Os movimentos sociais que, desde há meses, vêm abalando o norte de África, estão ainda longe de ter acalmado completamente, embora a realização de eleições em alguns países tenha contribuído decisivamente, para o reencontro de uma certa estabilidade social e política.
Ao contrário do que aconteceu no Egipto, a Tunísia, país onde teve início a chamada “primavera árabe”, foi palco de um movimento de mudança que foi geralmente pacífico. Chamado a eleições, o povo escolheu, para já, uma solução política que, embora de matriz islâmica, não se pode considerar propriamente islamita, no sentido mais político e cultural do termo.
Apesar das acusações de ditadura e corrupção que ensombraram o regime do ex-presidente Ben Ali, e que acabaram por unir grande parte dos tunisinos contra o seu regime, a Tunísia nunca constituiu um feudo de radicalismo militante, quer de natureza política., quer religiosa. E tudo indica que este espírito não mudará substancialmente nas novas condições, a avaliar pelo recente triunfo do partido Ennahda, um grupo político de fundo islâmico, mas moderado.
Ao contrário, não faltou quem falasse em segunda revolução, para caracterizar os acontecimentos que de desenrolaram no Egipto, mais concretamente na famosa praça Tahrir da cidade do Cairo, nas duas últimas semanas A verdade é que a primeira revolução, pese embora a sua importância histórica, nunca chegou a ter contornos ideológicos e políticos suficientemente claros, para além da queda de Mubarak. Era pois com grande expectativa que se aguardavam as eleições da passada semana.
O processo eleitoral é longo e complicado, pelo que só daqui a algum tempo será possível tirar conclusões mais ou menos seguras acerca das escolhas feitas pelos egípcios. Os primeiros resultados conhecidos indicam, no entanto, que no confronto entre os partidos de matriz confessional e os de origem laica, a vitória parece encaminhar-se para os primeiros. A chamada confraria dos “irmãos muçulmanos” deverá sair vencedora do confronto É a vitória natural de um movimento que sofreu duras perseguições durante a era de Mubarak.
Por muitas razões, era grande e justificado, no mundo ocidental, o receio de um triunfo dos “irmãos muçulmanos”, mas hoje é maior e mais visível ainda o medo da vitória de um outro grupo político radical: o dos salafistas. Com expressão mais visível na Argélia, onde já levaram a cabo operações terroristas de grande envergadura, e com ligações conhecidas à chamada Al Qaeda do Magreb, um resultado positivo deste movimento no Egipto constituiria, por certo, uma péssima notícia para o norte de África e para o Médio Oriente.
Uma coisa parece certa: o norte de África está à procura de um modelo e, à falta de melhor, o mundo ocidental faz votos para que esse modelo venha da Turquia.
António José Silva
Data de introdução: 2011-12-11