ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

Quando o caos e a ameaça sucedem à tirania

Passou, há dias, o quarto aniversário do levantamento popular que levou à queda de Muamar Kadafi, o homem que dirigiu os destinos da Líbia durante quarenta anos. Não se pode dizer que estes longos anos de governo tenham sido sempre anos de uma de ditadura cruel. Ele mesmo gostava de reivindicar para si o cognome oficial de Irmão Líder, mas este cuidado em salvaguardar a sua imagem não obstou a que tenha passado à História como um governante que exerceu o poder de um modo absoluto e ditatorial, embora muitas vezes caricato.

O seu afastamento foi saudado, pelo menos na Europa e nos Estados Unidos, como uma boa notícia para os líbios e para o mundo em geral. Muitos acreditavam que o seu desaparecimento abriria as portas do país à democracia, anunciada pouco tempo antes pela chamada revolução dos jasmins, que tinha nascido na Tunísia e parecia estar para acontecer noutras regiões árabes. Só que o perfume daquela revolução durou pouco tempo, a começar logo pela Tunísia, embora, pelo menos neste país, tenha deixado ainda as suas marcas.

Infelizmente, a morte de Kadafi não significou para os líbios o começo de uma nova era marcada pelo triunfo da democracia e da estabilidade. Quatro anos depois, o país afunda-se no caos: dois governos reivindicam, cada um, a sua legitimidade, isto para além dos vários grupos que ocupam parcelas mais ou menos significativas do seu território, onde estabeleceram centros de poder. Oficialmente, a Líbia continua a ser um estado reconhecido internacionalmente, mas trata-se de um estado onde, aparentemente, não reina nem a lei nem a ordem. O fim do regime de Kadafi não trouxe consigo a democracia e a legalidade. A ditadura foi substituída pelo caos.

Ora acontece que este cenário caótico não passou despercebido ao chamado “Estado Islâmico”, cujos líderes, pelo menos aparentemente, não pretendem ficar confinados ao território do Iraque e da Síria, até porque, do ponto de vista estratégico, a Líbia pode ter um enorme valor para a sua expansão em direcção à Europa. Aparentemente, os seus responsáveis já se deram conta de que, na situação em que se encontra, aquele país pode transformar-se rapidamente em centro de acolhimento e formação de militantes fanáticos, dispostos a tudo, até às maiores barbaridades, como aconteceu com a recente execução de duas dezenas de cristãos egípcios. O caos transformou-se em ameaça.

 

Data de introdução: 2015-03-08



















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