Numa iniciativa apadrinhada pela Guimarães’2012 – Capital Europeia da Cultura, decorreu no pequeno auditório do Centro Cultural Vila Flor, uma conferência subordinada ao tema «Solidariedade em Portugal 2012» cujo orador convidado foi Marcelo Rebelo de Sousa, conhecido professor catedrático e comentador da TVI.
Depois de traçar um breve retrato histórico, em que concluiu que “Portugal é uma história de crises superadas”, fazendo referência às crises da fundação do País, da primeira dinastia, do risco de perda da Independência e ainda dos descobrimentos, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que “a crise social que vivemos é feita de crises mais antigas”, em especial das “crises do século XIX, que dominaram Portugal até 1974”.
Para o professor de Direito, o País, no século XIX, “perdeu meio século” com as crises por que passou. Mas também as crises que Portugal viveu no século XX como que minaram o futuro, que agora é o presente dos portugueses.
“Há atrasos estruturais e tudo isso se paga em solidariedade”, referiu, dando um exemplo: “Portugal fez em 12 anos, de 1986 a 1998, um percurso que as grandes economias da Europa fizeram em 40 anos”.
“A sociedade portuguesa sofreu transformações radicais e a capacidade que os portugueses têm revelado é, também em termos de solidariedade social, de uma plasticidade notável”, elogiou Marcelo Rebelo de Sousa, perante uma plateia praticamente lotada.
De seguida, o comentador político sublinhou “a clivagem entre o país velho e o país novo”, algo que tem vindo a aprofundar-se: “Estes dois países têm vindo a afastar-se cada vez mais”.
Por tudo isto, o professor Direito considera que há quatro desafios que se colocam ao País: Primeiro, é o de “não deixar separar estes dois países, pois a solidariedade começa pela coesão social”; o segundo, é o ter de se “enfrentar a endemização da pobreza, pois tem que se evitar o enquistar dos 20% de pobreza que existem em Portugal”; o terceiro, é a necessidade de “olhar para as margens que estão em risco de pobreza, que são sobretudo os mais velhos”, é preciso actuar e a sociedade civil tem que actuar mais à medida que o papel do Estado diminui; o quarto, “que é o desafio”, passa pela “discussão na sociedade portuguesa dos caminhos para sair da crise” e, tal como na Europa, “os próximos longos anos vão ser dominados pela solidariedade social”.
“A sociedade tem que escolher entre o egoísmo e a solidariedade social. O indivíduo é solidário porque o conjunto é solidário. É possível ser solidário individualmente, mas é mais eficiente ser solidário em conjunto… E é preciso explicar isto às pessoas”, argumentou Marcelo Rebelo de Sousa, que revelou também ele ser um voluntário na área dos cuidados paliativos, acrescentando: “Temos que ser mais comunitários e depois há organizações com essa vocação natural que devemos procurar, como as ONG, as IPSS, as Misericórdias, etc.”.
Sustentando que “a intervenção da sociedade civil na solidariedade social passa pela Educação e pela Comunicação Social”, o professor advertiu: “Este é o momento para os mais jovens e os mais velhos agirem, porque é agora que as carências são mais agudas e tendem a tornar-se permanentes”.
Afirmando-se “optimista”, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que “esta não é a pior crise da História de Portugal”, mas alertou: “Os próximos anos vão ser dominados pela tónica da coesão social e o seu reforço e da educação da
sociedade para a solidariedade social”.
A finalizar a sua intervenção, o professor disse que “a sociedade civil é muito fraca”, mas não deixou de mostrar confiança nos portugueses: “Sermos capazes somos, a questão é sermos consistentes e duradouros”.
Lembrando que o “mundo mudou imenso nos apelos e necessidades de solidariedade social” e que “cada vez há mais assimetrias e desigualdades”, o orador convidado sustentou que “é preciso optar e definir o que deve ser feito pelo Estado e por este em parceria com as instituições da sociedade”, pois, hoje, “o ritmo das necessidades é mais rápido do que as respostas e as organizações sociais vão atrás das necessidades”.
A conferência «Solidariedade em Portugal 2012» foi organizada pelo Lions Clube de Guimarães (LCG), tendo marcado presença na mesa de honra, Albertina Amaral, presidente do LCG, João Serra, presidente da Fundação Cidade de Guimarães, Domingos Bragança, vereador da autarquia vimaranense, e Alves Pinto, que moderou o debate que se seguiu à alocução de Marcelo Rebelo de Sousa.
A iniciativa terminou com a actuação do grupo musical vimaranense «Os Musiqué».
P.V.O.
Data de introdução: 2012-05-13