Por uma feliz coincidência, no dia em que o Papa Bergoglio celebrava os seus setenta e oito anos, o mundo tomou conhecimento de que tinha chegado ao fim o embargo económico imposto a Cuba pelos Estados Unidos, já lá vão mais de cinquenta anos. A notícia teve importância suficiente para abrir praticamente todos os serviços noticiosos internacionais, ou não fosse aquele bloqueio considerado como a última página do livro da chamada Guerra Fria. Obama virou essa página, o que chegaria para ele deixar a sua marca na História.
Ao afirmar publicamente que o bloqueio tinha falhado, Barak Obama reconheceu que os norte-americanos perderam muito mais do que ganharam neste longo braço de ferro com o regime de Cuba. Mais do que obrigar à cedência dos cubanos, o bloqueio serviu para reforçar o seu espírito patriótico e aceitar mais resignadamente o regime castrista. A Obama resta-lhe agora a esperança de recuperar, com a sua cedência, alguma da força moral que levou para a Casa Branca, mas que ele foi perdendo gradualmente, sobretudo neste segundo mandato.
Muitos dos comentários feitos à notícia do fim do bloqueio, e à consequente alteração das posições americana e cubana nas relações entre os dois países, davam grande relevo ao papel que a Igreja Católica terá desempenhado no processo que levou a este desfecho. Foi um motivo mais que suficiente para se falar do peso da diplomacia do Vaticano na cena internacional, desta voz num tom claramente positivo.
Porque se tratava de um diferendo que envolvia problemas políticos delicados, e aparentemente insolúveis, atribuir à Igreja uma parte da responsabilidade na sua solução serve para promover a sua imagem, tantas vezes incompreendida e denegrida pelos próprios Meios de Comunicação. Por isso, alguém escreveu que esta notícia constituiu uma excelente prenda de aniversário para o Papa Francisco.
Por nós, acreditamos que o bispo de Roma se tenha sentido feliz, não tanto porque o diferendo entre Cuba e os Estados Unidos representasse hoje, como já representou, uma ameaça séria à Paz, mas sobretudo porque o fim do bloqueio traz a certeza de uma nova esperança para muitas pessoas que, durante cinquenta anos, sofreram as consequências de uma decisão política que acabou por se revelar errada.
De qualquer modo, o Papa Francisco tem consciência de que, infelizmente, o fim deste bloqueio não representa o fim da Guerra Fria, porque são cada vez numerosos os sinais de que ela está a renascer. Há muito que as relações entre os Estados Unidos e a Rússia nunca foram tão complicadas e, embora a hipótese de uma guerra entre as duas superpotências não se coloque no imediato, há fortes razões para temer pela Paz. Este clima bem merece o nome de Guerra Fria.
Não há inqueritos válidos.