CENTRO SOCIAL DE COVA E GALA, FIGUEIRA DA FOZ

Urge requalificar as instalações «quarentonas»

Em setembro de 1975 a instituição criou a Creche e Jardim-de-infância da Morraceira em instalações da Segurança Social que estavam ao abandono. Porém, desde então os edifícios não sofreram obras profundas de requalificação e, volvidos 41 anos, o equipamento necessita de uma intervenção, até para ser possível melhorar ainda mais a resposta.
No entanto, a realidade tem amarrado o sonho e a requalificação das instalações tem estado presa pela débil situação financeira da instituição.
“É um milagre que esta instituição se mantenha viva. Vivemos uma situação precária, difícil e cada dia é um desafio. Durante a última crise financeira foi complicado, muito complicado... Creio que já encontrámos o ponto de viragem, mas ainda assim é preciso manter os pés assentes no chão, trabalhar com afinco e manter claros os objetivos de ação”, escreveu a pastora Sandra Reis, no que é corroborada pela diretora-técnica Ana Isabel Ferreira: “A situação mais complicada aconteceu há três, quatro anos, mas entretanto elaborámos algumas estratégias de gestão e de divulgação do nosso trabalho e, assim, conseguimos chegar a mais utentes. Felizmente, agora as coisas estão mais equilibradas em termos de utentes e temos também grupos de utentes mais heterogéneos, o que ajuda a equilibrar a receita das mensalidades”.
A propósito das comparticipações dos utentes, Ana Isabel Ferreira recorda momentos complicados ainda há bem pouco tempo: “Devido ao elevado desemprego, atravessámos um período, ao nível da creche e do pré-escolar, muito difícil, com uma baixa muito grande no número de utentes. Isso por si só foi muito condicionador da situação financeira”.
E para fazer face às dificuldades, “a instituição candidata-se a tudo quanto aparece”, diz Graciana Firme, acrescentando: “Temos o apoio do Fundo de Reestruturação do Setor Social (FRSS), até ao próximo ano, o que nos dá alguma margem de manobra. Esta foi uma das ajudas importantes que tivemos, porque, tal como muitas instituições, atravessámos um período muito complicado”.
No entanto, e apesar das muitas dificuldades, os responsáveis pela instituição mantêm-se apostados em prosseguir o trabalho que desenvolvem junto das comunidades carenciadas que apoiam, emprestando mais qualidade ainda aos serviços que já prestam.
“Mesmo assim, concorremos até a nível internacional para apoio à requalificação das instalações. Neste momento temos um parecer favorável da Segurança Social para fazermos obras, uma vez que a Creche da Morraceira funciona em instalações da Segurança Social, com quem temos um contrato de comodato”, explica Graciana Firme, responsável pela área financeira do Centro Social, ao que Ana Isabel Ferreira acrescenta: “Já tivemos feedback positivo de algumas candidaturas que fizemos, pelo que as obras da creche poderão avançar dentro em breve”.
Boas notícias para a instituição, para os utentes e para as famílias. E por falar em famílias, refira-se que é em trabalho social no seio da comunidade que a instituição desenvolve grande parte da sua ação. Aliás, para a pastora Sandra Reis, “o grande desafio da instituição é continuar a servir a comunidade, com qualidade, dignidade e respeito pelos indivíduos e pelas famílias” e continuar a ser “elo de ligação, ponte e orientação”, por isso na instituição se dá “tanta importância ao trabalho de cooperação e ao trabalho em rede”.
“Continuar a ser um espaço de referência e confiança na Figueira da Foz” é o grande propósito da instituição, daí que “a renovação das infraestruturas (casas de banho, refeitório, espaço verde de recreio, eficiência energética e equipamento) da Creche e Jardim da Morraceira” seja o grande projeto do momento, com o intuito de “criar e oferecer à comunidade um espaço mais saudável e mais seguro”. No fundo, o que a instituição tenta fazer com todo o trabalho junto da comunidade.
Neste sentido, para além das respostas típicas de creche (56 bebés), pré-escolar (53 crianças) e SAD (35 idosos), o Centro Social de Cova e Gala, que em tempos teve um ATL, mas que fechou em 2010, presta apoio à comunidade através de um Gabinete de Serviço Social, em que acompanha 130 famílias, abriu uma Cantina Social, que apoia a quase totalidade daquelas 130 famílias, criou o Space, onde os mais pequenos têm apoio ao estudo e apoio psicológico, e reabriu a Butik, uma loja social onde há roupa, calçado, artigos para bebé, entre muitos outros produtos.
Para além disto, a instituição integra o CLDS 3G e ainda a RIAVVDFF (Rede de Interinstitucional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica da Figueira da Foz).
