Durante muitos anos, o nacionalismo foi entendido como uma das manifestações da afirmação de qualquer povo no mundo. Embora não se trate de conceitos totalmente idênticos, a verdade é que, sem essa afirmação, seria difícil chegar à descoberta de uma pátria e, muito menos ainda, à reivindicação de um estado. Certamente por isso, o nacionalismo foi visto, quase sempre, como um conceito respeitável e até louvável, a não ser quando assumia expressões claras de radicalismo ou violência. Em contrapartida, nos tempos que correm, o ideal nacionalista passou, a ser visto com desconfiança, senão mesmo com temor.
A preocupação com o regresso do nacionalismo ao mapa das grandes questões da actualidade internacional tornou-se mais visível no Ocidente, e particularmente na Europa, área do mundo que nos toca mais de perto e onde são mais visíveis os sinais desse regresso. As últimas eleições europeias vieram confirmar a justeza dessa preocupação, mesmo que os seus resultados, se exceptuarmos a França, a Itália e a Hungria, não tenham sido tão negativos para os europeístas, como se chegou a temer. Mesmo assim, foram resultados suficientemente relevantes para se poder dizer que o nacionalismo de carácter populista é hoje suficientemente forte para desafiar qualquer projecto de construção europeu.
Importa lembrar, no entanto, que os problemas levantados pelo ressurgimento do nacionalismo estão longe de se confinar à Europa. Uns dias antes do sufrágio europeu, tiveram lugar na Índia eleições legislativas, e os seus resultados traduziram-se numa estrondosa vitória do partido nacionalista hindu, que já vencera em 2014 e que, por isso, vinha liderando, desde então, o governo de Nova Deli. O resultado desta última consulta popular foi verdadeiramente histórico por se ter traduzido numa derrota ainda mais pesada para o partido do Congresso que, desde a independência do país em 1947, vinha dominando a vida política da Índia.
Apesar de todos os problemas que se colocam ao governo de um país multiétnico com mais de três milhões de quilómetros quadrados de superfície e mais de mil milhões de habitantes, os governos oriundos do partido fundador do estado indiano, e agora derrotado, conseguiram fazer da República da Índia, não obstante o seu nível de pobreza, a sétima potência económica do mundo. O mais importante a assinalar nesta altura é, no entanto, assinalar que esses governos conseguiram manter, ao longo do tempo, uma fidelidade notável a um sistema democrático que garantiu sempre o respeito pelo pluralismo político e religioso do seu povo. Só que, e infelizmente, o claro triunfo de um partido nacionalista, de fundamentação religiosa, que faz do hinduísmo a marca identitária do país levanta muitas dúvidas acerca da continuidade desse pluralismo. Muçulmanos e cristãos, por isso têm fortes motivos de preocupação.
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