5.680 entidades.
340 mil Trabalhadores. 800 mil Utentes, dos quais 300 mil são Idosos.
É este o Sector Social Solidário em Portugal. É esta a realidade das IPSS em Portugal:
Cuidar dos outros TODOS os dias;
Sete dias da semana;
24 horas por dia;
Feriados, fins-de-semana, épocas especiais;
Crianças sem retaguarda familiar, jovens em situação de risco, pessoas portadoras de deficiência, pessoas com doença mental, vítimas de violência doméstica, refugiados, doentes sem idade e pessoas idosas…A todos as Instituições cuidam e dão VOZ.
Desde a primeira hora, em que foram chamadas a colaborar com o Governo, como sempre, as IPSS disseram: PRESENTE! no normal e genuíno funcionamento da sua essência solidária, espontânea, de coração cheio e de boa fé.
Em reuniões intersectoriais foi pedido - e foi assumido por todos os parceiros - para atuar em articulação neste momento de perigo público. Coordenados e sem individualismos institucionais.
De início, acreditámos que a preocupação com os mais velhos foi prevenir a sua estigmatização, isolamento ou abandono. Daí que se multiplicassem em diversos sectores os apelos para que não se abandonassem os idosos. Mas de repente, de chofre, como um soco no estômago, vem o apelo contrário, para que não se visitassem, para prevenir o contágio, para proteger os idosos o mais possível. Nem tiveram tempo de se despedir das famílias. Passaram diretamente às imagens virtuais, aos contactos à distância. Todos compreendemos que era imperioso prevenir um contágio que seria desastroso para todos. E todos acreditámos que havia de facto uma preocupação genuína com a proteção dos mais velhos.
Nesta evolução progressiva de conhecimento, informação e orientações, as IPSS têm mantido o compromisso de serviço aos outros, de articulação e cooperação, de, com espírito colaborativo, cumprir as orientações da DGS, aplicar as normas do ISS, construir planos de contingência, continuar a trabalhar.
As IPSS vivem dias de angústia.
Angústia pelo avanço galopante da pandemia, angústia pela desarticulação local, angústia pela falta de meios.
Sempre chamando a atenção para a falta de meios e de proteções individuais, e acreditando que o Estado se ocuparia de uma distribuição urgente por todos os que, na primeira linha de prestação de cuidados de saúde e de apoio social, estavam a correr riscos enormes de contrair o vírus, não pusemos sequer em equação ultrapassar os compromissos de colaboração interinstitucional e enveredar pelo desconhecido "mercado negro" sempre aguardando estoicamente as proteções que até à data não chegaram…. Estamos pois a ver o resultado dessa leal colaboração e cooperação, votados a morrer sem armas de defesa por mais que alertemos, peçamos e supliquemos. Temos até a vaga sensação de nos considerarem impertinentes.
Mas continuamos a acreditar que, juntamente com os profissionais de saúde, os profissionais que trabalham nas IPSS, no seu apoio social, prestação de cuidados e prestação de cuidados de saúde, às populações mais desfavorecidas e mais fragilizadas, e fazendo parte integrante do Sistema Nacional de Saúde, são considerados cidadãos de pleno direito. Mas, sendo eles próprios dos mais expostos, e portanto os da linha da frente a contrair a infeção e a transformarem-se em meios de contágio, deveriam ter sido de imediato providos de meios suficientes de proteção que os não deixasse tão expostos às “setas envenenadas” de que os soldados antigos eram vítimas como “carne para canhão” nos campos de batalha. Todos sabiam que a probabilidade de vir a acontecer o que está a acontecer era grande.
O que apesar de tudo, ainda, nos vale de alguma coisa, é que esta "preocupação" com os mais velhos, é sobretudo para que eles não encham os hospitais, não gastem recursos, não ocupem ventiladores e não elevem as taxas de mortalidade...
Num país que não aprovou a despenalização do abandono dos idosos nos hospitais, que tanto tempo perdeu a despenalizar a eutanásia e a hostilizar as Instituições de Solidariedade Social, que proibia até agora os mais velhos de 70 anos de trabalhar no sector público, em vez de se preocupar com a dotação de melhor reforço do "tecido" de apoio social, se este "tecido" soçobrar, só sobram os restantes voluntários, próximos mártires já que os médicos também estarão doentes e os hospitais a abarrotar.
Todos nós fizemos planos de contingência, naturalmente dependendo dos recursos e do lugar onde estamos. Não são os planos de contingência que nos protegem 100% da COVID-19. Se assim fosse não havia contágios nos hospitais. O que nos protege é sermos considerados cidadãos de direitos iguais, profissionais de risco, valorizados por um país que nos compreende, que nos respeita e que reconhece o nosso trabalho e dedicação.
Os profissionais das IPSS não desistem. Ali estão eles, mesmo sem meios de protecção suficiente, sem testes. Mesmo sem alternativas à falta de recursos humanos, pelos seus colegas que vão saindo doentes ou em quarentena.
Ali estão eles, estoicos, firmes…
São o rosto de quem acalma o outro, de quem cuida, esquecendo-se de si e dos seus medos. São eles quem acalma a saudade das famílias separadas. São eles a mão que ampara o último Adeus.
Os profissionais das IPSS trabalham sem palmas, sem ribalta, sem reconhecimento público.
Ali estão eles… na frente da batalha social, onde sempre estiveram e onde continuarão a estar…
Para continuar a cuidar de quem a sociedade não consegue cuidar.
E assim que pudermos respirar, os sobreviventes de nós, continuarão a lutar pelos mais básicos direitos dos mais velhos, das pessoas com deficiência, das crianças sem pais, dos sem-abrigo, das pessoas “com morbilidades”, a apoiá-los e a cuidá-los mesmo sem meios. E estamos certos de que vai ser bem preciso, para os que tiverem a ousadia, o atrevimento ou a sorte, de sobreviver...
Lembremo-nos destes HOMENS e MULHERES merecedores do reconhecimento nacional.
Porque eles vão estar até ao fim connosco…
De alma e coração!
OBRIGADO
Lino Maia
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