“Somos parceiros do CLDS 3G, que tem a duração de três anos, onde fazemos trabalho comunitário junto da população mais empobrecida a nível do concelho e ainda visitas domiciliárias aos idosos isolados, a que chamamos Momentos para Dar e Receber”, explica Ana Isabel Ferreira, acrescentando: “A Rede de Interinstitucional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica da Figueira da Foz já funciona há 11 anos, integra entidades públicas e IPSS do concelho, e neste momento o Centro Social é a entidade coordenadora. As IPSS fazem o atendimento e o acompanhamento enquanto as entidades públicas dão o restante apoio”.
“Em Novembro de 1999 foi criado o Gabinete de Serviço Social, que desenvolve um trabalho articulado entre as várias valências do Centro Social da Cova e Gala e outras instituições de modo a incrementar ações com base nos recursos disponíveis”, reporta a pastora Sandra Reis, acrescentando: “Aqui realiza-se trabalho de atendimento no gabinete, ajuda alimentar, ajuda em roupas e brinquedos, entre outros serviços. Estes serviços são prestados aos utentes das valências, seus familiares e população em geral, informando-os e encaminhando-os para os recursos existentes não só na comunidade, como também no concelho”.
Para a responsável máxima da instituição, “o Serviço Social procura assumir o papel de elo de ligação entre os profissionais de todas       as valências da instituição, numa perspetiva de participação, articulação e intervenção comunitária”, prestando “apoio psicossocial a todas as pessoas que se dirigem a este serviço, informando-as, entre outras coisas, dos seus direitos e deveres”.
Para além disto, são feitas visitas domiciliárias que complementam o diagnóstico social.
A par de todo o apoio que a instituição presta “em todas as valências está implícita a animação sociocultural”, sublinha a pastora Sandra Reis, explicando: “Através deste setor procuramos promover ações que contribuam para a sensibilização, conscientização e politização das pessoas e grupos com quem trabalhamos ou colaboramos. Com este objetivo promovemos várias conferências nacionais e internacionais, colóquios e encontros. Também levamos a efeito várias ações de formação, de reciclagem e de estágio, tanto na nossa instituição como no estrangeiro. Organizamos, de igual modo, visitas de estudo para grupos específicos a instituições nacionais e estrangeiras, sempre que possa contribuir para o processo de desenvolvimento e correspondam a problemas específicos”.
Aliás, era no âmbito de um campo internacional, nos quais a instituição já participou em 116, movimentando mais de três mil jovens, que a presidente da instituição se encontrava na Alemanha na altura da visita do SOLIDARIEDADE ao Centro Social de Cova e Gala.
A isto tudo, a instituição junta a honra de ser uma das entidades criadoras da Rede Animação Para Idosos da Zona Sul Figueira da Foz, que existe desde 2000, e da qual fazem parte as IPSS da zona sul do município com respostas sociais destinadas aos idosos.
“É através da Rede de Animação que se organiza e se implementa anualmente um plano de atividades de animação destinado aos nossos utentes de forma a prevenir o isolamento e a promover o envelhecimento ativo”, referiu a pastora.
Nos primeiros anos de vida, a instituição desenvolveu um projeto de agricultura, levando a efeito um programa de apoio e fomento da formação profissional dos pequenos e médios agricultores, contribuindo para a melhoria da sua situação económica, social e cultural.
“Depois de três anos de experiência numa pequena estufa de 18 metros quadrados, com resultados animadores, conseguiu-se que o Estado Português nos cedesse o terreno de uma antiga carreira de tiro, que estava abandonada. Situada na Gala, junto ao Oceano Atlântico, com 15.000 metros quadrados, de solo arenoso, pudemos começar o nosso projeto agrícola, com estufas, dedicado a horticultura e floricultura”, conta a presidente, que lembra ser hoje “uma valência sem representatividade na instituição”.
Nessas instalações funcionam agora os serviços administrativos e a cozinha da instituição.
Fundado nos anos de 1960 pelo pastor João Neto, o Centro Social de Cova e Gala assumiu desde o início a responsabilidade pela comunidade local.
“O trabalho social faz parte da missão Presbiteriana, daí que trabalhar para melhorar as condições de vida a nível económico, social, cultural e outras dimensões foi e é um imperativo de ação”, refere a pastora Sandra Reis, também ela nomeada pela Igreja Presbiteriana de Portugal.
E como seria Cova e Gala sem o Centro Social? A pastora Sandra Reis responde: “É algo que não consigo imaginar, mas com certeza não seria a Cova Gala que hoje conhecemos”.

 

Data de introdução: 2016-11-04



















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