Dizer aos mercados financeiros que, em Portugal, os parceiros sociais são mansos e o povo acatará, como cordeiro, todas as restrições aos direitos sociais que a Constituição lhe garante, em nome da crise, pode incendiar quem começa a sentir falta de pão na mesa, a entregar a casa ao banco, a ver-se despojado de um emprego ou de oportunidades de trabalho a que se considera com direito!
Em face da crise, que vai apertando cada vez mais o dia-a-dia de milhares de portugueses, começa a circular por aí um conceito muito equívoco: “proteger os direitos dos pobres”!
A gente percebe a frase…mas talvez não seja pior ideia, em vez de nos organizarmos para proteger os direitos dos pobres, sermos mais audazes na afirmação da doutrina social da Igreja que hoje, mais que nunca, deverá constituir um referencial ético ao chamar a atenção para os “deveres dos ricos” ! Com efeito, “as sobras dos ricos não serão já pertença dos pobres”? Talvez possa ajudar-nos a tomar consciência desta dimensão ética da doutrina social da Igreja esta passagem de S. João Crisóstomo: “Tu, que revestes a tua cama de prata e de ouro o teu cavalo, se te pedirem contas e explicações de tanta riqueza, que razão alegarás? Quando tu já estiveres morto, as pessoas que passarem diante do teu palácio, vendo o seu tamanho e luxo, dirão ao seu vizinho: «ao preço de quantas lágrimas foi edificado este palácio? De quantos órfãos deixados nus? De quantas viúvas injustiçadas? De quantos operários espoliados de seu salário»? Sim, nem morto escaparás das acusações”!
Só mais um texto de São Basílio: “ o pão que para ti sobre é do faminto…quem acumula mais que o necessário pratica crime” !
Ler e pensar nisto pode ser uma forma muito consistente de solidariedade, que não precisa nem de equipamentos, valências ou muitos técnicos!
Pe. José Maia
Data de introdução: 2012-05-13