No preciso momento em que me sentei para começar a redigir esta crónica para o SOLIDARIEDADE, estou a acompanhar as várias reportagens que, em direto, estão a colocar-nos diante dos olhos e do coração, cenas de uma multidão de gente assustada, de ambulâncias a transportar vítimas de mais um atentado terrorista (a acrescentar aos já 721 que foram perpetrados, só neste ano)!
Apesar de alguns deles terem como cenário países e cidades menos mediatizados (fora da Europa), tem sido no coração de várias cidades europeias que os autores desta “nova geração de atos terroristas” (com recurso a meios exíguos, quase artesanais) estão a desafiar o potencial militar que tantas vezes é mostrado ao mundo, no pressuposto de que, desta forma, os “novos terroristas” pensarão duas vezes antes de perpetrarem mais atentados que têm merecido adjetivos como: desumanos, vis, selvagens!
Parece, porém, que a “razão da força=poder militar e bélico” não está a revelar-se dissuasora!
Mais e pior: o MEDO ameaça tornar-se uma “nova arma” capaz de nos obrigar a TODOS a repensar quase TUDO em relação a matrizes civilizacionais e a modelos de organização social, política, económica, cultural e até religiosa!
Com o devido respeito e consideração por todos os analistas e comentadores da nossa praça que encontram sempre um jeito de, muitas vezes, falarem muito mas sem dizerem nada, por falta de argumentos consistentes, permito-me sugerir um método de análise que, por norma, costuma ser bastante eficaz. Prevenindo a crítica de que estou a gerir um “conflito de interesses”, uma vez que este método de análise é muito inspirado no Cristianismo, informo que me estou a referir ao “discernimento”, que constitui um bom instrumento de análise na leitura que faz sobre os sinais dos tempos!
Permiti-me que, a este respeito, recorra a uma conferência notável de D. José Policarpo, já falecido, que teve como tema: “leitura dos sinais dos tempos: um olhar cristão sobre a História” e que, entre outras reflexões, produziu estas:
- “ler os sinais dos tempos não é uma questão de moda; é um desafio permanente aos discípulos de Cristo, que deve gerar uma contínua atenção ao sentido profundo da história, lida e interpretada a partir da fé”;
- esta leitura assenta em alguns pressupostos, tais como, e antes de mais: “a unidade de toda a Humanidade, a única família humana, criada por Deus com amor. Neste tempo de globalização, a unidade da família humana é um elemento central da mutação cultural”.
Esta unidade de toda a Humanidade começa a tornar-se consciência de um património universal comum a todos os homens, que pode tornar-se fundamento ético, decisivo para a construção do diálogo, da harmonia e da paz”.
Admitindo que estamos num tempo de profunda “mutação cultural”, talvez façam sentido, esta e outras abordagens como esta, centradas num bom discernimento sobre o atual momento em que se encontra, tanto a Natureza como a HUMANIDADE.
Já vivemos o tempo em que se decretou a “MORTE DE DEUS”!
Depois, veio a “Era do VAZIO”.
Há uns anos que, através do crime da expulsão de milhões de cidadãos das suas pátrias, no que veio a designar-se como o drama humano dos “REFUGIADOS”, recordámo-nos da famosa parábola do “FILHO PRÓDIGO”, mas, neste caso, com uma diferença: o filho não saiu da casa por sua vontade, mas dela foi expulso!
Agora paira no Mundo um sentimento de “ORFANDADE”.
São precisos mais “sinais”? Queremos repetir a triste história de Abel e Caim?
Pe. José Maia
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