósito de apresentarem nesse Conselho um texto fortemente condenatório da política de repressão que o governo da Damasco tem exercido sobre o movimento democrático que vem agitando a Síria.
Foi o último trunfo do regime para garantir que os ventos da Primavera não se farão sentir na Síria.

António José Silva

 

Data de introdução: 2011-11-12



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...