Que um governo norte-americano fique temporariamente inoperacional, por via da não aprovação do seu orçamento, não constitui propriamente uma novidade. Que uma crise deste género tenha origem no projecto governamental da construção de um muro que impeça ou dificulte a imigração ilegal para os Estados Unidos é que já é uma novidade.
Para além isso, trata-se de uma novidade que muito tem contribuído para prejudicar a imagem internacional dum país que, apesar de tudo, ainda continua a ser uma superpotência mundial.
Deve dizer-se que a imigração para os Estados Unidos não precisou da construção de um muro, sobretudo de um muro com a extensão já anunciada, para se tornar muito mais difícil do que já foi. O que aconteceu é que recentemente a Comunicação Social mostrou ao mundo a impressionante caravana de migrantes centro-americanos que pretendiam chegar à América do Norte para fugir às amargas condições sociais em que viviam nos seus países, nomeadamente as Honduras, a Guatemala e El Salvador. Nessa longa e difícil caminhada teriam de passar pela fronteira do México com os Estados Unidos e, mais concretamente, pela cidade Tijuana que a Comunicação Social tornou famosa em pouco tempo.
Tijuana situa-se junto à fronteira do México com os Estados Unidos, pelo que funcionava como ponto de passagem para todos aqueles que, na América Central, acalentavam o sonho de viver num país que lhes poderia dar a possibilidade de construir uma vida melhor. A proximidade da fronteira dava mais força a esse sonho que muitos dos seus conterrâneos já haviam conseguido realizar. Só que, em 2016, os norte-americanos escolheram um novo presidente e este não deixou dúvidas acerca das alterações que iria introduzir na política migratória do seu governo.
Dando cumprimento às promessas feitas durante a sua campanha eleitoral, Donald Trump tornou essa política muito mais restritiva, pelo que a hipótese de atingir o tão ansiado sonho americano iria tornar-se muito mais difícil de alcançar. Temendo que as alterações defendidas pelo novo presidente se concretizassem e se tornassem irreversíveis, milhares de centro-americanos, homens e mulheres, novos e velhos, começaram a juntar-se e iniciaram, em S. Pedro de Sula, nas Honduras, uma longa caminhada, rumo à conquista do sonho. Talvez estivessem convencidos de que seria impossível a qualquer governo resistir à força mediática de uma invasão pacífica, protagonizada por uma enorme multidão que apenas reclamava pela abertura de fronteiras. As imagens desta nova peregrinação chegaram a nossas casas durante muitos dias.
Só que, pelo menos até agora, essas fronteiras não se abriram e o presidente ameaça mesmo fechá-las com um muro cujo extensão e tamanho envergonham o seu país. A única esperança é a de que o braço de ferro que republicanos e democratas travam no Senado, sobretudo por causa do seu custo, possa abrir algumas brechas num novo muro da vergonha...
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